Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 26 de junho de 2021

QUATRO ARTIGOS INVERNAIS ANUNCIAM O FIM DO ESTADO NACIONAL

Sábado, 26 de junho de 2021

Os quatro artigos a seguir foram transcritos do AEPET Direto


1)'Golpe acabou com a Petrobrás', diz Guilherme Estrella

Guilherme Estrella: Petrobrás não é só o pré-sal e as refinarias

No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS da última quarta-feira (23/06), o jornalista Breno Altman entrevistou Guilherme Estrella, geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, conhecido como "O pai do pré-sal", por ter comandado a descoberta e exploração da principal reserva brasileira de petróleo.

Para ele, "o golpe de 2016 acabou com a Petrobrás", pois ela perdeu as características de empresa estatal.

"A Petrobras não é só o pré-sal e as refinarias. Carrega em si o movimento do povo brasileiro nas ruas, exigindo que o petróleo fosse nosso. Expandiu-se por todo o território nacional, abarcou toda a cadeia produtiva do petróleo, a indústria petroquímica, estava junto à população, impulsionando a cultura, o esporte, gerando empregos. Tudo isso acabou. A Petrobrás já não participa do crescimento integral do Brasil", lamentou Estrella.

Segundo ele, os fatores que levaram a esse desmonte foram: o fim do sistema de partilha, a remoção da empresa como operadora única - proposta do senador José Serra (PSDB-SP) -, e o "decreto do trilhão", que isentou as empresas operadoras de impostos de importação.

"O fim do marco regulatório, que colocava a Petrobrás como operadora única, rompeu com um dos pilares do que é uma empresa estatal. E ao isentar as empresas operadoras de impostos de importação, mataram o conteúdo nacional, a nossa política de desenvolvimento industrial. Deixou de ser uma empresa petrolífera no governo [Michel] Temer e este governo a transformou num fundo de investimento", argumentou o ex-diretor.

Ele disse, entretanto, que não acredita que a Petrobrás seja irrecuperável. Para Estrella, desde 2016, o Brasil vive governos ilegítimos, de modo que não se pode considerar "os atos cometidos contra a Petrobrás como constitucionais"

"Estamos sob um governo de ocupação civil instalado para servir aos interesses e objetivos de um país estrangeiro. Isso precisa ser revertido por meio de plebiscitos revogatórios", defendeu.

Reestruturando a Petrobrás

Além de um plebiscito revogatório, Estrella detalhou quais as medidas a serem revogadas e refletiu sobre quais outras devem ser adotadas para reestruturar a estatal.

"Energia é soberania nacional. A venda de ativos estratégicos da Petrobrás atenta contra a soberania nacional. A venda da distribuidora BR, que é a nossa presença no mercado interno, não atende à Constituição de 1988. As duas coisas precisam ser revertidas", citou.

Ele também argumentou a favor da retomada do esquema de partilha e da Petrobrás como operadora única, "apostando em conteúdo nacional, com intenção social", dominando toda a cadeia produtiva.

Nesse sentido, ele celebrou as políticas adotadas pelos governos petistas, que devem servir de referência para a reconstrução da Petrobrás, como empresa "protagonista do setor de petróleo e gás natural no Brasil". Por isso, ele se mostrou favorável ao fechamento de capital da estatal.

"A abertura de capital na bolsa de Nova Iorque, por Fernando Henrique Cardoso, nos prendeu a regras da bolsa e à legislação dos Estados Unidos. Precisamos sair dessa dependência que nos tira soberania de gestão da maior empresa brasileira em matéria estratégica para o desenvolvimento nacional", reforçou.

Impacto da Operação Lava-Jato

Estrella também comentou sobre os casos de corrupção na Petrobrás e o impacto que teve a Operação Lava-Jato na reputação da empresa.

"Para nós, não havia nenhum motivo para desconfiar do que estava acontecendo. Mas aconteceu. Aí veio a Lava-Jato e trouxe isso a público, tendo um impacto muito negativo na companhia", confessou.

Ele lamentou que, em vez de punir os culpados e preservar a empresa, a Lava-Jato foi utilizada para destruir a Petrobrás "e a própria soberania brasileira". Para o ex-diretor, "um dos objetivos da operação era a destruição das grandes empresas de engenharia brasileira".

A partir daí começou o desmonte, segundo ele. Acabou o esquema da Petrobrás como operadora única e abriram-se as portas de exploração para empresas estrangeiras, quebrando "um dos pilares da reindustrialização brasileira".

Transição energética: ocaso do petróleo?

"O petróleo não vai acabar, muito menos por falta de petróleo. A transição energética nasce com o argumento de preservação ambiental, de que o uso de combustíveis fósseis provoca aquecimento global. Mas muita coisa vem da expansão urbana, do desmatamento", ponderou Estrella.

Ele enfatizou que o Brasil possui uma matriz energética equilibrada, podendo permitir-se investir em petróleo: "Não podemos deixar que a bandeira da transição energética nos impeça de fazer o desenvolvimento a que temos direito. Os países que advogam pela transição se construíram com petróleo. São eles, então, que devem fazê-la, não o Brasil".

Por isso, o ex-diretor da Petrobrás estima que o consumo de petróleo não vai cair. Pelo contrário, tende a aumentar para suprir a demanda dos países pobres e emergentes que começarão a investir no desenvolvimento industrial.

"Eu sou favorável à transição, mas feita pelos países desenvolvidos, EUA, China, e que seja feita alinhada ao combate ao desmatamento, urbanização excessiva e desperdício", reforçou.

Estrella, portanto, voltou a ressaltar a importância de restituir a Petrobrás como impulsionador da economia e do desenvolvimento brasileiro: "Todas as potências industriais mundiais construíram seu poderio industrial e tecnológico com base em energia. É um pilar para a industrialização, com gestão nacional, protegendo o mercado nacional e o consumidor brasileiro".

Clique aqui para assirtir o vídeo na íntegra


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2) Não há pátria sem patrimônio


Fernando Siqueira: "Pré-sal é maior oportunidade que o Brasil tem de deixar de ser o eterno país do Futuro."

Entrevistado no programa Tecendo o Amanhã para falar sobre o tema "Não há pátria sem patrimônio", o diretor Administrativo da AEPET, Fernando Siqueira, traçou um histórico do permanente assédio aos abundantes recursos naturais do Brasil e o impacto negativo no desenvolvimento soberano do país. 

Siqueira, que é diretor Administrativo da AEPET, lembrou as pressões e constrangimentos coordenados, desde 1977, pelo ex-Secretário de Estado dos Estados Unidos, Henri Kinsinger, para que os países hegemônicos garantissem acesso aos recursos naturais não renováveis. 

"Em 1978, nos acordos comerciais da Rodada Uruguai, foram estabelecidas as metas do neoliberalismo: privatizações em massa - principalmente na América Latina para obstruir o desenvolvimento de países potencialmente hegemônicos, como Brasil e China. Entre as prioridades, acabar com Mercosul e garantir as patentes das multinacionais", disse, ponderando que tais medidas preparavam o caminho para o Consenso de Washington, que veio em seguida e hoje vive sua crise mais aguda. 

Para o diretor da AEPET, o pré-sal representa "a maior oportunidade que o Brasil tem de deixar de ser o eterno país do Futuro". Siqueira destacou ainda que o país possui a 12ª reserva de água potável do mundo. Sobre a privatização da Eletrobrás, considerou crime de lesa-pátria. "A privatização da Eletrobrás representa entrega ao controle estrangeiro de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. O Brasil está na contramão. Na Europa, a tendência é estatizar setores estratégicos, pois o serviços das multinacionais são caros e ruins", ponderou.

Clique aqui para assistir a entrevista na íntegra

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3) Será que o Gen. Joaquim Silva e Luna está sendo ludibriado?

Cláudio da Costa Oliveira, economista da Petrobrás aposentado: Pela primeira vez em sua história, a Petrobrás pagou mais dividendos do que o lucro obtido

Na manhã de hoje (25/06/2021) o atual presidente da Petrobrás Joaquim Sila e Luna compareceu em uma audiência na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados.

O comparecimento do general em uma comissão do Congresso já foi um fato positivo, que o diferencia de seus antecessores recentes, na Petrobrás.

No entanto, o atual presidente apresentou alguns argumentos falsos, utilizados por seus antecessores, como os dos supostos problemas financeiros da empresa e da dívida impagável, temas completamente desmontados por diversos artigos como "O mito da Petrobrás quebrada" e muitos outros.

Tentou defender, sem muita convicção (porque não existe ), a política de preços da companhia, a qual erroneamente chama de Paridade Internacional, como muitos outros, e não de Paridade de Importação. Que são coisas muito diferentes.

Afirmou que os petroleiros aprovam a administração da companhia, pois se preocupou em nomear para a diretoria a funcionários de carreira, a chamada "prata da casa". Não atentou para o fato de que os nomeados impulsionaram suas carreiras nas últimas administrações (Parente,Monteiro e Castello) e que provavelmente não formem uma amostra representativa do pensamento dos petroleiros.

Falou da relevância da contribuição em impostos pela companhia, que em 2019 superou os R$ 200 bilhões, quando registrou um lucro de R$ 40 bilhões e em 2020 superou R$ 100 bilhões, quando registrou lucro de R$ 10 bilhões. Não se lembrou de dizer que o lucro de 2019 ( R$ 40 bilhões) foi fruto do resultado contábil da venda da TAG e da BR Distribuidora . Não reparou na brutal queda de pagamento de impostos entre 2019 e 2020, fruto do desmonte da empresa e de isenções tributárias exageradas.

Deixou de dizer que em 2020, pela primeira vez em sua história, a companhia pagou mais dividendos do que o lucro obtido.

Por último, mas não de menor importância, insistiu na frase "A Petrobrás desinveste para investir mais e melhor no Brasil". Neste assunto foi aparteado pelo líder do governo que disse, posteriormente apoiado pelo general, que o termo desinvestimento deveria ser alterado para a pérola "Realocação Estratégica de Reinvestimentos". Ou seja , eles têm especial preocupação com a palavra privatização.

Ocorre general, que, provavelmente pelo pouco tempo que o Sr. tem na empresa (e aqui fica o meu voto de confiança), não reparou bem nos quadros de Usos e Fontes apresentados nos planos estratégicos da companhia.

No plano para o período 2020/2024, foi apresentado o seguinte quadro:

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Veja general, que a geração de caixa (US$ 158/168 bilhões) é mais do que suficiente para cobrir os investimentos as amortizações e os juros (76+33+26+12 = 147). Portanto a "Gestão de ativos" (privatização) US$ 20/30 bilhões só existe para cobrir o pagamento de dividendos US$ 34 bilhões.

Fica mais claro ainda quando vemos o plano estratégico seguinte 2021/2025, que previu uma queda de receita e portanto diminuição da geração de caixa:

[Clique na imagem abaixo para melhor visualizá-la]

Veja general, com a redução da geração de caixa solução encontrada foi aumentar a privatização e reduzir os investimentos para manter o valor do pagamento de dividendos.

Portanto a Petrobrás desinveste para pagar dividendos e não para investir melhor no Brasil.

No final da audiência, o deputado Paulo Ramos PDT/RJ registrou a esperança de que o espírito do general Horta Barbosa inspirasse o general Luna e Silva.

Para quem não sabe o general Horta Barbosa em 1947, no clube militar, em discurso falou:

[Clique na imagem abaixo para melhor visualizá-la]


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4) Energia? Imenso apagão, mas a conta vem cheia de cifrões

Felipe Maruf Quintas, doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense, e Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado:

"Cruzada religioso-patriótica" ... para alienação da Eletrobrás aos capitais apátridas 

O talento cinematográfico de Stanley Kubrick (1928-1999) nos brindou com várias obras primas, dentre elas o filme "Dr. Fantástico" (Dr. Strangelove or How I learned to stop worrying and love the Bomb, 1964), onde um general estadunidense acredita que os reservatórios de água nos Est ados Unidos da América (EUA) estão infectados com o vírus comunista (flúor). E, patrioticamente, resolve defender a civilização cristã ameaçada, dando início à Terceira Guerra Mundial.

Este filme teve a classificação de comédia, mas sua efetividade no Brasil contemporâneo é, sem dúvida, a de uma tragédia. Pois as autoridades nacionais, as mais altas e com supostamente maior responsabilidade, nos afirmam, com seriedade incompatível com a frase, que estão "impedindo o comunismo de invadir os lares e destruir a família brasileira".

Nesta guerra santa são transferidos a propriedade e o controle de bens, naturais e/ou construídos, para capitais apátridas, residentes em paraísos fiscais, onde nem mesmo faltam os dinheiros das drogas, da prostituição, dos contrabandos, da corrupção e do suborno.

Destaquemos desta "cruzada religioso-patriótica", onde os dirigentes públicos muitas vezes estão acompanhados dos bilionários bispos e pastores neopentecostais, a recente permissão para alienação da Eletrobrás aos capitais apátridas. Medida Provisória do Executivo, já aprovada pelo Legislativo, e que o Judiciário deve estar ansioso para sacramentar com sua concordância, consagrando assim a temporada dos apagões e o alto preço da energia elétrica, que será comum em todo Brasil.

Comecemos por entender o que significa a energia para um país e para o seu estágio civilizatório.

A medida geral para energia é o joule. Um joule é o trabalho de um newton aplicado no percurso de um metro, em outras palavras, a unidade de trabalho, de energia ou da quantidade de calor que é equivalente ao esforço produzido pela força de um newton cujo ponto de aplicação se desloca por um metro. No Sistema Internacional de Unidades, todo trabalho ou energia é medido em joules. Pode ainda ser definido como o trabalho produzido com a potência de um watt durante um segundo; ou um watt/segundo (compare quilowatt-hora). Assim, um quilowatt-hora corresponde a 3.600.000 joules ou 3,6 megajoules.

Com dados da CIA World Factbook, relativos a 2020, assim se comporta o indicador: consumo de energia per capita, para alguns países.

A maior relação encontra-se na Islândia, 50.409 quilowatt-hora (kWh) por habitante (hab), bem superior ao do segundo melhor aquinhoado país, a Noruega (22.351 kWh/hab). Na fria Europa do norte, além da Noruega, também se destacam, com 14.859 kWh/hab a Finlândia, com 13.085 kWh/hab a Suécia, 6.693 kWh/hab a Alemanha, 6.418 kWh/hab a Rússia, 5.626 kWh/hab a Dinamarca e 3.903 kWh/hab a Polônia.

O Brasil registra 2.404 kWh/hab, inferior à Argentina (2.661), ao Uruguai (3.179) e à África do Sul (3.668), mas superior à Índia, com 857 kWh/hab. Entre os dez países de melhor desempenho, apenas os EUA também estão entre os de maior consumo per capita.

China, EUA, Rússia, Índia, Japão e Alemanha são os países que mais consomem energia. E estão entre as grandes potências mundiais.

Antes de prosseguirmos com os dados estatísticos é necessário apresentar algumas considerações para discussão com nossos prezados leitores.

O consumo de energia é um indicador do nível de industrialização e da tecnologia utilizada para produção de bens. Vejam o Brasil escravagista do século XIX que retorna a condição análoga neste século XXI, de uberizações e de micros empreendedores individuais (MEIs).

O trabalho humano, do escravo, mesmo com o custo reduzido da sua produção, não permitia a quantidade, volume de produção, nem a qualidade competitiva com o de outras fontes e com outras tecnologias.

Apenas a cegueira da economia atual, cujo único objetivo é obter o maior e mais rápido lucro, sem atentar para qualquer outra consequência, nos lançou neste abismo de produção e no freio do desenvolvimento tecnológico.

A indústria do petróleo oferece exemplos bem nítidos. Gail Tverberg, da ONG Space Solar Power Institute, em seus artigos sobre economia e energia, tem se mostrado apreensivo quanto ao desequilíbrio entre a produção de recursos e o aumento populacional (entre outros leia-se, ourfiniteworld.com/2021/06/18/how-energy-transition-models-go-wrong, tradução em AEPET Direto, 23/06/2021).

Como assinalou, com habitual brilho, o engenheiro químico da Petrobrás Felipe Coutinho, dirigente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET):

"Os sucessos econômicos da ex-União Soviética e dos EUA refletem um abundante suprimento de energia de alta qualidade. Esta abundância terminou na década de 1970 nos EUA e na década de 1980 na antiga União Soviética. Nos EUA, o fim do petróleo barato causou a estagnação da produtividade do trabalho, o que interrompeu o crescimento contínuo dos salários e dos rendimentos familiares. Para preservar o sonho americano, segundo o qual cada geração viverá melhor do que a precedente, as mulheres entraram na força de trabalho, a renda foi transferida da poupança para o consumo, a economia dos EUA mudou de credora líquida para devedora e as dívidas das famílias, das corporações e do governo federal dispararam" (O fim do petróleo barato e do mundo que conhecemos, AEPET Direto, setembro/2017).

Para manter elevada a produção de petróleo, a mais importante fonte primária de energia, é necessário incorporar novas reservas e aumentar o fator de recuperação das já conhecidas. Para estas conquistas são indispensáveis pesquisas científicas e tecnológicas e muito investimento em exploração e desenvolvimento para produção de óleo e gás. Certamente há petróleo a ser descoberto, mas em condições difíceis para encontrar e, provavelmente, também complexas para produção.

Confrontemos a energia primária, por suas fontes, nos anos de 2018 e 2019, de acordo com a BP Statistical Review of World Energy 2020.

PRODUÇÃO DE ENERGIA PRIMÁRIA (em exajoules)

2018 2019

Petróleo ............... 191,45 ............... 193,03

Carvão ................. 158,79 ............... 157,86

Gás ...................... 138,66 ............... 141,45

Hídrica .....................37,34 ................ 37,66

Renováveis .......... ... 25,82 ................ 28,98

Nuclear ................. ..24,16 ................ 24,92

TOTAL ....................576,23 ............... 583,90


Apesar de toda campanha para o uso de energia limpa e renovável, os combustíveis fósseis ainda representam quase 85% da produção.

Isto se deve a dois fatores importantíssimos: o custo ainda compensador para produzi-los e as facilidades para o transporte, comercialização e uso.

Porém a transferência dos valores de investimentos para aumentar os dividendos, beneficiando somente os acionistas, acarretará menos descobertas e, consequentemente, maiores preços desta fonte ainda, e por muito tempo, indispensável.

Vejamos a evolução do consumo mundial de energia e de países importantes para economia mundial, comparando-os com o Brasil. Valores em milhões de toneladas equivalentes de petróleo (mtoe).


CONSUMO MUNDIAL DE ENERGIA (mtoe)

EUA Brasil Rússia China Índia Mundo

1995 ... 2122 ... 153 ... 664 ... 913 ... 236 ... 8578

2000 ... 2314 ... 185 ... 620 ... 1038 ... 296 ...9382

2005 ... 2351 ... 207 ... 657 ... 1691 ... 364 ...10801

2010 ... 2286 ... 254 ... 691 ... 2432 ... 524 ... 12002

2015 ... 2258 ... 290 ... 731 ... 3118 ... 676 ... 13360

2020 ... 2270 ... 333 ... 766 ... 3688 ... 871 ... 14627


Estes números também refletem a alteração do poder mundial que vem se transferindo dos EUA, com economia cada vez mais financeirizada, e de um modo geral de todo ocidente, para o oriente, este em permanente processo de industrialização e consequente desenvolvimento científico e tecnológico - China e Índia - onde estão também os maiores contingentes populacionais do planeta. Decresce o consumo estadunidense, dobra o brasileiro, a Rússia após um período de decréscimo acentuado, já sob a direção de Vladimir Putin, pode, nas mesmas bases dos demais, apresentar 15% de acréscimo, enquanto China e Índia quadriplicam o consumo.

Pela incapacidade de desvendar esta situação ou por comprometimentos inconfessáveis que ouvimos, com perplexidade, mas até como justificativa de indefensáveis ações governamentais, sobre "o perigo comunista", "a ameaça do foro de São Paulo", quando muito mais nos atingem as decisões do "foro econômico mundial de Davos", fiscal do "Consenso de Washington".

A privatização da Eletrobrás e o estilhaçamento, para encerramento, da Petrobrás têm o aspecto político, de riscar a Era Vargas da História do Brasil, quando nosso País promoveu verdadeira revolução na sua estrutura organizacional, nos objetivos nacionais e na valorização da cultura brasileira.

Mas têm aspectos econômico e geopolítico ao colocar nossa Nação subordinada aos interesses do capital financeiro, marginal e apátrida, de âmbito internacional, voltando a ser colônia: exportadora de matérias primas (vegetais, minerais) e seres humanos e importadora de produtos industrializados.

Há outro agravante. Vamos também perdendo lideranças, pois ao capital marginal, apátrida, interessa um governo de milicianos, traficantes e destituídos de qualquer interesse nacional. As privatizações não significam somente o enfraquecimento da defesa nacional, sem combustível para aeronaves, navios e deslocamentos terrestres. Significam que a Questão Nacional, ideal que concentra o povo, é trocado por abstrações, irrealismos como energia limpa, auxílios transcendentais, e o individualismo que mostra a falta de solidariedade humana.

E tudo fica mais caro e difícil quando depende de quem não sofrerá com a sua falta, pois nem mesmo reside no Brasil.

Felipe Maruf Quintas, doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense, e

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.