Sábado, 10 de novembro de 2012
Do Estadão Online
Subcontratado por entidade ligada ao PC do B, João Batista Machado afirma que dinheiro que serviria para pagar alimentação de crianças foi parar nas mãos de políticos
10 de novembro de 2012 | 22h 15
O dono de uma empresa subcontratada para fornecer alimentos a
crianças atendidas por um programa de esportes do governo federal diz
que cerca de 90% dos R$ 4,65 milhões que recebeu dos cofres públicos
entre 2009 e 2010 foram desviados para políticos de Brasília, Santa
Catarina e Rio.
"Era tudo roubo. Vi maços de dinheiro serem distribuídos", afirma o
dono da JJ Logística Empresarial Ltda., João Batista Vieira Machado, em
entrevista exclusiva ao Estado.
Machado diz que foi usado em um esquema montado para fraudar o
Segundo Tempo, programa do Ministério do Esporte que atende crianças em
atividades físicas em horário extraescolar.
A microempresa sediada no município de Tanguá, na região
metropolitana do Rio, foi subcontratada pelo Instituto Contato, entidade
sem fins lucrativos dirigida por integrantes do PC do B de Santa
Catarina que mantinha dois convênios com o Ministério do Esporte.
Machado tinha de fornecer lanches para as crianças.
O dono da JJ Logística, porém, afirmou ao Estado ter fornecido
alimentos cujo valor atingiu apenas R$ 498 mil. Os outros R$ 4,15
milhões saídos dos cofres públicos federais que teriam de ser usados
para o fornecimento de lanches para as crianças acabaram desviados "para
fins políticos", segundo as palavras de Machado.
Irregularidades no Programa Segundo Tempo já custaram o cargo do
então ministro do Esporte Orlando Silva, demitido pela presidente Dilma
Rousseff em outubro do ano passado - a pasta hoje é comandada por Aldo
Rebelo, também do PC do B. No último dia 7 de outubro, Orlando não
conseguiu se eleger para o cargo de vereador de São Paulo.
O dono da JJ Logística aponta como responsáveis pelos desvios a ONG
catarinense que a subcontratou e o empresário José Renato Fernandez
Rocha, o Zeca, ex-assessor parlamentar do deputado federal Dr. Paulo
Cesar (PSD-RJ).
"O dinheiro vinha do Ministério do Esporte para a ONG de Santa
Catarina, que passava para cá. Daqui sacava o dinheiro e mandava de
volta para Brasília e Santa Catarina. Retornava o dinheiro todo", afirma
o empresário. "O José Renato (Fernandez Rocha) sacava o dinheiro,
colocava numa sacola e levava tudo embora para Brasília e Santa
Catarina", diz o dono da JJ Logística, que alega não saber exatamente
para quais políticos o dinheiro era encaminhado.
Um terceiro personagem, identificado pelo denunciante como Wellington Monteiro, era o articulador entre as pontas do esquema no Rio, Brasília e Santa Catarina.