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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Parir no Centro Obstétrico do HRG é um sagrado direito da mulher, decide o Conselho Regional de Saúde do Gama ao proibir o fechamento da unidade. Mas vigiar é preciso

Quinta, 20 de julho de 2017
Do Gama Livre
Por Taciano
Em reunião que durou em torno de quatro horas, o Conselho Regional de Saúde do Gama (CRSG), em decisão histórica, decidiu ontem (19/7) proibir que seja fechado o Centro Obstétrico do Hospital Regional do Gama (HRG). Gato escaldado, dizem, tem medo de água fria. E escaldada está toda a comunidade do Gama, depois da “reforma” e fechamento definitivo do Pronto Atendimento Infantil (PAI) do HRG.

A reunião desta quarta-feira, como toda reunião ordinária de Conselho Regional de Saúde, é aberta à população, que tem direito à voz. Já o voto é prerrogativa exclusiva dos membros do conselho.

A convocação do Conselho Regional de Saúde do Gama (CRSG) foi para discutir e decidir sobre o fechamento do Centro Obstétrico do Gama e a transferência do atendimento a parturientes e seus bebês para o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM).

Gato escaldado tem medo de água fria

Assunto explosivo, até pelo desastroso caso ocorrido no final do ano passado e início do atual ano de 2017 com o Pronto Atendimento Infantil (PAI) do mesmo HRG. Fechado em outubro de 2016, “reabriu” em fevereiro com festa, descerramento de placa, discursos (vazios, mas discursos). Pouco mais de um mês após a festa, foi fechado definitivamente, prejudicando milhares de crianças e suas famílias. Ainda hoje vemos mães carregando nos braços suas crianças doentes se dirigirem ao PAI do HRG. Cara na porta e choro. Das crianças e das mães. E peregrinação por outros hospitais. E, certamente, algumas mortes.

Mas o foco desta postagem é o Centro Obstétrico do HRG. Então vamos lá.

A partir do último sábado (15/7), o assunto fechamento do Centro Obstétrico do HRG virou notícia, inclusive na internet. Blogues, sites, jornais e redes de TV etc. explodiram para a população o risco do fechamento dessa unidade do hospital. Anteriormente, reuniões entre as equipes do HRSM e HRG ocorreram para tratar do fechamento e da consequente transferência de parturientes e bebês para o hospital de Santa Maria (HRSM). A última dessas reuniões ocorreu na quinta da semana passada, 13 de julho (veja aqui).

Mas como tudo feito em segredo sempre vem a público, o assunto tomou as ruas, sacudiu a população, preocupou as pessoas, principalmente as do Gama. Começou, então, a reação. Inclusive, se percebeu isso da parte do Conselho Regional de Saúde do Gama que estava sendo atropelado, até relativamente ignorado, nessa tomada de decisão estapafúrdia da Secretaria de Saúde do DF. Decisão de tamanha importância e impacto para a comunidade do Gama, e também de Santa Maria, visto que o HRSM sofreria as consequências de uma super demanda de pacientes no centro obstétrico.

Durante a reunião de ontem (19/7) do Conselho Regional de Saúde do Gama, deu para notar de modo cristalino que tanto a comunidade presente e a maioria dos conselheiros —a totalidade dos conselheiros representantes dos servidores e usuários do sistema público de saúde— não engoliram a pílula amarga, e falsamente dourada, das explicações do governo. Os gestores do GDF até que tentaram explicar. Mas tem hora que explicar o inexplicável não funciona.

Em que pese o pequeno, vago, e impreciso texto enviado pelo governo do DF a alguns órgãos de imprensa, incluídos blogues e sites, tentando convencer de que o Centro Obstétrico não fecharia, quase ninguém  na reunião de ontem (19/7) no Gama levou a séria as informações de tal release e, também, as colocações daqueles membros do CRSG representantes do GDF.

Por isso falamos em “quase ninguém”. É porque é necessário dar algum crédito à sinceridade de opinião de representantes da gestão do governo do DF no CRSG. É possível que alguns desses realmente acreditassem no que ali era dito, ou dizia, seguindo a orientação da administração do sistema público de saúde.

Depois de quase quatro horas de discussão, e até alguns empurrões de um grupo de pessoas —verdade que fora do auditório— contra orador que fez críticas contundentes e sugeriu até que a comunidade teria que ir para a rua, para a frente do HRG, defender o não fechamento do Centro Obstétrico, chegou a hora dos conselheiros decidir. E por maioria absoluta, decidiu historicamente, e bravamente, proibir que a Secretaria de Saúde do governo Rollemberg, feche, mesmo quando da realização de alguma reforma, o Centro Obstétrico do Hospital Regional do Gama.

Decidido, agora é hora do Conselho Regional de Saúde do Gama vigiar. Vigiar é preciso.

Parir com dignidade, segurança, conforto, toda mulher merece. Pois parir é um ato de amor, um ato divino. Há gente que acha que não. Mas é!