Quarta, 14 de setembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

Talvez seja esta provável
impossibilidade que o haja obrigado a pagar a governanta Doralice Bento de
Souza como “secretária parlamentar”, com o dinheiro da Câmara dos Deputados, no
período de 2003 a 2010, durante o qual exerceu o mandato de deputado federal,
segundo reportagem agora publicada pela Folha
de S. Paulo.
Mas o ministro já tinha
treino. Quando estava no exercício do mandato, aconteceu uma festa (pode ter
sido uma festa de arromba, mas a prudência e a idade de Pedro Novais sugerem
cautela nesse tipo de especulação) em um motel e provavelmente ninguém teria
noticiado o fato, coisa da esfera privada, se não se houvesse descoberto que o
então deputado misturou a citada esfera com a esfera pública, ao requerer que a
Câmara dos Deputados pagasse a festança no motel com a verba indenizatória que
a lei (votada por ele e seus colegas congressistas) lhe dá direito para cobrir
despesas decorrentes do exercício do mandato.
Em um motel, deputado, é possível fazer-se
bastante exercício, mas dificilmente alguém poderá mover uma pena em função de
mandato popular que haja recebido dos eleitores. Quando a imprensa botou nas
ruas a notícia da festa, o já então ministro do Turismo resolveu devolver à
Câmara o dinheiro que pedira e com o qual liquidara a fatura da festa. Quanta
honestidade!
Mas não está sozinho no ramo de finanças
indiscretas o ministro Pedro Novais. Quem não se lembra de José Adalberto
Vieira da Silva? Na verdade, quase ninguém se lembra. Mas se escrevo que é o
cara dos dólares na cueca, aí todos se lembram, melhor, ninguém esqueceu.
Flagrado em São Paulo com R$ 200 mil na sacola e “mais de 100 mil dólares
dentro da cueca”, o cearense era assessor de José Nobre Guimarães, líder do PT
na Assembléia Legislativa do Ceará, membro do diretório nacional do partido e
hoje deputado federal. O site do PT no Ceará dizia que Nobre era o coordenador
da campanha de Lula em 2002 no Estado, por indicação do candidato.
Nobre declarou à imprensa que não tinha a menor ideia da razão que teria levado seu assessor a por mais de 100 mil dólares na cueca
(sem falar nos 200 mil reais da sacola), do mesmo modo que não sabia o que seu
assessor estava fazendo em São Paulo. Em tempo: Nobre é irmão de José Genoíno,
na época deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PT.
Mas ainda no ramo das finanças indiscretas – em
nosso país, vasto como um oceano – temos a registrar a celebre Dança do
Mensalão, maravilhosamente criada pela ex-deputada (ela perdeu, gente!) Ângela
Guadgnin para comemorar a absolvição do deputado João Magno, acusado de
mensaleiro, no autodefensivo plenário da Câmara.
Tem mais, muito mais, é claro. Voltaremos ao
assunto. Hoje encerramos com Alberto Fraga, que esteve sob fogo porque era
deputado federal pelo DEM do Distrito Federal, e mesmo licenciado para ser
secretário de Transportes de Brasília quem pagava a sua faxineira era a Câmara
dos Deputados. Ele deixou a conta de sua faxineira para o seu suplente, Osório
Adriano, também do DEM-DF. Interessante é que ele afirmou que não vê problema
em pagar empregada doméstica com verba do gabinete.
Sinceramente, eu também não vejo problema em dizer que o que ele fez é uma pouca vergonha.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.