Quinta, 4 de agosto de 2016
Karine Melo – da Agência Brasil
Karine Melo – da Agência Brasil
Por 14 votos a 5, a Comissão do Especial do Impeachment do
Senado aprovou o relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG),
favorável ao prosseguimento do processo e ao julgamento da presidenta
afastada Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Com isso, a
comissão encerra os trabalhos. Como já havia antecipado que faria desde
que assumiu o colegiado, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) foi único que
não votou.
No julgamento final, os
senadores terão de decidir se Dilma será afastada definitivamente do
cargo e ficará inelegível por oito anos. Para aprovação, são
necessários, no mínimo, 54 votos, em votação no plenário do Senado.
Pró-impeachment
Antes
da votação do relatório, os senadores titulares e líderes de partidos
tiveram cinco minutos para defender suas posições e a maioria aproveitou
para justificar e antecipar o voto. O primeiro inscrito foi o senador
Ricardo Ferraço (PSDB-ES). Segundo ele, o relatório de Anastasia “grita,
berra e materializa todos os fatos relacionados com os crimes cometidos
pela presidente afastada”. Para Ferraço, a política fiscal de Dilma fez
o país mergulhar em sua mais complexa crise econômica.
Também
favorável ao relatório do tucano, o ex-ministro da Integração Nacional
de Dilma, Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), disse que seu voto "sim" é
um "voto de esperança na reconstrução do Brasil". O senador pernambucano
acrescentou que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi "claramente
ferida" pelo governo Dilma para obter a reeleição.
O líder
tucano, Cássio Cunha Lima (PB), foi na mesma linha. Ele afirmou que “os
crimes do governo Dilma” foram cometidos com propósito político. Ao
defender que o processo contra a petista seja concluído ainda este mês,
Cunha Lima destacou que "a agonia do país não pode durar mais". Sobre as
declarações dos defensores do mandato da presidenta afastada, o senador
encerrou a fala com a seguinte frase: "Não vai ter golpe, vai ter
impeachment".
Contrários
Em defesa do
mandato de Dilma Rousseff, o senador Humberto Costa (PT-PE) comparou o
momento atual do Brasil a uma "repetição farsesca" do golpe de Estado de
1964, que segundo ele, se justifica "pelo combate à corrupção reclamado
pelos corruptos". Costa disse ainda que a presidenta afastada não
cometeu crime e que os decretos de créditos suplementares, alvo do
processo, "jamais justificariam" a retirada de um presidente.
Na
contramão dos próprios colegas de partido, bastante exaltada, a
ex-ministra da Agricultura de Dilma, Kátia Abreu (PMDB-TO), afirmou que o
processo de impeachment é fruto de "uma chantagem de Eduardo Cunha", que queria se ver livre das acusações que pesavam contra ele.
A
senadora criticou ainda a política fiscal do governo interino de Michel
Temer. E acrescentou que "o mensalão e o petrolão não são de um partido
só" e que "muitos estão atolados".
Ao declarar voto contrário ao
relatório de Antonio Anastasia, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR)
afirmou que, apesar de um resultado desfavorável para Dilma, os aliados
da presidenta afastada cumpriram seu papel. A petista criticou a
comissão por ter dado mais importância ao rito que ao conteúdo e avaliou
que há um golpe em curso, “não contra Dilma, Lula ou o PT, mas contra
os 54 milhões de eleitores”.
Tensão
Um
dos momentos mais tensos da comissão ocorreu quando a senadora Fátima
Bezerra (PT-AM) se referiu ao relatório de Anastasia como “fraudulento”.
O presidente Raimundo Lira pediu que a expressão fosse retirada da
transcrição da íntegra da sessão, que é feita pela taquigrafia do
Senado, e causou revolta entre os petistas.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que o centro de sua fala seria na mesma linha e acusou Lira de censura.
“Isso não é censura, é equilíbrio", rebateu Lira, que manteve a decisão.
Raimundo
Lira lembrou que em outros dias, quando petistas utilizaram a mesma
expressão, tomou a mesma atitude. Ele disse que em uma das reuniões da
comissão também pediu que retirassem a palavra “criminosa”, usada por
parlamentares em referência a Dilma Rousseff. O senador justificou a
decisão com base no Artigo 19 do regimento interno da Casa, que proíbe a
utilização de expressões descorteses.
Outro artigo citado foi o
de número 48 que prevê que ao presidente compete promover a publicação
de todos os debates e atos de Senado impedindo expressões vedadas pelo
regimento do Senado.
Presidente da Comissão
Logo
no início da sessão, Raimundo Lira agradeceu servidores do Senado e fez
um balanço do trabalho de 100 dias à frente da comissão. “O momento que
hoje vivemos é um episódio decisivo na história de nossa democracia, e
creio que a forma como trabalhamos nesta comissão será vista, no futuro,
como um exemplo de reverência aos princípios democráticos, nesta
situação crítica em que nos encontramos. No mesmo sentido, nos pautamos
sempre, na condução dos trabalhos, pela posição suprapartidária, pelo
respeito às posições minoritárias, pelas regras do bom convívio que
mantêm abertas as vias do debate e do contraditório”, destacou.