Por
Salin Siddartha
Por que o bolsonarismo é nazifascista?
Observam-se alguns analistas
políticos, inclusive de esquerda, enunciarem que o bolsonarismo não é igual ao nazifascismo,
mas é apenas a expressão do autoritarismo.
Jair Bolsonaro expressa, sim, o nazifascismo,
embora, por óbvio, não se declare fascista. A candidatura dele é nazifascista e
adota os mesmos epítetos brandidos pelos seguidores de Adolf Hitler, Benito
Mussolini e Plínio Salgado, conforme podemos constatar nos 18 princípios
totalitários a seguir.
1.
O nazifascismo apela à fobia aos imigrantes.
Jair Bolsonaro, por diversas
vezes, tem expressado sua aversão aos imigrantes. Em 29/9/2015, numa entrevista
ao jornal Opção de Goiás, ele disse que, com a redução do efetivo das Forças
Armadas, haveria menos gente nas ruas para fazer frente às pessoas “nocivas” ao
Brasil, como os haitianos, senegaleses, sírios e bolivianos, chamados por ele,
na entrevista, de “escórias do mundo”.
No ano em que estamos, Bolsonaro
defendeu os brasileiros que agrediram os venezuelanos em Pacaraima-RR, dizendo
que a violência contra aqueles imigrantes era justificada.
2.
O nazifascismo é machista e desdenha do direito das mulheres.
Jair Bolsonaro disse que não
estuprava a Deputada Maria do Rosário porque ela não merece. Uma música em
apoio à sua candidatura compara a cadelas as mulheres que lhe fazem oposição:
“Para as feministas, ração na tigela / As minas (...) de esquerda têm mais
pelos que as cadelas”, diz um trecho da letra que foi cantada na “Marcha com a
Família por Bolsonaro”, em Boa Viagem, Recife, no dia 23/9/2018.
Bolsonaro disse que não pagaria a
uma mulher o mesmo salário que pagaria a um homem, e que “algumas mulheres até
que são competentes”. Ele é autor de um projeto de lei que desobriga o SUS de
atender mulheres que sejam vítimas de estupro. Em um evento em Salvador,
Bolsonaro afirmou que o desemprego afeta mais as mulheres por causa da
incompetência delas.
Em suma, o bolsonarismo pratica a
ideologia nazifascista do culto ao homem como ser superior, e o desprezo à
mulher como uma pessoa inferior.
3.
O nazifascismo condena hábitos sexuais não padronizados, como, por
exemplo, a homossexualidade.
Jair Bolsonaro condena os
homossexuais. Em março de 2013, em sessão no plenário da Câmara dos Deputados,
Bolsonaro chamou a Ministra Eleonora Menicucci de “sapatona”. Em 2011, disse
que “ninguém gosta de homossexual, a gente suporta”. Em entrevista à Playboy,
em junho de 2011, afirmou que prefere um filho morto a um herdeiro gay e que
ser vizinho de um casal homossexual é motivo de desvalorização do imóvel.
4.
É comum o nazifascismo colocar as garantias legais sob suspeição.
Jair Bolsonaro afirmou, em
6/8/2018, em Araçatuba-SP, que os movimentos de defesa dos direitos humanos
prestam um desserviço ao Brasil e, em 5/11/2017, que eles dão o esterco da
vagabundagem.
5.
Entre os aspectos mais influentes do nazifascismo, encontra-se a
supremacia do militarismo.
Jair Bolsonaro quer militarizar
até mesmo o ensino e colocar um general como Ministro da Educação. Bolsonaro
resume o problema do ensino à falta de disciplina, como se o País fosse um
quartel. Defende o regime militar que foi implantado em 1964 e escolheu um
General-de-Exército como candidato a vice-presidente em sua chapa. A defesa do
militarismo é marcante em seu discurso e em seu mandato de Deputado, a ponto
de, em 2006, ter-se solidarizado com o filho do General Pinochet quando aquele
foi punido por, mesmo sendo oficial do exército chileno, ter feito declarações
em defesa da ditadura militar naquele país.
Em outra oportunidade, defendeu
um novo golpe militar no Brasil, dizendo, inclusive, que, se pudesse, daria o
Golpe de novo. Em 2014, requereu e conseguiu uma sessão solene na Câmara dos
Deputados em homenagem ao Golpe Militar de 1964. Em uma ocasião, discursou em
plenário, elogiando Alberto Fujimori como “modelo” pelo uso de uma intervenção
militar contra o Judiciário e o Legislativo no Peru.
6.
O nazifascismo prima pela supressão do sindicalismo.
O programa de governo de Jair
Bolsonaro é um ultraje à organização dos trabalhadores por compactuar com a
desorganização sindical. Propõe, por exemplo, uma “carteira de trabalho verde e
amarela” que, ao lado da verdadeira carteira de trabalho azul, dividiria os
trabalhadores que as tiverem assinadas em dois grupos inconciliáveis: os que possuem
direitos e os que não os possuem, submetidos à extorsiva “livre negociação
individual”, igualados aos milhões de trabalhadores informais, precarizados e
subutilizados.
O filho dele, Eduardo Bolsonaro,
escreveu, no twitter, em 16/5/2017, que, no Brasil, “não são os trabalhadores
que fazem greve, são sindicalistas.” Ademais, Jair Bolsonaro votou contra os
direitos trabalhistas para as empregadas domésticas.
7. O nazifascismo discrimina a
intelectualidade e as artes.
Os bolsonaristas chamam os
intelectuais e os artistas brasileiros de adeptos e parasitas das verbas
públicas. Em 4/1/2018, seu filho, Eduardo Bolsonaro, digitou no twitter que “os
intelectuais e os artistas brasileiros tratam corruptos como presidenciáveis”.
Jair Bolsonaro propõe o fim do
Ministério da Cultura, lembrando a passagem histórica em que Joseph Goebbels,
ministro de Hitler, disse: “Quando ouço alguém falar em cultura, saco logo a
minha pistola.” Bolsonaro deixa muito explícito que a ciência, a tecnologia e a
cultura não chegam nem perto de ser prioridade, ele sinaliza com o seu projeto
um grande descaso para com os museus, teatros e bibliotecas. Bolsonaro
discursou na Câmara falando que “é preciso fuzilar os responsáveis pela
exposição de arte Queermuseu do Santander Cultural, em Porto Alegre.”
8.
O nazifascismo tem cunho belicista.
Jair Bolsonaro tem uma retórica
belicista e de autodefesa armada, semelhante à que levou Hitler e Mussolini ao
poder. Ele estimula esse raciocínio destrutivo para lucrar politicamente.
Bolsonaro defende o belicismo
como solução para a violência. Em 13/7/2018, em Marabá, disse que “homicídios
têm de ser respondidos com bala, e não dentro da lei.”
9.
O nazifascismo suspende o direito de greve.
Jair Bolsonaro apresentou projeto
de lei que criminaliza “aglomeração de pessoas em manifestação de qualquer
natureza”. Pelo twitter, em 24/5/2018, ele disse que “greve é coisa de
vagabundo”.
10. O nazifascismo submete o
Poder Legislativo ao Poder Executivo.
Por várias vezes, Jair Bolsonaro
falou que, se fosse eleito Presidente da República, fecharia o Congresso
Nacional, pois, na opinião dele, não serve para nada.
11. O nazifascismo adota o
terrorismo de Estado.
Em 1999, com 44 anos de idade, e
já no seu terceiro mandato de Deputado Federal, Jair Bolsonaro defendeu a
tortura, disse que pau-de-arara funciona. Falou também que completaria um
trabalho que o regime militar não fez, matando 30 mil, a começar por Fernando
Henrique Cardoso. Entre os candidatos a Governador que ele apoiou nas últimas
eleições, está o General Paulo Chagas, integrante do Ternuma, grupo de
militares que defende o terrorismo de Estado para combater o “terrorismo que a
esquerda representa”.
Entre as propostas de Bolsonaro,
está “considerar legais os excludentes de ilicitude como quaisquer mortes
produzidas por policiais contra civis”. Segundo ele, o erro da Ditadura foi
torturar e não matar.
12. O nazifascismo apoia-se no combate e perseguição aos socialistas e
comunistas.
Em entrevista em 1/8/2018, Jair
Bolsonaro disse que ele é o último obstáculo para o socialismo. O filho dele, o
Deputado Federal Eduardo Bolsonaro, propôs mudança nas leis para criminalizar o
comunismo. Pela proposta dele, passará a ser crime fabricar, comercializar,
distribuir símbolos ou propagandas que utilizem a foice e o martelo, ou
quaisquer outros meios para fins de divulgação do comunismo. Jair Bolsonaro,
por sua vez, catalisa um sentimento de aversão ao socialismo.
13. O nazifascismo apoia-se no combate e perseguição às minorias
étnicas, raciais, religiosas e de gênero.
Jair Bolsonaro despreza as
minorias. Na Paraíba, em fevereiro de 2017, discursou dizendo: “Não tem essa
história de Estado laico não. O Estado é cristão, e a minoria que for contra
que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias!”
Bolsonaro é racista, discrimina
os negros, os quilombolas, como imprestáveis. Em palestra no clube Hebraica,
disse que “nem para procriar serviam mais”. Afirmou a Preta Gil que os filhos
dele nunca se apaixonariam por uma negra porque foram muito bem educados.
A homofobia dele é patente.
O Desembargador Rui Cascaldi, do
TJ-SP, avaliou, em voto proferido por recurso movido por uma ONG que defende os
direitos de uma comunidade LGBT, que Jair Bolsonaro “dissemina ódio contra as
minorias”. Em discurso na Câmara dos Deputados, Bolsonaro criticou a Parada do
Orgulho LGBT de São Paulo, classificando o evento como “um festival de
baixarias”. Em discurso em Campina Grande-PB, em 8/2/2017, insultou as
minorias, ao vociferar que elas devem desaparecer.
14. O movimento nazifascista se nutre do irracionalismo.
Jair Bolsonaro cultua a ação pela
ação, sem qualquer reflexão anterior; ele atua sem unidade teórica capaz de
propagar um programa consequente, mesmo sob a ótica da direita. Bolsonaro não
tem uma plataforma política estruturada. Ele diz que “não adianta fazer planos.
Se planos resolvessem, o Brasil seria a Europa.” Assim, ele espalha o
irracionalismo pela sociedade.
Bolsonaro faz o elogio da
ignorância e do despreparo. Nada diz dos nossos problemas institucionais,
sociais e econômicos, dos quais, aliás, nada sabe. Sua perspectiva é a da
“antipolítica”, típica do fascismo clássico.
15. O nazifascismo defende propostas e soluções
violentas para resolver problemas oriundos de crises.
Segundo declarou
Jair Bolsonaro, em entrevista concedida ao jornalista Fernando Mitre, “se
morrem 40 mil bandidos por intervenção policial, temos que passar para 80 mil.”
Em uma entrevista para a revista Veja, em 2/12/1998, Bolsonaro afirmou que a
ditadura chilena de Augusto Pinochet, que matou mais de 3 mil pessoas e exilou
outras 200 mil, “devia ter matado mais gente.”
Em 2000, ele
defendeu, numa entrevista à Isto É, a utilização de tortura e a execução
sumária em casos de crime premeditado. Ele justificou o uso da tortura, pois,
segundo a opinião dele, “o objetivo é fazer o cara abrir a boca”, “ser
arrebentado para abrir o bico”.
Em um vídeo,
Jair Bolsonaro diz que, durante a Ditadura, “nós não devíamos só torturar.
Devíamos torturar e matar.” Seu filho, o Deputado Eduardo Bolsonaro, afirmou,
em um vídeo, que “violência se combate com violência, e não com bandeiras de
direitos humanos”.
16. A difusão dos ideais nazifascistas estava
ligada ao darwinismo social, uma interpretação errada da Teoria da Evolução das
Espécies, de Charles Darwin, a qual pugnava pela existência de povos
biologicamente superiores.
O General
Hamilton Mourão, candidato a Vice-Presidente na chapa de Jair Bolsonaro,
expressou, na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul, que o europeu é
um povo superior, ao dizer que “temos uma herança da indolência, que vem da
cultura indígena. E a malandragem advém do africano”, afirmou. Essa declaração
é uma ofensa ao País como um todo, digna de ter sido pronunciada por um nazista
na Alemanha de Hitler.
Na palestra
feita no clube da Hebraica, Bolsonaro fez a apologia dos japoneses em
detrimento aos negros. Ele disse: “Alguém já viu um japonês pedindo esmola por
aí? Porque é uma raça que tem vergonha na cara.”
17. O nazifascismo produziu uma propaganda intensa
em torno de Hitler, cultuando-lhe a personalidade.
Jair Bolsonaro
estimula que seus simpatizantes reproduzam nele a imagem do “salvador”. Seus
seguidores aclamam-no, chamando-o de “mito”, da mesma forma como as multidões
adeptas de Hitler saudavam-no aos gritos de “Fürer” (líder). Os simpatizantes cultuam
Bolsonaro como um fenômeno messiânico. A campanha dele incita ao fanatismo, e, não
importa quais sejam os desvios de caráter que estejam comprovados, louvam-no
como uma figura incorruptível, infalível, inteligente.
Seus admiradores
se revoltam com qualquer coisa que conspurque a imagem dele e tratam-no como um
sujeito imaculado. Bolsonaro é cultuado na campanha como o novo herói nacional,
o ícone cotado para livrar o Brasil das garras da corrupção e do socialismo.
Ele investiu no culto à própria personalidade. Em discurso no interior do
Paraná disse, para delírio dos seus seguidores: “Eu sou o Messias, Jair Messias
Bolsonaro”. Ele criou para si o mito de ser o único político honesto.
18. O integralismo, movimento nazifascista
brasileiro da década de 1930, tinha como lema “Deus, Pátria e Família”.
Em Pomerode-SC,
um outdoor de apoio a Jair Bolsonaro
traz o lema “Deus, Pátria e Família”. Esse outdoor está espalhado por
Santa Catarina. Estão à venda camisetas personalizadas “Bolsonaro, Deus, Pátria
e Família.”
Uma decisão da
Justiça da Bahia ordenou que um outdoor, com a imagem de Jair Bolsonaro, junto
à inscrição “Deus, Pátria e Família”, fosse retirado do local onde foi
instalado, no Município de Capela do Alto Alegre.
Bolsonaro
compareceu à entrevista no Jornal Nacional com palavras escritas a caneta na
mão esquerda, as quais, a todo momento, eram visíveis. Na mão dele estavam
escritas as palavras “Deus, Família e Brasil”. Ora, isso seria digno de elogios
por parte de Plínio Salgado, fundador e dirigente máximo do integralismo no
Brasil, se estivesse ainda vivo.
Concluindo,
todos os grupos de movimentos declaradamente neonazistas brasileiros apoiam
Jair Bolsonaro. Em 9/4/2011, algumas correntes de extrema direita fizeram uma
manifestação, na cidade de São Paulo, em favor do Deputado Jair Bolsonaro. Ela
foi organizada e propagada pelos assumidos grupos neonazistas Valhalha, Partido
Nacional Socialista Brasileiro, Kombat Rac, White Power SP, Front, Ultra
Defesa, Ultra Skins, Brigada Integralista, Resistência Nacionalista e Terror
Hoolingan. Recentemente, neste corrente mês de outubro, a organização
nazifascista estadunidense Ku Klux Klan declarou apoio público à candidatura de
Jair Bolsonaro.
Então, se algo
tem focinho de porco, rabinho de porco, patas de porco, grunhe como porco, não
pode ser um pato, nem um peixe, sequer um cavalo, mas porco é. Logo, como a
candidatura de Jair Bolsonaro reúne em si todos os requisitos necessários para
classificá-la como nazifascista, ela não é democrata, mas nazifascista.
Cruzeiro-DF,
19 de outubro de 2018
SALIN SIDDARTHA