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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Por que o bolsonarismo é nazifascista?

Sexta, 19 de outubro de 2018
Por
Salin Siddartha

Por que o bolsonarismo é nazifascista?
Observam-se alguns analistas políticos, inclusive de esquerda, enunciarem que o bolsonarismo não é igual ao nazifascismo, mas é apenas a expressão do autoritarismo.
Jair Bolsonaro expressa, sim, o nazifascismo, embora, por óbvio, não se declare fascista. A candidatura dele é nazifascista e adota os mesmos epítetos brandidos pelos seguidores de Adolf Hitler, Benito Mussolini e Plínio Salgado, conforme podemos constatar nos 18 princípios totalitários a seguir.

1.    O nazifascismo apela à fobia aos imigrantes.
Jair Bolsonaro, por diversas vezes, tem expressado sua aversão aos imigrantes. Em 29/9/2015, numa entrevista ao jornal Opção de Goiás, ele disse que, com a redução do efetivo das Forças Armadas, haveria menos gente nas ruas para fazer frente às pessoas “nocivas” ao Brasil, como os haitianos, senegaleses, sírios e bolivianos, chamados por ele, na entrevista, de “escórias do mundo”.
No ano em que estamos, Bolsonaro defendeu os brasileiros que agrediram os venezuelanos em Pacaraima-RR, dizendo que a violência contra aqueles imigrantes era justificada.

2.    O nazifascismo é machista e desdenha do direito das mulheres.
Jair Bolsonaro disse que não estuprava a Deputada Maria do Rosário porque ela não merece. Uma música em apoio à sua candidatura compara a cadelas as mulheres que lhe fazem oposição: “Para as feministas, ração na tigela / As minas (...) de esquerda têm mais pelos que as cadelas”, diz um trecho da letra que foi cantada na “Marcha com a Família por Bolsonaro”, em Boa Viagem, Recife, no dia 23/9/2018.
Bolsonaro disse que não pagaria a uma mulher o mesmo salário que pagaria a um homem, e que “algumas mulheres até que são competentes”. Ele é autor de um projeto de lei que desobriga o SUS de atender mulheres que sejam vítimas de estupro. Em um evento em Salvador, Bolsonaro afirmou que o desemprego afeta mais as mulheres por causa da incompetência delas.
Em suma, o bolsonarismo pratica a ideologia nazifascista do culto ao homem como ser superior, e o desprezo à mulher como uma pessoa inferior.

3.   O nazifascismo condena hábitos sexuais não padronizados, como, por exemplo, a homossexualidade.
Jair Bolsonaro condena os homossexuais. Em março de 2013, em sessão no plenário da Câmara dos Deputados, Bolsonaro chamou a Ministra Eleonora Menicucci de “sapatona”. Em 2011, disse que “ninguém gosta de homossexual, a gente suporta”. Em entrevista à Playboy, em junho de 2011, afirmou que prefere um filho morto a um herdeiro gay e que ser vizinho de um casal homossexual é motivo de desvalorização do imóvel.

4.    É comum o nazifascismo colocar as garantias legais sob suspeição.
Jair Bolsonaro afirmou, em 6/8/2018, em Araçatuba-SP, que os movimentos de defesa dos direitos humanos prestam um desserviço ao Brasil e, em 5/11/2017, que eles dão o esterco da vagabundagem.

5.   Entre os aspectos mais influentes do nazifascismo, encontra-se a supremacia do militarismo.
Jair Bolsonaro quer militarizar até mesmo o ensino e colocar um general como Ministro da Educação. Bolsonaro resume o problema do ensino à falta de disciplina, como se o País fosse um quartel. Defende o regime militar que foi implantado em 1964 e escolheu um General-de-Exército como candidato a vice-presidente em sua chapa. A defesa do militarismo é marcante em seu discurso e em seu mandato de Deputado, a ponto de, em 2006, ter-se solidarizado com o filho do General Pinochet quando aquele foi punido por, mesmo sendo oficial do exército chileno, ter feito declarações em defesa da ditadura militar naquele país.
Em outra oportunidade, defendeu um novo golpe militar no Brasil, dizendo, inclusive, que, se pudesse, daria o Golpe de novo. Em 2014, requereu e conseguiu uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem ao Golpe Militar de 1964. Em uma ocasião, discursou em plenário, elogiando Alberto Fujimori como “modelo” pelo uso de uma intervenção militar contra o Judiciário e o Legislativo no Peru.

6.   O nazifascismo prima pela supressão do sindicalismo.
O programa de governo de Jair Bolsonaro é um ultraje à organização dos trabalhadores por compactuar com a desorganização sindical. Propõe, por exemplo, uma “carteira de trabalho verde e amarela” que, ao lado da verdadeira carteira de trabalho azul, dividiria os trabalhadores que as tiverem assinadas em dois grupos inconciliáveis: os que possuem direitos e os que não os possuem, submetidos à extorsiva “livre negociação individual”, igualados aos milhões de trabalhadores informais, precarizados e subutilizados.
O filho dele, Eduardo Bolsonaro, escreveu, no twitter, em 16/5/2017, que, no Brasil, “não são os trabalhadores que fazem greve, são sindicalistas.” Ademais, Jair Bolsonaro votou contra os direitos trabalhistas para as empregadas domésticas.

7.   O nazifascismo discrimina a intelectualidade e as artes.
Os bolsonaristas chamam os intelectuais e os artistas brasileiros de adeptos e parasitas das verbas públicas. Em 4/1/2018, seu filho, Eduardo Bolsonaro, digitou no twitter que “os intelectuais e os artistas brasileiros tratam corruptos como presidenciáveis”.
Jair Bolsonaro propõe o fim do Ministério da Cultura, lembrando a passagem histórica em que Joseph Goebbels, ministro de Hitler, disse: “Quando ouço alguém falar em cultura, saco logo a minha pistola.” Bolsonaro deixa muito explícito que a ciência, a tecnologia e a cultura não chegam nem perto de ser prioridade, ele sinaliza com o seu projeto um grande descaso para com os museus, teatros e bibliotecas. Bolsonaro discursou na Câmara falando que “é preciso fuzilar os responsáveis pela exposição de arte Queermuseu do Santander Cultural, em Porto Alegre.”

8.    O nazifascismo tem cunho belicista.
Jair Bolsonaro tem uma retórica belicista e de autodefesa armada, semelhante à que levou Hitler e Mussolini ao poder. Ele estimula esse raciocínio destrutivo para lucrar politicamente.
Bolsonaro defende o belicismo como solução para a violência. Em 13/7/2018, em Marabá, disse que “homicídios têm de ser respondidos com bala, e não dentro da lei.”

9.    O nazifascismo suspende o direito de greve.
Jair Bolsonaro apresentou projeto de lei que criminaliza “aglomeração de pessoas em manifestação de qualquer natureza”. Pelo twitter, em 24/5/2018, ele disse que “greve é coisa de vagabundo”.

10. O nazifascismo submete o Poder Legislativo ao Poder Executivo.
Por várias vezes, Jair Bolsonaro falou que, se fosse eleito Presidente da República, fecharia o Congresso Nacional, pois, na opinião dele, não serve para nada.

11. O nazifascismo adota o terrorismo de Estado.
Em 1999, com 44 anos de idade, e já no seu terceiro mandato de Deputado Federal, Jair Bolsonaro defendeu a tortura, disse que pau-de-arara funciona. Falou também que completaria um trabalho que o regime militar não fez, matando 30 mil, a começar por Fernando Henrique Cardoso. Entre os candidatos a Governador que ele apoiou nas últimas eleições, está o General Paulo Chagas, integrante do Ternuma, grupo de militares que defende o terrorismo de Estado para combater o “terrorismo que a esquerda representa”.
Entre as propostas de Bolsonaro, está “considerar legais os excludentes de ilicitude como quaisquer mortes produzidas por policiais contra civis”. Segundo ele, o erro da Ditadura foi torturar e não matar.

12. O nazifascismo apoia-se no combate e perseguição aos socialistas e comunistas.
Em entrevista em 1/8/2018, Jair Bolsonaro disse que ele é o último obstáculo para o socialismo. O filho dele, o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro, propôs mudança nas leis para criminalizar o comunismo. Pela proposta dele, passará a ser crime fabricar, comercializar, distribuir símbolos ou propagandas que utilizem a foice e o martelo, ou quaisquer outros meios para fins de divulgação do comunismo. Jair Bolsonaro, por sua vez, catalisa um sentimento de aversão ao socialismo.

13. O nazifascismo apoia-se no combate e perseguição às minorias étnicas, raciais, religiosas e de gênero.
Jair Bolsonaro despreza as minorias. Na Paraíba, em fevereiro de 2017, discursou dizendo: “Não tem essa história de Estado laico não. O Estado é cristão, e a minoria que for contra que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias!”
Bolsonaro é racista, discrimina os negros, os quilombolas, como imprestáveis. Em palestra no clube Hebraica, disse que “nem para procriar serviam mais”. Afirmou a Preta Gil que os filhos dele nunca se apaixonariam por uma negra porque foram muito bem educados.
A homofobia dele é patente.
O Desembargador Rui Cascaldi, do TJ-SP, avaliou, em voto proferido por recurso movido por uma ONG que defende os direitos de uma comunidade LGBT, que Jair Bolsonaro “dissemina ódio contra as minorias”. Em discurso na Câmara dos Deputados, Bolsonaro criticou a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, classificando o evento como “um festival de baixarias”. Em discurso em Campina Grande-PB, em 8/2/2017, insultou as minorias, ao vociferar que elas devem desaparecer.

14. O movimento nazifascista se nutre do irracionalismo.
Jair Bolsonaro cultua a ação pela ação, sem qualquer reflexão anterior; ele atua sem unidade teórica capaz de propagar um programa consequente, mesmo sob a ótica da direita. Bolsonaro não tem uma plataforma política estruturada. Ele diz que “não adianta fazer planos. Se planos resolvessem, o Brasil seria a Europa.” Assim, ele espalha o irracionalismo pela sociedade.
Bolsonaro faz o elogio da ignorância e do despreparo. Nada diz dos nossos problemas institucionais, sociais e econômicos, dos quais, aliás, nada sabe. Sua perspectiva é a da “antipolítica”, típica do fascismo clássico.

15. O nazifascismo defende propostas e soluções violentas para resolver problemas oriundos de crises.
Segundo declarou Jair Bolsonaro, em entrevista concedida ao jornalista Fernando Mitre, “se morrem 40 mil bandidos por intervenção policial, temos que passar para 80 mil.” Em uma entrevista para a revista Veja, em 2/12/1998, Bolsonaro afirmou que a ditadura chilena de Augusto Pinochet, que matou mais de 3 mil pessoas e exilou outras 200 mil, “devia ter matado mais gente.”
Em 2000, ele defendeu, numa entrevista à Isto É, a utilização de tortura e a execução sumária em casos de crime premeditado. Ele justificou o uso da tortura, pois, segundo a opinião dele, “o objetivo é fazer o cara abrir a boca”, “ser arrebentado para abrir o bico”.
Em um vídeo, Jair Bolsonaro diz que, durante a Ditadura, “nós não devíamos só torturar. Devíamos torturar e matar.” Seu filho, o Deputado Eduardo Bolsonaro, afirmou, em um vídeo, que “violência se combate com violência, e não com bandeiras de direitos humanos”.

16. A difusão dos ideais nazifascistas estava ligada ao darwinismo social, uma interpretação errada da Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin, a qual pugnava pela existência de povos biologicamente superiores.
O General Hamilton Mourão, candidato a Vice-Presidente na chapa de Jair Bolsonaro, expressou, na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul, que o europeu é um povo superior, ao dizer que “temos uma herança da indolência, que vem da cultura indígena. E a malandragem advém do africano”, afirmou. Essa declaração é uma ofensa ao País como um todo, digna de ter sido pronunciada por um nazista na Alemanha de Hitler.
Na palestra feita no clube da Hebraica, Bolsonaro fez a apologia dos japoneses em detrimento aos negros. Ele disse: “Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí? Porque é uma raça que tem vergonha na cara.”

17. O nazifascismo produziu uma propaganda intensa em torno de Hitler, cultuando-lhe a personalidade.
Jair Bolsonaro estimula que seus simpatizantes reproduzam nele a imagem do “salvador”. Seus seguidores aclamam-no, chamando-o de “mito”, da mesma forma como as multidões adeptas de Hitler saudavam-no aos gritos  de “Fürer” (líder). Os simpatizantes cultuam Bolsonaro como um fenômeno messiânico. A campanha dele incita ao fanatismo, e, não importa quais sejam os desvios de caráter que estejam comprovados, louvam-no como uma figura incorruptível, infalível, inteligente.
Seus admiradores se revoltam com qualquer coisa que conspurque a imagem dele e tratam-no como um sujeito imaculado. Bolsonaro é cultuado na campanha como o novo herói nacional, o ícone cotado para livrar o Brasil das garras da corrupção e do socialismo. Ele investiu no culto à própria personalidade. Em discurso no interior do Paraná disse, para delírio dos seus seguidores: “Eu sou o Messias, Jair Messias Bolsonaro”. Ele criou para si o mito de ser o único político honesto.

18. O integralismo, movimento nazifascista brasileiro da década de 1930, tinha como lema “Deus, Pátria e Família”.
Em Pomerode-SC, um outdoor de apoio a Jair Bolsonaro  traz o lema “Deus, Pátria e Família”. Esse outdoor está espalhado por Santa Catarina. Estão à venda camisetas personalizadas “Bolsonaro, Deus, Pátria e Família.”
Uma decisão da Justiça da Bahia ordenou que um outdoor, com a imagem de Jair Bolsonaro, junto à inscrição “Deus, Pátria e Família”, fosse retirado do local onde foi instalado, no Município de Capela do Alto Alegre.
Bolsonaro compareceu à entrevista no Jornal Nacional com palavras escritas a caneta na mão esquerda, as quais, a todo momento, eram visíveis. Na mão dele estavam escritas as palavras “Deus, Família e Brasil”. Ora, isso seria digno de elogios por parte de Plínio Salgado, fundador e dirigente máximo do integralismo no Brasil, se estivesse ainda vivo.

Concluindo, todos os grupos de movimentos declaradamente neonazistas brasileiros apoiam Jair Bolsonaro. Em 9/4/2011, algumas correntes de extrema direita fizeram uma manifestação, na cidade de São Paulo, em favor do Deputado Jair Bolsonaro. Ela foi organizada e propagada pelos assumidos grupos neonazistas Valhalha, Partido Nacional Socialista Brasileiro, Kombat Rac, White Power SP, Front, Ultra Defesa, Ultra Skins, Brigada Integralista, Resistência Nacionalista e Terror Hoolingan. Recentemente, neste corrente mês de outubro, a organização nazifascista estadunidense Ku Klux Klan declarou apoio público à candidatura de Jair Bolsonaro.
Então, se algo tem focinho de porco, rabinho de porco, patas de porco, grunhe como porco, não pode ser um pato, nem um peixe, sequer um cavalo, mas porco é. Logo, como a candidatura de Jair Bolsonaro reúne em si todos os requisitos necessários para classificá-la como nazifascista, ela não é democrata, mas nazifascista.

Cruzeiro-DF, 19 de outubro de 2018

SALIN SIDDARTHA