Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Escalada na insegurança

Sexta, 7 de maio de 2010 
Por Ivan de Carvalho
Toda a Bahia já sabe, mas não quero deixar de mencionar. Na noite de quarta-feira, no bairro nobre de Itaigara, cinco assaltantes armados invadiram uma churrascaria onde 70 pessoas haviam se reunido para comer, beber e ver pela televisão um jogo de futebol entre o Vasco e o Vitória. Ficaram durante dez minutos recolhendo das pessoas e da casa comercial tudo o que julgaram de valor aceitável e ameaçando as pessoas, apontando-lhes as armas.
Sorte que ninguém esboçou reação e os assaltantes não pareciam drogados, de modo que ninguém foi morto ou ferido. Azar que antes de dar o fora eles resolveram levar a televisão e ninguém mais pôde ver o jogo. Imagino que, se não levassem a TV, haveria pessoas que sentariam calma e resignadamente em seus lugares para continuar curtindo o futebol – pessoas que sentiriam o assalto como um fato da rotina da cidade, desses que não devem perturbar a rotina das pessoas. Os assaltos a bares, restaurantes e similares se tornaram tão freqüentes – um alvo predileto é o Rio Vermelho – que se não for ainda assim, em breve a exceção será não haver assalto.
Talvez continuar vendo o jogo fosse mesmo o melhor a fazer, já que depois de alguém ir em casa buscar um celular (os bandidos tinham roubado todos) para as vítimas bloquearem seus cartões de crédito, as pessoas foram à delegacia – e lá não havia delegado, que tinha ido curtir a noite com a esposa em outros lugares.
O episódio ocorrido no bairro do Itaigara na noite de quarta-feira parece, no entanto, o salto da ação dos bandos criminosos para um novo estágio. Um pouco por causa do local, mas principalmente por causa do grande número de pessoas assaltadas de uma só vez. Era considerado pelos assaltantes inseguro para eles investirem contra lugares com muitas pessoas. O controle não é fácil nessas situações e fatos imprevistos podem ocorrer. Isso era o que pensavam os bandidos e, talvez, as autoridades. Sugiro que mudem seus paradigmas de raciocínio e avaliação quanto a isso. Público numeroso já é alvo válido.
    Não se constrói segurança com uma varinha de condão, com mágica. Todo mundo sabe disto e o governador Jaques Wagner não se cansa de lembrar esse fato, sempre que confrontado, em entrevistas à imprensa, com o problema da insegurança pública, da criminalidade, da violência.
    Não se constrói segurança com varinha de condão, mas se constrói segurança. Ou, pelo menos, se reduz drasticamente o grau de insegurança. Isso tem ocorrido em alguns lugares. Não vou fazer aqui uma relação deles, apenas lembro Nova York e acrescento que, no Brasil, conseguiram-se resultados expressivos em São Paulo.
    Mas no Brasil esses resultados expressivos de redução da insegurança e da criminalidade não são a regra, mas a exceção. E isto justifica, ao meu ver, pelo menos, o anúncio do candidato do PSDB a presidente, o ex-governador paulista José Serra, de que se eleito vai criar um Ministério da Segurança Pública e – mais importante – empenhar a fundo a União no combate ao crime, não deixando o problema quase que exclusivamente sob a responsabilidade dos Estados. A segurança se imporá como prioritária, queira ou não o governante.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.