Quinta, 13 de julho de 2017
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Alex Rodrigues- Repórter da Agência Brasil*
Um mês e meio após dez pessoas
serem mortas durante uma ação de reintegração de posse de uma fazenda
do sudeste do Pará, a secretaria estadual de Segurança Pública e Defesa
Social (Segup) e a Polícia Civil paraense admitiram que as investigações
e laudos periciais apontam que, ao contrário do que afirmam os
policiais que participaram da ação, não houve confronto com os
posseiros, que podem ter sido executados. No começo da semana, o Ministério Público estadual já tinha apontado indícios de que as vítimas foram executadas.
“Se
juntarmos todos os laudos, não tenho dúvida de que não houve confronto
[…] Pelo que foi apurado, tudo indica que não houve confronto e, sim, um
desfecho inaceitável”, disse o delegado-geral, Rilmar Firmino, durante
entrevista coletiva no final da tarde desta quarta-feira (12). Durante a
entrevista, Firmino; o diretor do Centro de Perícias Científicas Renato
Chaves, Orlando Salgado e o secretário estadual de Segurança Pública e
Defesa Social, Jeannot Jansen, apresentaram a jornalistas o resultado do
laudo de balística feito nas armas de fogo entregues por policiais e
nas 11 que as forças policiais apresentaram como tendo sido apreendidas
com os sem-terra que ocupavam parte da fazenda Santa Lúcia, na cidade de
Pau D’Arco (PA). Ao todo, foram periciadas 53 armas.
O exame de
microcomparação balística permitiu aos peritos identificar parte das
armas com as quais foram efetuados disparos durante a operação de
reintegração de posse. E concluir que ao menos duas pessoas morreram em
virtude dos ferimentos causados pelos projéteis de uma arma da Polícia
Civil. Outra vítima fatal foi atingida por tiros de uma arma da Polícia
Militar. Outros cinco sem terra foram mortos com tiros de uma pistola
calibre ponto 40 que não está entre as 53 periciadas e que as
autoridades ainda não sabem dizer quem a estava portando.
Os
peritos afirmam não ter conseguido identificar de onde partiu o tiro que
matou a presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais de Pau
D'Arco, Jane Júlia de Oliveira, pois os projéteis são de uma arma de
cano longo, o que não possibilita o exame de microcomparação. Dos dez
sem-terra mortos na ação, sete faziam parte da família de Jane: seu
marido, Antonio Pereira Milhomem, além de Nelson Souza Milhomem;
Regivaldo Pereira da Silva; Ronaldo Pereira de Souza, Weclebson Pereira
Milhomem e Weldson Pereira da Silva. Os outros três posseiros mortos são
Bruno Henrique Pereira Gomes, Hércules Santos de Oliveira e Ozeir
Rodrigues da Silva.
Nenhum policial se feriu durante a operação, o
que gerou suspeitas de que a versão de que os sem-terra receberam os
agentes de segurança a tiros pode ter sido combinada. No primeiro
momento, no entanto, a Segup e autoridades policiais trataram o caso
como um confronto entre policiais e sem terra,
motivando críticas de lideranças e entidades sociais e do Conselho
Nacional de Direitos Humanos. Críticas foram rebatidas pelo titular da
Segup, Jeannot Jansen.
“A população é testemunha da nossa
determinação e da busca incansável de celeridade. Evitamos precipitações
desnecessárias, buscando sempre prudência a fim de que a verdade seja
definitivamente esclarecida. Temos tido isenção total na busca
incessante das provas e laudos, com o rigor necessário para a apuração
completa e transparência”, afirmou o secretário, garantindo que as
autoridades paraenses são capazes de encontrar a verdade e se
necessário, “reconhecer que alguns dos agentes traíram o Estado e agiram
de forma diferente do padrão e orientação estabelecido”.
A Segup já encaminhou os laudos para o Ministério Público estadual e para a Polícia Federal, que também está apurando o caso. A Polícia Civil garante que concluirá em breve o inquérito.
“Com
os exames balísticos, a reprodução simulada [realizada e outros
componentes do inquérito, vamos ter condições de confrontar as versões e
individualizar a conduta de cada participante para responsabilizarmos
criminalmente quem cometeu os delitos”, declarou o delegado Rilmar
Firmino.
Nesta segunda-feira (10), 11 policiais militares e dois
policiais civis acusados de participar do que vem sendo chamado de
Chacina de Pau D´Arco foram presos em caráter preventivo, por
determinação da Justiça paraense. Os 13 policiais estão recolhidos em
Belém. As prisões temporárias foram solicitadas pelo promotor de Justiça
Alfredo Amorim - um dos quatro promotores que conduzem a investigação
especial – e autorizadas pelo juiz da Vara Criminal de Redenção (PA),
Haroldo Silva da Fonseca. Os PMs estão custodiados em quartéis da
própria corporação, na capital paraense, e os policiais civis, no
quartel do Corpo de Bombeiros.
* Com informações da SEGUP