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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Aborto e ambiente

Quarta, 16 de dezembro de 2009
Por Ivan de Carvalho
Apesar de atuar na contramão do que deseja seu filiado e ministro da Cultura, o Partido Verde decidiu que terá candidato próprio a governadores. Na Bahia, está decidido que este candidato será o deputado Luiz Bassuma, presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Vida, Contra o Aborto.
Luiz Bassuma foi condenado pelo PT, que tem posição oficial a favor da liberação do aborto. Ele não admitiu essa intervenção do PT em sua consciência e em suas convicções religiosas e desligou-se da legenda.
    De repente, por outros motivos, sai do PT e ingressa no PV a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que sem demora se torna candidata a presidente da República. Marina Silva é evangélica e, como tal e por convicção pessoal, também é, como Luiz Bassuma, contrária à liberação do aborto.
    Sua candidatura presidencial não tem chance de vitória eleitoral. Mas tende a instaurar, talvez necessariamente instaure, dois debates importantes na campanha para a presidência da República.
    Um deles, a questão do meio ambiente, à qual, como a tantas outras, o governo federal dá uma importância irrelevante se considerada à que o assunto merece. Basta ver a estrutura montada para combater o desmatamento da Amazônia com a estrutura que seria adequada para obter bons resultados e se terá uma idéia da desconsideração oficial em relação ao assunto.
Marina Silva deverá insistir nesse tipo de coisa e a candidata do PT, Dilma Rousseff, já percebeu o perigo. Daí as declarações incisivas de Rousseff sobre o meio ambiente, em Copenhague. Some-se ao tom um tanto irado das declarações da candidata petista o fato de que mais apropriado seria falarem sobre o assunto, na capital da Dinamarca, os ministros do Meio Ambiente e das Relações Exteriores, além, claro, do presidente Lula. Dilma estava lá fazendo campanha eleitoral. O fato de Marina Silva, como Dilma Rousseff, também ser uma mulher incomoda a candidata petista.
O outro debate relevante que a candidatura de Marina Silva deverá suscitar será sobre o aborto, o direito à vida da pessoa ainda não nascida, que está no ventre da mãe aguardando o tempo da natureza, em contraposição ao suposto direito da mãe de fazer o que quiser com o próprio corpo.
Com o próprio corpo, pode-se até discutir. Mas tentar justificar e liberar a imposição de sentença de morte a outra pessoa, indefesa e inocente, o nascituro, está bem pra lá de escandaloso e criminoso. Marina dirá que é contra esse crime, espero que o faça com a maior insistência possível e exija, com a mesma insistência, que seus concorrentes – Dilma, Serra ou Aécio, Ciro e mais quem houver – digam ao eleitorado, sem disfarces, quais suas disposições a respeito.
Luiz Bassuma, que entra como candidato a governador da Bahia com a missão de construir um palanque para Marina em nosso estado, deve fazer o mesmo em relação aos seus concorrentes na Bahia e tem boas condições de ajudar a candidata do PV à presidente a sustentar este debate em âmbito nacional.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta-feira.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.