Quarta, 26 maio de 2010
Por Ivan de Carvalho

Por tudo que se tem dito nos dias recentes, não seria sequer necessário, para se entender o real objetivo do almoço, que o blog Política Livre publicasse os nomes dos 15 dos 19 membros da executiva estadual que deram apoio à candidatura de Walter Pinheiro a senador, no confronto ora ainda existente com a candidatura do ex-governador e ex-ministro Waldir Pires, a quem os comensais se esmeraram em degustar, com requintes de canibalismo político.
Além dos 15 nomes citados pelo referido blog e dos prefeitos petistas, outras figuras gradas, ou graúdas, do governismo, estiveram lá dando seu apoio à candidatura de Pinheiro. Uma delas foi o ex-governador e candidato a vice-governador Otto Alencar. Do PT, cito apenas dois nomes, o suficiente para marcar com extrema precisão a posição da cúpula do partido e do governo: o presidente estadual do PT, Jonas Paulo e o coordenador da campanha do governador Jaques Wagner à reeleição, o prefeito de Camaçari Luiz Caetano.
Para completar, a assessoria do deputado Nelson Pelegrino, que aspirou à vaga para o Senado, mas na prática já entregara os pontos, emitiu nota, afirmando que Pelegrino comunicou ao governador Wagner e ao presidente do PT, Jonas Paulo, a retirada de sua pré-candidatura a senador. (Resolveu apoiar Pinheiro). A nota não diz se Pinheiro se comprometeu ou não com Pelegrino a não tentar concorrer à prefeitura de Salvador em 2012 e ficar pensando apenas na eleição de governador de 2014, naturalmente se for eleito senador em outubro próximo, o que muitos petistas dão como favas contadas. A nota não faz qualquer referência a essa questão, de modo que há ainda de ser investigado se Pelegrino se entregou ou negociou.
O governador não foi ao encontro, mas o coordenador de sua campanha, Luiz Caetano, deu o recado: “Iniciaria uma ‘reflexão’, caso fosse ‘o pessoal que está apoiando o nome’ do ex-governador Waldir Pires no PT para a mesma disputa” – isto é, em oposição ao deputado Walter Pinheiro. A palavra “reflexão” não foi posta aí por Caetano casualmente, mas como uma ostensiva ironia. Ante decisões ou situações complexas, Waldir Pires costuma dizer que é preciso fazer uma “reflexão”.
Ante o exposto e o que o espaço de que disponho não é suficiente para expor, minha conclusão é que Waldir Pires, com os seus 84 anos, a sua história de bravo e a sua biografia como uma pedra preciosa sem jaça, está entre ser David ou Leônidas. Se vencer, terá sido David. Se perder, terá obtido a inesquecível “derrota” de Leônidas, que em nada manchou, mas marcou indelevelmente na história a vitória do rei de Esparta.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.