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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Crise esticada no PP

Quinta, 1 de setembro de 2011 
Por Ivan de Carvalho
Os esforços do ministro das Cidades, Mário Negromonte, do PP, para superar a crise que lavra em torno dele na bancada de seu partido na Câmara dos Deputados, ainda não surtiram os efeitos desejados, contrariando planos e previsões que eram feitos até o domingo ou mesmo talvez a segunda-feira.
 
     O inferno astral do deputado baiano e representante do PP em um dos mais importantes ministérios do governo Dilma Rousseff incluiu denúncias, como é de praxe, mas o problema maior até o momento é a divisão na bancada do partido na Câmara dos Deputados.
 
      No governo Lula, o ministro indicado pela bancada para o mesmo cargo era Márcio Fortes, um nome que tanto Lula quanto Dilma Rousseff talvez preferiam ver mantido no cargo. Mas não é sempre assim que a música toca. A bancada do PP indicou para o Ministério das Cidades no governo Dilma Rousseff o deputado baiano e até então líder da bancada, além de presidente da seção baiana do PP, Mário Negromonte.
      
     Ficou bem claro. Negromonte foi para o cargo pela indicação da bancada. O governador Jaques Wagner foi ouvido a respeito pela presidente Dilma e deu o aval que não poderia mesmo negar, pois o PP integra a base política do governo Wagner. E na Bahia o PP pode ser sintetizado em dois nomes, dos deputados Mário Negromonte e João Leão. O restante é complemento, ainda mais porque o vice-governador Otto Alencar, após uma passagem-relâmpago pelo PP, deixou a legenda para fundar o PSD.
 
     Aconteceu, no entanto, uma coisa incomum na bancada do PP na Câmara. Uma espécie de recall da escolha do líder que sucedeu a Negromonte. Mais de metade da bancada do PP decidiu dispensar da função o líder que nela fora posto com o apoio de Negromonte, a quem era fiel, e substituí-lo pelo deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro, ligado ao ex-ministro das Cidades, Márcio Fortes.
 
      Negromonte reagiu ameaçando com uma espécie de guerra fratricida na bancada, advertindo que em guerra de família “irmão mata irmão”, que corre “sangue” e ameaçando abrir a “folha corrida” dos deputados do PP. Claro que indignação e medo se misturaram e acabou-se chegando à conclusão de que era melhor acabar com a briga.
 
      Marcou-se, então, um almoço da bancada para a terça-feira. Na ocasião, os aliados de Negromonte destituídos do comando da bancada reconheceriam Aguinaldo Ribeiro como seu líder. Houve o almoço, mas os mais próximos aliados do ministro não compareceram.
 
     Isto resultou no cancelamento do jantar que seria o segundo ato da reconciliação, quando toda a bancada iria declarar seu apoio a Negromonte, isto é, à sua permanência no ministério, consolidando assim uma posição que está um tanto instável, apesar dos beijinhos de Dilma e da pequena mas notada caminhada que fizeram juntos no Palácio do Planalto. 
     Os deputados não-alinhados a Negromonte na bancada, segundo um deles, esperavam uma retratação do ministro a respeito das declarações agressivas que fez em plena batalha, mas a retratação não aconteceu.
 
    As articulações para pacificar a bancada do PP na Câmara e uma parte dela com o ministro Negromonte serão retomadas, mas o que aconteceu – ou deixou de acontecer – ontem e anteontem confirma que ainda há fogo por baixo da fumaça.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.