Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 28 de outubro de 2018

Qual Bravo Mundo Novo

Domingo, 28 de outubro de 2018
Por
Pedro Augusto Pinho
Quem está nos poderes nacionais, internacionais, nas mídias, nas análises das academias é a geração pré-1990, mais provavelmente pré-1980. Ou seja, nasceram antes da queda do muro de Berlim, do “fim da história”

Portanto, todos estudaram e vivenciaram um mundo diferente. Um mundo onde os poderes eram identificados pelas Nações, pelos Estados Nacionais. Quando muito, associados a alguma ideologia.

Embora ainda haja resquícios destes “poderes nacionais”, o mais relevante poder, neste século XXI, é um sistema: o sistema financeiro internacional, que, por abreviação denomino banca. Ele se coloca acima e contra os Estados Nacionais.

A referência que alguns analistas fazem do estágio final do capitalismo, descrito por Karl Marx, não é inteiramente correta. Nem poderia ser, com as realidades e os recursos analíticos do século XIX.

É evidente que a banca se criou no sistema capitalista, mas, como expressão de poder, ganhou instrumentalidade com as teorias e tecnologias do século XX, em especial a dos sistemas gerais, da informação e da comunicação.

Precisamos então estudar a banca como da emergência de um poder, como estudamos o Imperialismo Britânico, no século XIX, ou, ainda mais identificado com o poder não territorial, o do catolicismo, na Idade Média europeia.

Recordando, a Europa, entre os séculos V e XV, tinha nos senhores feudais a mais visível expressão do poder, mas havia um poder ao qual eles se subordinavam, que vinha dos “representantes de Deus na Terra”, da Igreja Católica. Esta, por sua vez, lutava contra as heresias, e buscava no poder dos senhores feudais a força “deste mundo” para derrotar, por exemplo, os cátaros/albigenses ou os valdenses.

É o que, mais perto de um evento histórico, identifico na luta de Donald Trump contra o sistema dominante na administração estadunidense, a banca.

Artimanhas da Banca
Vejamos o que ocorreu em 24 de outubro de 2018 nos Estados Unidos da América (EUA). O envio de pacotes com explosivos direcionados a críticos do presidente Donald Trump, quais sejam:

a) o casal Bill e Hillary Clinton, esta derrotada por Trump na última eleição;

b) Barack Obama, o antecessor e opositor de Donald Trump;

c) George Soros, financista internacional, personagem conhecido do mundo da banca, que copatrocinou a campanha de Hillary Clinton;

d) John Brenann, ex-Diretor, no Governo Obama, da Central Intelligence Agency (CIA), a mais importante agência para derrubada de governos, insurreições e promoções de guerra entre países, em todo mundo;

e) Maxime Waters, uma sulista, octogenária, negra e democrata, com atuação no estado da Califórnia; e

f) Eric Holder, procurador-geral com Obama, cujo pacote tinha como remetente a deputada democrata Debbie Wasserman Schultz.

Sabemos que a banca tem na mentira, na farsa, nas “fakes” de toda ordem, sua comunicação por todo mundo.

O que a banca pretendeu com esta agressão “infrutífera” aos democratas estadunidenses, incluindo um de seus apoiadores?

Parece óbvio, para mim: demonstrar a “incompetência” do Governo Trump, dos “riscos” de se ter um presidente que não garante segurança, não segue as orientações do sistema financeiro internacional.

Observe o esclarecido leitor: Trump não tem poder sobre o "establishment”.

As instituições dos EUA vem sendo aparelhadas pela banca, desde o governo Ronald Reagan, e já o estão quase integralmente tomadas.

Vários exemplos similares poderíamos enumerar no Brasil, desde o “Mensalão do PT”, da “Lava Jato” e da “primavera brasileira” de 2013.

Mas fiquemos nos EUA, menos sensível às emoções eleitorais brasileiras e  igualmente instrutivo.

Conflito da Banca com Estados Nacionais
Para nós, nascidos e educados no século XX, para quem os governos nacionais e suas instituições representavam os mesmos interesses, fica complicado e muito estranho raciocinar com um Governo que esteja em luta com as instituições nacionais (seja o executivo, que dá, normalmente, a cara e o objetivo do País, mas, igualmente, os Parlamentos, onde estes conduzem a Nação pelos Primeiros Ministros).

Mas a eleição de Donald Trump colocou os EUA nesta situação, como a eleição de Lula, em menor escala, levou o Brasil a esta contemporaneidade.

Há algumas vitórias do Trump, como a aprovação pelo Senado do juiz Brett Kavanaugh, para a Suprema Corte dos EUA. Mas as derrotas também se sucedem, obrigando aos recuos, como na paz com Vladimir Putin, em Helsinque (Finlândia), em 16/07/2018 e na desastrosa intervenção militar na Síria.

Trump, como Lula, tem dado um passo atrás, buscando dois à frente; o que nem sempre ocorre. Mas ambos conseguiram proporcionar alguma melhoria na vida dos nacionais. Trump aumentou a oferta de emprego e a renda dos estadunidenses, deverá também, com a política de repatriamento de empresas e as restrições alfandegárias, aumentar ainda mais a oferta de emprego e o rendimento nacional.

Mas a banca está armando nova crise. Esta será um desafio poderoso para Trump e também para o governo brasileiro, a partir de 2019.

“American First” é um programa que poderá dar a vitória a Donald Trump, principalmente se ele usar, como Obama, os recursos financeiros estatais estadunidenses só que, desta vez, diferentemente, para o desenvolvimento nacional.

Obama os usou para a banca. Foram emissões monetárias e compras de “títulos podres”, os Quantitative Easing (QE), que despejaram cerca de US$ 10 trilhões, entre novembro de 2008 e outubro de 2014, no mercado.

As curvas de ganho dos Fundos e Ações, analisadas pelo S&P - Standard & Poor's 500 é um índice composto por quinhentos ativos, cotados nas bolsas NYSE e NASDAQ, que melhor representariam a economia dos EUA -, mostram as elevações devidas aos QE de 2009 até 2018. A banca lucrou muito.

Trump poderá usar estas mesmas “facilidades” para incentivar a produção industrial e avanços tecnológicos, em proveito do enriquecimento dos EUA.

A crise é uma unanimidade entre analistas de todas as tendências e de organismos nacionais e internacionais. Discute-se a intensidade, a data e seu epicentro.

O S&P sinaliza a baixa. Se houvesse lógica nas movimentações financeiras, poderíamos estimar uma queda de 30% a 40% dentro de quatro meses, desencadeando a rápida descida dos ativos a níveis possivelmente inferiores a setembro de 2008.

Mas a banca irá dosar e não fará prevalecer esta estatística, que qualquer analista pode fazer. Acredito em curta e profunda queda, tendo por epicentro o euro.

Esta crise já estava pronta em 2014.

Foram questões políticas, entre as quais deve ser considerada a apropriação do petróleo brasileiro do pré-sal, que fizeram os gestores da banca retardar sua eclosão. Também a eleição da Hillary Clinton, que deveria favorecer a banca. Outra derrota, sem dúvida.

Rápida Transformação no Poder
Os leitores que acompanham as ações dos poderes coloniais, os interesses de dominação dos Estados Nacionais, devem se lembrar da constituição do Clube de Roma, da Comissão Trilateral, do Bilderberg Group e das ações que desencadearam crises, golpes e mudanças em governos e administrações de organismos internacionais, a partir de 1960.

Naquela década começaram as transformações no Poder com as denominadas “crises” do petróleo. Junto à Organização do Atlântico Norte (OTAN), foi constituído o Atlantic Institute (1961-1988), atuando como articulador e mentor de academias, centros de estudo e pesquisa, que daria suporte ao empoderamento da banca.

Note-se que o Atlantic Institute fecha suas portas às vésperas do fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e da data - 1990 - que fixo, assim como diversos analistas, como início do poder mundial da banca.

De início a banca era formada por um grupo de famílias trilionárias, do lado estadunidense vem sempre à mente a figura onipresente na guerra fria de David Rockefeller e, no grupo europeu, a secular família de banqueiros, os Rothschild. Ao todo, menos de 50 famílias, e muitos nomes da nobreza europeia, os Windsor, os Thurn und Taxis, os Liechtenstein, por exemplo.

Mas, aos poucos, a forma de dominação, conforme os dois objetivos da banca - transformar todas as rendas em ganhos financeiros e promover a permanente concentração de renda - resultou no expurgo de algumas famílias e na troca de comando da banca, com a criação de megacorporações, gestoras de ativos financeiros.

As cinco maiores gestoras trilionárias são: BlackRock, State Street Global Advisors, Allianz Global Investors, Vanguard Group, Fidelity Investments. Estimo que, neste ano de 2018, seus recursos atinjam cerca de 20 trilhões de dólares, ou seja, um Produto Interno Bruto (PIB) estadunidense.

Estas gestoras tem em comum com a banca, do século XX, e com os que, conscientemente ou não, a fizeram surgir, um malthusianismo contemporâneo, ter a humanidade como inimiga.

Recordando as pregações do Clube de Roma, lemos entre seus argumentos que os finitos recursos naturais, do petróleo, de minérios, da água doce, não poderiam atender a toda humanidade. Parece que estas ideias entorpeceram as mentes e criaram argumentos midiáticos para guerras e a disseminação de pestes e doenças (gripe asiática (1957), ebola (1976), vaca louca (1980), aids (1981) etc).
O fim da humanidade, ou a redução para alguns milhares dos 8 bilhões atuais, exigirá guerras e doenças que colocam os compromissos políticos dos Estados Nacionais com suas populações na oposição à nova banca.

Como já está ocorrendo na Europa, os Estados Nacionais vão perdendo seu poder, sua força, sua soberania para organismos multinacionais, globais.

Há uma contrapartida, hoje midiatizada como nazista ou fascista - Marine Le Pen (francesa), Alexander Gauland (alemão), Matteo Salvini (italiano) - escondendo as esquerdas opositoras, como o francês Jean-Luc Mélenchon, para que a maioria das populações entenda a anti-banca como extremista de direita.

Logo teremos, na medida em que as esquerdas se conscientizarem do perigo da banca (o que não ocorreu na França - François Hollande - nem no Brasil, com o Partido dos Trabalhadores - PT), além da extrema direita, um suposto “perigo comunista”.

É o ideal político da banca dos fundos trilionários, posicionar-se como centrista, contra o nazismo e o comunismo.

As mídias já colaboram e colaborarão para mais esta farsa da banca.

Verdadeira Ação Humanitária
Já discorremos sobre as questões transversais, identitárias, morais, com que a banca procura desfocar as verdadeiras questões, que afligem todos os povos, dominados ou não por seus prepostos, os Temer, Macri, Macron, quais sejam: emprego e renda, educação, saúde e moradia.

Na condição atual, somente Estados Nacionais fortes - que não se deixem seduzir pela falsa “competitividade” de um mercado dominado por único grupo ou por um acordo do tipo que as sete irmãs do petróleo fizeram, em 27 de agosto de 1928, no Castelo de Achnacarry (Escócia) - podem enfrentar a banca.

Isto exige, basicamente, o domínio das finanças nacionais pelo Estado. No Brasil, o Banco Central e todas as “Agências Reguladoras” são instrumentos dos bancos e dos “regulados”. É necessário estatizar o Estado Brasileiro, como precisam, igualmente, o argentino, o chileno, o francês e até os EUA.

Apenas Estados fortes, com o efetivo controle de seus recursos naturais e financeiros, podem mudar o rumo que leva ao extermínio da humanidade.

O fogo, a roda, a máquina a vapor foram conquistas da humanidade substituídas pelo avanço tecnológico e pela apropriação dos recursos, cada vez com maior  cuidado e o conhecimento de nossas limitações.

Colaborar com a distopia do Clube de Roma, da banca, é colocar limite na ciência, na criatividade e no poder do homem em face da natureza.
O primeiro passo é desdenhar batalhas ideológicas e começar a batalha pela vida, pela construção de seus Estados Nacionais.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado