Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 10 de novembro de 2012

A seca e as obras

Sábado, 10 de novembro de 2012
Por Ivan de Carvalho
O Ministério da Integração Nacional informa que o governo federal tem o plano de aplicação de R$ 3 bilhões em obras de prevenção para reduzir os efeitos das secas ou estiagens. Faz parte desse plano o pacote de obras que custará R$ 1,8 bilhões e que foi anunciado ontem em Salvador pela presidente Dilma Rousseff, durante encontro com governadores na 16ª reunião do Conselho Deliberativo da Sudene.

            O investimento de R$ 1,8 bilhão vai para 77 projetos em municípios do Semiárido que tiveram decreto de situação de emergência por causa da seca reconhecido   pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. Os governadores terão um poder importante nisso, pois a eles caberá indicar as obras a serem realizadas, que terão prazo de um ano e meio para conclusão da “primeira etapa”. 

Na primeira fase do plano federal,  a que será atendida pela dotação de 1,8 bilhão, a Bahia será o Estado a receber mais dinheiro, com R$ 454,9 milhões. É natural, por ter uma parte maior que a de qualquer outro Estado no semiárido e ter sido duramente atingido pela última seca.

Note-se, porém, que a presidente encontrou ontem, na Bahia, uma situação que pode ou não ser de transição para o fim da prolongada estiagem – as chuvas começaram a cair em alguns lugares no interior do estado. Claro que estamos exatamente na época em que as chuvas, na região, normalmente começam e alguma água haveria de cair do céu. Mas importa que isso não passe a impressão de que as coisas estão resolvidas, pelo menos por um tempo e o sentido de urgência do pacote de obras anunciado se perca nos meandros burocráticos e do processo de liberação dos recursos.

O dinheiro, mesmo o total de R$ 3 bilhões, já é pouco para o muito que é preciso fazer para reduzir o sofrimento econômico e humano produzido pelas secas no semiárido. Importa ter atenção para não deixar que a uma eventual recuperação dos mananciais e reservatórios corresponda um encurtamento do cobertor que o governo ontem informou estar disposto a estender. Recursos anunciados podem ser parcialmente cortados e muitas das obras canceladas se aquele sentido de urgência se perder.

Essa conversa de secas e de medidas de médio e longo prazos para atenuar seus efeitos já tem, afinal, pelo menos um século e do discurso oficial de tantos governos pequeno resultado se obteve se comparado à amplitude do problema. Se o sertanejo não fosse, antes de tudo, um forte, há muito estaria extinto.

CONCEITOS – “Puro populismo jurídico e uma séria violação aos direitos dos réus ainda não condenados, uma vez que o julgamento não acabou”. Foi assim que o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no processo do Mensalão que o Supremo Tribunal Federal está julgando, qualificou a decisão do ministro-relator Joaquim Barbosa de determinar a apreensão dos passaportes dos réus condenados.

            Ora, está claro que não é uma violação de direitos dos réus já condenados pelo pleno do STF, mas ainda sem trânsito das sentenças em julgado. O ministro-relator apenas adotou, a pedido do Ministério Público, uma medida cautelar. É que a situação desses réus, tendo em vista a evidência (ou, digamos, a probabilidade de quase 100 por cento) de que não sairão da Ação Penal 470 como inocentes, poderia levar algum deles ao impulso de fugir para o exterior. Cabe até lembrar, a título de ilustração, o banqueiro Salvatore Cacciola.

            Se não houve a violação de direitos, também não é aceitável a imputação arbitrária, sem prova, de que o ministro Barbosa fez “populismo jurídico”. Dirceu tem direito, sim, de dizer o que quiser em sua defesa jurídica ou política, mas a providência do ministro relator foi técnica e adequada. Populismo são outros que fazem.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano