Segunda, 17 de fevereiro de 2025
Do Brasil de Fato
Para Fábio Sobral, convidado do podcast Três por Quatro, oposição traça cenário 'mentiroso' e prejudica população
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13.fev.2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Marcelo Camargo/Agência Brasil
A extrema direita e a mídia hegemônica pregam um "terrorismo econômico na população", enfatizando o aumento dos gastos públicos e reforçando a ideia de que a economia do Brasil caminha mal. Um cenário "mentiroso para que as pessoas promovam a redução de gastos sociais". Essa é a avaliação de Fábio Sobral, professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), e convidado do podcast Três Por Quatro desta quinta-feira (13).
No episódio desta semana, transmitido ao vivo pelo canal do Brasil de Fato no YouTube, os jornalistas Nara Lacerda e José Eduardo Bernardes conversaram com Sobral e Juliane Furno, economista e professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), sobre os gastos e investimentos públicos e os desdobramentos sobre o panorama da saúde econômica brasileira
Furno salienta como "cortar gastos não nos leva ao equilíbrio fiscal" e que eventuais reduções, fruto de medidas de austeridade fiscal, interferem diretamente na vida e bem-estar da população, principalmente nas camadas mais pobres, o que se reflete nos resultados no Produto Interno Bruto (PIB).
"Quando o Brasil entra nessa lógica mais 'austericida' e neoliberal a partir do ano de 2016, culpando a crise econômica pelos excessos, sobretudo de gastos públicos e ativismo estatal, é instituída a lei de Teto de Gastos, que inclusive estava na Constituição e propunha resolver o problema do desequilíbrio fiscal cortando gastos. O resultado foi que o desequilíbrio fiscal aumentou no país", relembra.
Nesse sentido, Sobral explica que o aumento dos gastos públicos, principalmente os voltados a saúde e educação, só reforça como "o governo só ganha se gastar", visto que o investimento na população aquece a economia e reflete no bem-estar social e econômico em todo território nacional. "Na medida em que o governo gasta, ele promove uma espécie de reação em cadeia, onde outros setores começam a produzir e arrecadar tributos", ilustra o professor.
Para Furno, a tentativa de associar despesas sociais a um descontrole financeiro ignora o impacto positivo que esses investimentos geram na economia. "Na verdade, quando se cortam gastos sociais, a arrecadação também cai, porque menos dinheiro circula na economia, afetando diretamente o consumo e a produção", aponta.
Sobral destaca ainda as contradições do governo brasileiro, que aplica parte de seus recursos em títulos da dívida emitidos pelos Estados Unidos. "Nós somos responsáveis por sustentar os gastos do governo americano. Mas eles querem reduzir os gastos com educação na escola pública, no hospital público, entende? O Banco Central comprou títulos da dívida pública americana e esses recursos ajudam a financiar as bombas que caem em Gaza e no sul do Líbano", expõe.
O economista sugere ainda que enquanto o país contribui indiretamente para o financiamento do orçamento dos EUA, que inclui despesas militares, o "Brasil segue com dificuldades para investir em infraestrutura, educação e saúde para a sua própria população".
O impacto da exportação no preço dos alimentos
Além do impacto direto dos investimentos sociais, o preço dos alimentos se tornou um dos principais desafios do governo. A alta constante de itens essenciais, como o café e o arroz, tem sido explicada não apenas por fatores climáticos, mas também por decisões estratégicas do agronegócio. "Há uma opção do agronegócio de exportar mercadorias ao invés de priorizar o mercado interno", analisa Juliane Furno.
Segundo a comentarista, essa decisão resulta em preços elevados para os consumidores brasileiros, pois a produção nacional segue atrelada às cotações internacionais e à valorização do dólar. "A prioridade tem que ser o mercado interno e matar a fome da nossa sociedade", defende a economista.