Terça, 22 de junho de 2021
Cida Torneros
Talvez eu tenha tido mesmo muita sorte. Meu pai, que se estivesse vivo, teria completado em março, 99 anos, nunca aumentou o tom de voz para falar comigo, e jamais me mandou calar. Pelo contrário, ele me ouviu sempre. Desde menina, até os meus 57 anos, quando o perdi. Foi minha referência de Homem com H maiúsculo. Não era um ser misógino, nem tampouco capaz de transmitir preconceitos ou consevadorismos hipócritas. Papai Ulysses não pôde estudar muito. Era o mais velho de 8 irmãos e, aos ,14, já estava na rua Uruguaiana, trabalhando, como auxiliar aprendiz de escritório e ajudando a família, financeiramente.
O quê o fez um homem diferente dos seus contemporâneos? Claro que sua formação familiar foi fundamental, mas seu hábito de leitura e sua religiosidade equilibrada, sem fanatismos, foram o toque perfeito para nos passar o respeito ao próximo e às diferenças de idéias que precisam de ouvidos atentos. Jamais de um "cala a boca". O ser que exerce atualmente o cargo da presidência da República Federativa do Brasil, é um desequilibrado, misógino desrespeitoso. Ao gritar com a coleguinha jornalista um "cala a boca" sonoro e agressivo, extrapolou sua condição de criatura socialmente capaz de viver entre nós. Digo "viver" incluindo tudo mesmo. Seu ódio extremista ultrapassa os limites de qualquer convivência saudável e democrática. Quem não vê? Quem é igual a ele ou quem é incapaz de dialogar civilizadamente.
Alguém, por favor, diga a esse senhor, que a filha do Seu Ulysses, que sou jornalista desde 1969, não vai alterar o tom de voz, mas vai dar-lhe um pequeno conselho "contenha-se". Isso mesmo, busque auxílio numa terapia, leia e estude, desista de ser um ditadorzinho de berros contra meninas jornalistas. Ah, não posso esquecer de alertar que nós, as mulheres, somos mais unidas do que parecemos. Muito mais. E somos maioria para virar esse jogo, inclusive nas urnas em 2022. Portanto, senhorzinho Malta dos Infernos ou dos Céus, aprenda a viver ou saia de cena com sua falta total de civilidade. Até as mulheres da sua vida pessoal, vão parar para refletir que há qualquer coisa de podre no reino onde o senhor pensa que é rei. Meu pai foi o Rei. Com certeza! Ele sim! Cida Torneros
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Cida Torneros é jornalista aposentada e edita no Rio de Janeiro o Blog Vou de Bolinhas.
