Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 24 de abril de 2012

O jogo do Democratas

Terça, 24 de abril de 2012 
Por Ivan de Carvalho
Há coisas mais importantes acontecendo no país, mas, pelo critério da preferência pela proximidade, cumpre não ignorar hoje o evento produzido ontem à tarde pelo Democratas no centro de convenções do Hotel Fiesta, com o máximo de representação nacional do partido que se poderia esperar.

            Evidentemente o DEM teve alguns objetivos políticos para produzir o evento. Um deles foi marcar que a disputa pela prefeitura de Salvador é, se individualizado, o objetivo prioritário do partido nas eleições deste ano. Isto funciona como uma mensagem de interesse do Democratas na cidade e no cidadão de Salvador.

O DEM explicita, menos com palavras que com esse amplo encontro na capital baiana, que tem grande interesse na cidade e em sua população (especialmente a eleitora) e, ao mesmo tempo, pede da cidade e de seus eleitores especial atenção para o deputado ACM Neto, que se apresta a concorrer ao mandato de prefeito.

Um outro objetivo evidente do Democratas com o ato político realizado ontem, que lhe exigiu uma boa dose de esforço, é deixar claro que tem o maior interesse em que o deputado ACM Neto represente o partido na disputa pela prefeitura e realmente suceda ao prefeito João Henrique.

Um óbvio corolário do que foi exposto é que o DEM está, com esta fixação de seu foco eleitoral individualizado principal em Salvador, emitindo um sinal forte e direto para o PSDB. Não se trataria aí, somente, do apoio do DEM à candidatura tucana de José Serra a prefeito de São Paulo, como tanto se tem comentado. O sinal tem significado mais amplo: trata-se da persistência da tradicional aliança PSDB-DEM (que antes era PSDB-PFL) em nível nacional.

E não somente no Congresso Nacional, onde ela é praticamente obrigatória, por estarem os dois partidos formando ainda o núcleo da oposição. O significado mais amplo é o da persistência da aliança em eleições para governadores e, principalmente, para a presidência da República.

O corolário acima referido e descrito é certamente responsável pelo ponto B da nota oficial da Executiva Estadual do PSDB, emitida no domingo, quando diz que os tucanos continuam conversando com o PMDB em busca da unidade das oposições, mas recomenda à Executiva Municipal tucana que atue de modo a “evitar candidaturas concorrentes” com o DEM para a prefeitura de Salvador. Uma maneira supostamente esotérica de dizer que, lançando o DEM candidato a prefeito, não deverá o PSDB fazê-lo.

Outro objetivo do DEM foi o de acelerar o processo e reforçar, com o evento político de ontem, a posição política e popular de ACM Neto, que deseja, naturalmente, continuar crescendo nas pesquisas eleitorais.

“O momento de definição chegou. ACM Neto, atenda o pedido do seu partido e aceite ser candidato a prefeito de Salvador”, disse em discurso o presidente nacional da legenda, senador Agripino Maia. No entanto, ele ressalvou que as conversas com os demais partidos de oposição na Bahia, PSDB, PMDB e outros, não sofrem interrupção e vão continuar. Já ACM Neto garantiu que o esforço pela unidade vai continuar e que pretende obter uma aliança de dez partidos.

O mais difícil para o DEM é atrair o PMDB para apoiar seu candidato, devido às fortes ligações do PMDB com o governo Dilma Rousseff. PMDB que, entre outras coisas, tem Michel Temer como vice-presidente da República.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.