Quarta, 28 de agosto de 2024
De acordo com um representante do MST, através de fontes ligadas ao governo, usina possui uma dívida de R$ 91 bilhões
Redação
Brasil de Fato | Brasília (DF) | 27 de agosto de 2024
Investigação aponta que empresa localizada na zona rural manipulava o medidor de energia - Foto: Reprodução/Equatorial Energia Goiás
Uma inspeção de rotina da Equatorial Goiás levou técnicos da distribuidora e policiais a deflagrar uma operação contra o furto de energia na cidade de Vila Boa, em Goiás, que estava sendo realizado por uma usina de álcool da região. De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Distrito Federal e Entorno (MST-DFE), a usina em questão é a Companhia Bioenergética Brasileira (CBB), que já foi ocupada por cerca de mil famílias em abril deste ano.
Após uma vistoria realizada no mês passado, a equipe de fiscalização da companhia percebeu uma alteração no sistema de medição em uma usina de álcool no município. A investigação aponta que a empresa, localizada na zona rural, manipulava o medidor de energia.
Já na última quinta-feira (21), fiscais da distribuidora e a Polícia Civil e Científica retornaram ao local e confirmaram que a manipulação estava em curso há cerca de três meses. O prejuízo calculado pela companhia, nesse período, é de mais de R$ 1,2 milhão.
De acordo com um representante do MST, através de fontes ligadas ao governo, foi revelado que a fazenda onde está situada a usina possui uma dívida de R$ 91 bilhões com a União e o próprio Estado de Goiás. Entre as dívidas estão tributos, trabalhistas e ambientais. Segundo o representante, existe um embargo de 4.000 hectares de terra por crimes ambientais também nessa área.
Em abril, durante a ocupação, a usina CBB estava com uma dívida de mais de R$ 300 milhões, composta por inúmeras dívidas tributárias, trabalhistas, embargos e multas ambientais, segundo o MST. Na época, o movimento informou que a área da usina, por si só, não quita as dívidas, pois "a fazenda está avaliada em 200 milhões de reais."
O Brasil de Fato DF entrou em contato com a usina CBB para comentar sobre o furto de energia, mas até o fechamento desta matéria, não houve resposta.
Fraude no medidor
Após uma vistoria realizada no mês passado, a equipe de fiscalização da companhia percebeu uma alteração no sistema de medição em uma usina de álcool no município. A investigação aponta que a empresa, localizada na zona rural, manipulava o medidor de energia.
Ninguém foi preso, mas um funcionário da usina foi levado à delegacia para esclarecimentos. O proprietário da empresa, que não estava no local durante a operação, pode responder judicialmente pelo crime.
Segundo a empresa, além de ser um crime, com pena prevista de reclusão e multa, o furto de energia, popularmente conhecido como "gato", prejudica diretamente a qualidade do fornecimento de energia e põe em risco a segurança da população, podendo causar graves acidentes, principalmente para as pessoas que manipulam a rede elétrica sem a capacitação adequada e os devidos cuidados.
Segundo a Equatorial, as ligações irregulares sobrecarregam a rede elétrica, aumentando o risco de curtos-circuitos que, por sua vez, podem causar interrupções no fornecimento de energia. Isso prejudica não apenas aqueles que realizam tais ligações, mas também os clientes regulares da companhia, comprometendo a qualidade do serviço prestado.
Para o representante do MST-DFE, isso demonstra qual é a postura desses latifundiários. "Eles não estão preocupados em desenvolver o Estado, nem o município. Pelo contrário, eles estão preocupados em explorar as riquezas naturais, explorar os trabalhadores e explorar a terra de forma ilegal em troca de seu lucro", destaca.
Ocupação
A ocupação de uma área falida de 8 mil hectares da usina CBB compôs a Jornada Nacional de Lutas em defesa da Reforma Agrária. Segundo o MST, o intuito da ação foi denunciar a demora do governo em desapropriar a usina que foi oferecida ao patrimônio da união para quitar as dívidas milionárias, e assim ser incorporada ao Programa Nacional de Reforma Agrária e resolver o passivo de famílias sem terra que vivem na região do DF e Entorno.
Famílias são de vários municípios do nordeste goiano e do DF / Divulgação/MST-DFE
Conforme informações do MST, a Usina da Companhia Bioenergética Brasileira ocupa uma área de 8 mil hectares de terra, com dois principais complexos: as fazendas Tábua de Cima e Prelúdio. Além de outras áreas que estão em processo de adjudicação, ou seja, estão sendo repassadas ao patrimônio da união como forma de pagar a dívida milionária que tem com o Estado.
"A ocupação das da Usina CBB se deu a partir de uma conversa entre nós do Movimento com autarquias do governo federal, Patrimônio da União, o próprio Incra, a cerca das dívidas dessa usina, que é uma área de 8 mil hectares de terra. A Superintendencia de Patrimonio da União (SPU) tinha um processo de análise dela por conta das dívidas com a união de de retomada dela como patrimônio da União", informa o representante do MST-DFE.
Ele ainda conta que, na ocupação, foi tomada uma reintegração de posse no mesmo dia com truculência da polícia militar, que estava em comum acordo com os fazendeiro com o governador de Goiás com a força de segurança. "É um conluio entre milícia do campo, governo de Goiás, a polícia civil e militar, além da própria Secretaria de Segurança Pública", destaca.
Edição: Márcia Silva