Por Ivan de Carvalho

A presidente Dilma Rousseff
se assustou. A CPI poderia, querendo atingir políticos e partidos da oposição –
um dos objetivos de Lula – atingir também partidos da base do governo e
políticos a eles vinculados. Exemplo? Noticiou ontem à noite o Blog do Noblat
que o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, autorizara a abertura de processo
contra três deputados federais por Goiás envolvidos no caso Cachoeira: Carlos
Alberto Leréia, do PSDB, Sandes Júnior, do PP e Rubens Otoni, do PT. Os três de
Goiás. Um partido da oposição, um partido aliado do governo e o partido no
governo.
Mas não é
só isto. A CPMI poderia e pode atingir diretamente o governo, não havendo como,
até aqui, fixar limites para as áreas e níveis da administração federal e de
administrações estaduais nas quais o ventilador vai lançar o que jogarem nele.
A presidente conversou com Lula, mas não conseguiu fazê-lo desistir da CPMI,
pois além de algumas específicas vinganças (contra o governador tucano de
Goiás, Marconi Perillo, especialmente), a dupla Lula-Dirceu espera, mais do que
tudo, que a CPMI desvie o foco da mídia e da população do processo do Mensalão,
a ser julgado no STF.
E o que vão jogar no ventilador?
Ora, isso todo mundo sabe, trata-se de expressão de conhecimento geral, de
“política pública”, se o PT, patrocinador da CPMI, assim preferir. Mas uma CPMI
não é lugar de sofisticação nem de eufemismos.
Tanto isso é verdade que já se divulgou uma
rápida historinha segundo a qual um senador de longo curso, inclusive no trato
de CPIs e CPMIs, visitou, ainda no hospital, o ex-presidente da República e
quase perene presidente do Senado, José Sarney, que ontem recebeu alta. Observou
o visitante que ambos são bambas no tema e perguntou a Sarney qual ele acha que
será o resultado da CPMI. “Merda”, respondeu o Marimbondo de Fogo do Maranhão,
ato contínuo aplicando a si mesmo e ao colega uma exímia ferroada: “E a nós
caberá limpá-la”.
Para os lados do governo, na parte do iceberg
visível até agora, o principal problema é a empresa Delta Construções S/A,
comandada por um tal Fernando Cavendish. Está tão enroscada com o empresário
bicheiro Carlinhos Cachoeira quanto com as obras do PAC e seus inumeráveis
aditivos. É a empreiteira predileta do PAC, um programa que no governo Lula era
comandado pela atual presidente Dilma Rousseff e que ainda é o amor
administrativo dela, embora tocado por diversos setores do governo.
Outra historinha. A 1ª vice-presidente do Senado,
Marta Suplicy, ex-prefeita paulistana e de quem o PT espera um reforço
importante para seu candidato a prefeito de São Paulo, de acordo com o Radar on line, de Lauro Jardim, recebeu
um lauto reforço da Delta Construções para sua campanha eleitoral para
prefeita, em 2004 – R$ 415 mil doados ao comitê de campanha do PT na capital
paulista. Uma grande parte, portanto, do total de 1,7 milhão que a Delta
distribuiu a candidatos e partidos em todo o país.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.