“ Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."
(Millôr Fernandes)
quinta-feira, 13 de março de 2025
As molas mórbidas do capitalismo tardio
terça-feira, 6 de fevereiro de 2024
O que esconde o PIB
Terça, 6 de fevereiro de 2024
O que esconde o PIB
Prabhat Patnaik [*]

Há problemas bem conhecidos associados ao conceito de produto interno bruto, bem como à sua medição. A inclusão do sector dos serviços no PIB [NR] é algo a que Adam Smith se teria oposto com base na ideia de que as pessoas empregadas neste sector constituíam "trabalhadores improdutivos". Logicamente, na antiga União Soviética e nos países socialistas da Europa de Leste, não era o PIB e sim o produto material bruto, excluindo o sector dos serviços, era considerado a medida relevante.
Mesmo que o sector dos serviços seja incluído no PIB, há um problema conceptual associado à medição da sua produção, uma vez que o que constitui a prestação de um serviço é difícil de distinguir do que constitui um mero pagamento de transferências: afinal, uma pessoa pode ter satisfação em fazer um pagamento de transferências exatamente como tem satisfação com a atuação de um músico. Como então podemos incluir um e não o outro no âmbito do PIB? Mas, para além destes problemas conceptuais, há também problemas associados à medição do PIB, problemas que decorrem, entre outros, devido ao vasto sector da pequena produção, para o qual não dispomos de dados fiáveis, regulares e atempados. Na Índia, por exemplo, vários economistas sugeriram, embora por razões diferentes, que a medição da taxa de crescimento do PIB é sobreavaliada.
Também é óbvio que o PIB não é um índice de bem-estar nacional; a razão mais saliente para este facto é que a distribuição do PIB pode ser extremamente desigual. Mas o funcionamento do imperialismo cria um tipo particular de dicotomia dentro de um país do terceiro mundo que torna o PIB totalmente inadequado para medir o progresso económico. Na verdade, o PIB serve para camuflar esta dicotomia que até tem tendência a aumentar ao longo do tempo.
O imperialismo tem dois efeitos distintos numa economia contemporânea do terceiro mundo. Uma vez que tal economia está tipicamente localizada nos trópicos, os países industriais exigem dela uma gama de produtos agrícolas (para além dos minerais) que só a massa terrestre tropical é capaz de produzir, ou de produzir durante o período em que as regiões temperadas frias do mundo, que constituem a base do capitalismo, estão congeladas. Assim, para além do trigo e do milho, o imperialismo necessita de toda uma série de produtos primários do terceiro mundo, que ele próprio não pode produzir em nenhuma estação do ano, ou que só pode produzir na sua estação quente mas não no seu inverno. Estes produtos têm de ser importados; mas a extensão da massa terrestre tropical é limitada e, uma vez que as práticas de expansão da fronteira agrícola ("land-augmenting"), como a irrigação e outras mudanças técnicas que elevem a produtividade da terra, requerem tipicamente um Estado ativista, e o capitalismo opõe-se a toda espécie de ativismo estatal que apoie e promova não a si próprio mas sim a agricultura camponesa, esta "expansão da terra" não está disponível num grau adequado. Os fornecimentos necessários de produtos tropicais para as necessidades das metrópoles são forçados exportados rumo às metrópoles, reduzindo assim a sua absorção interna no terceiro mundo. Portanto, o imperialismo impõe necessariamente ao terceiro mundo uma compressão dos rendimentos, o que implica uma compressão da procura.
domingo, 3 de dezembro de 2023
Um punhado de guerras e a incompreensão das esquerdas
Domingo, 3 de dezembro de 2023
3 de dezembro de 2023
domingo, 26 de novembro de 2023
Nau sem rumo — A Petrobrás no Governo Lula
Domingo, 26 de novembro de 2023
NAU SEM RUMO — A PETROBRÁS NO GOVERNO LULA
A saída de Lula da prisão e sua eleição para Presidente do Brasil são eventos muito recentes para que possamos colocá-los, criticamente, na nossa História.
Porém, como analista do cotidiano, peço a complacência dos leitores, como se fosse licença poética, para apresentar um entendimento dos acontecimentos da sociedade, especialmente a brasileira, que sempre constituiu nossa maior preocupação.
O poder no mundo ocidental, assim entendido o euro estadunidense e suas colônias, onde está o Brasil, desde 1980 é o dos capitais financeiros. Estes capitais puderam com as desregulações agregar os capitais marginais (das drogas e toda sorte de ilícitos e crimes, onde estão o tráfico de pessoas, chantagens, corrupções e assassinatos).
Esta soma de capitais assumiu a designação, no século XXI, de “gestores de ativos”, ou seja, há o grupo de poderosíssimos senhores que mandam, e estes são seus privilegiados agentes. Algo parecido com o senhor e os feitores, na escravidão; ou o coronel e o os capangas, nas sociedades mais contemporâneas.
Que arranjo se deu na governança nacional com a eleição do indiscutível líder Luís Inácio Lula da Silva?
Que todos estão submissos à ordem financeira apátrida, dir-se-ia que é preliminar necessária e insofismável. Porém, também indiscutível, são os interesses não convergentes, ou melhor, não necessariamente convergentes, destes capitais financeiros.
Busquemos na história, mestra da vida, as comprovações. O poder fundiário surge com as Magnas Cartas na Inglaterra (de 1215 ao século XV) e se espalham pelas aristocracias europeias, é um poder que tem origem na propriedade da terra e dos rendimentos nela produzidos, que se alterou na separação do fundiário quando do surgimento do monetário, pelas criações dos bancos centrais, a partir do século XVII. Mas ganham outra expressão com os capitais fora do sistema financeiro, os capitais dos empreendimentos produtivos, consequência das grandes revoluções do século XVIII: a industrial e a francesa.
Atente o prezado leitor para as datas: Revolução Industrial – 1760; Constituição dos Estados Unidos da América (EUA) – 1787; Revolução Francesa – 1789; início das independências nas América Central e do Sul (Haiti, Paraguai, Argentina, Chile, Venezuela, Colômbia, México, Equador) até a do Brasil (1822) – 1809.
Foram pouco mais de meio século de profundas modificações civilizatórias que prosseguirão até 1980, quando as finanças recuperam o poder que tiveram até o século XX, editando o decálogo – Consenso de Washington (1989) – para rever, na prática eleitoral, em congressos e plebiscitos, quando não por golpes, todas as constituições. As 140 mudanças na Constituição de 1988 não foram todas para colocá-la adequada aos interesses financeiros, pois algumas decorrem de acordos internacionais de outras naturezas e de políticas internas e regionais, mas sem dúvida consistem na imensa maioria.
COMPOSIÇÃO DO PODER NESTE 3º GOVERNO LULA
A tripartição harmônica dos poderes é destas farsas para enganar as pessoas sobre quem governa o País. Até por ser uma característica do próprio poder, a governança do País, da empresa, dos negócios, da família é ele (o efetivo poder) quem decide como exercerá.
De tal modo o neoliberalismo conseguiu desestruturar o Poder do Estado Nacional, que cada um dos “poderes” constitucionais busca, no Brasil de hoje, seu protagonismo.
O judiciário alia sua capacidade de decisão à inclusão da elaboração de novos referenciais, fora dos instrumentos constitucionalmente estabelecidos, para decidir. E avança estas decisões para a execução de processos de rotinas governamentais.
O legislativo briga em duas dimensões. Procurando cercear a invasão judiciária na elaboração das leis – o principal elemento da decisão – e na criação de um sistema parlamentarista, mesmo que não submetido à revisão constitucional, mas, na prática, nomeando os membros do executivo e fazendo de leis e derrubada de vetos, a governança brasileira.
O executivo só faz discursos, primeiro procurando ganhar maioria do próprio Partido dos Trabalhadores (PT) e, secundariamente, para obter a pressão popular que possa ser conseguida pela liderança do Presidente Lula.
Qualquer tentativa de reforma do Estado Nacional, indispensável para corrigir os males provocados pelo neoliberalismo, encontrará a comunicação hegemônica da imprensa impressa, da televisiva e, também, da radiofônica e quase integral dos controladores das redes sociais virtuais, em feroz e permanente oposição.
Ainda repercute no imaginário brasileiro a ditadura militar com a visão dos vencidos e daqueles eliminados. Não se reconhece a imensa diferença de um Chile e Argentina já subordinados aos interesses coloniais estadunidenses, sendo, aquele país voltado para o Pacífico, o primeiro laboratório das medidas neoliberais. Também o Uruguai e o Paraguai que não saíam da sujeição de interesses alienígenas.
Por outro lado, a breve e rica revolução peruana do general Juan Velasco Alvarado (1968) era vista como mais um golpe militar, como se denominou “Junta Militar de 1963”, o governo de 1963-1966, que nacionalizou empresas e promoveu, em curto período, extraordinário desenvolvimento social e econômico no Equador.
A “democracia” que surge após duas décadas de governos militares nem era democracia e derrubava o nacionalismo, que alguns destes governos adotaram para seus projetos de poder.
PETROBRÁS NO JOGO DAS PRESSÕES
O conhecimento da Petrobrás é muito pequeno na sociedade brasileira. Isso não começou agora, no período neoliberal. Os capitais estrangeiros jamais deixaram que os brasileiros se informassem dessa empresa que respondeu pelo maior avanço social, econômico e tecnológico do Brasil.
“No domingo, 1º de agosto de 1954, praticamente nenhum dos grandes jornais do país dá a notícia, mas a Petrobrás, a empresa criada no ano anterior pela lei que instituíra o monopólio estatal do petróleo, assume o controle efetivo de todas as reservas de petróleo em território brasileiro, de todos os campos em pesquisa e exploração, de todos os navios transportadores, de todas as unidades de processamento e armazenamento de óleo bruto e derivados e de todas as outras instalações industriais de propriedade do governo federal ligadas à atividade petrolífera” (José Augusto Ribeiro, “A História da Petrobrás”, AEPET, 2023).
“Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente” (Getúlio Vargas, “Carta Testamento”, 24 de agosto de 1954).
Nestes 70 anos, a Petrobrás conheceu grandes presidentes, como o General Ernesto Geisel, e verdadeiros assassinos da reputação internacional da empresa, multipremiada pelo seu trabalho, como o senhor Pedro Parente, criador do Preço de Paridade de Importação (PPI) e responsável, como Ministro, pelos apagões de FHC.
Na Petrobrás de hoje há o conflito de três poderes que podem ser identificados pelos pronunciamentos e propostas de seus agentes para os setores industriais e da energia.
O poder das empresas que atuam na falácia da transição energética que propõem o retrocesso para o Sol e o vento, pré-industriais (1760). As empresas e países que estão trabalhando na verdadeira transição energética pesquisam a fusão nuclear. O representante deste grupo é o próprio presidente da Petrobrás, o advogado carioca Jean Paul Terra Prates.
Outro poder está nas empresas que exportam o petróleo brasileiro. Com a descoberta dos reservatórios do pré-sal, a Petrobrás não só conquistou a autossuficiência desta valiosa fonte primária de energia e insumo industrial, como em condições de produção de baixíssimo custo, pela produtividade dos reservatórios.
Fazer do Brasil um grande exportador interessa muito às empresas de petróleo estadunidenses e do Reino Unido e Holanda, que já não podem contar a garantia das reservas dos países árabes do Oriente Médio e norte da África. E, ainda mais, com o custo de produção do pré-sal. Quem, aparentemente, defende este interesse é o Ministro de Minas e Energia, o advogado mineiro Alexandre Silveira.
E existe também um terceiro grupo identificável, de empresários paulistas, verbalizando seus interesses industriais ou dos parceiros estrangeiros neste petróleo, mais como insumo industrial, por exemplo, produção de fertilizantes, do que como produtor de energia. A nosso ver, o próprio Vice-presidente e Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o médico paulista Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho faz a defesa deste setor.
E o presidente Lula?
Fica se equilibrando entre estas disputas e não faz o que seria necessário para o Brasil: abrir a auditoria das alienações do patrimônio brasileiro, feita nos governos anteriores, e promover o cancelamento destas lesivas transferências para o controle estrangeiro.
A Petrobrás e o País sob o poder neoliberal são naus sem rumo!
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
Este artigo foi publicado originalmente em 26/11/2023 no Portal Pátria Latina
segunda-feira, 12 de junho de 2023
Concentração de capital e os limites da saúde privada

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023
NEOLIBERALISMO: FONTE DE MENTIRA, CORRUPÇÃO E DERROCADA CIVILIZACIONAL.
NEOLIBERALISMO: FONTE DE MENTIRA, CORRUPÇÃO E DERROCADA CIVILIZACIONAL.
Quando se ouve de militares da mais alta patente, em pleno gozo de seus direitos de cidadania, afirmar que o comunismo é o grande inimigo, o maior problema do Brasil, só se pode concluir que se trata de um embusteiro ou de um imbecil. Não vai aqui qualquer defesa do socialismo marxista, mas a constatação dos males que a ideologia neoliberal vem provocando não só em nossa Pátria, mas no mundo inteiro.
Tome-se o circo anual, que se realiza na comuna de Davos, no Cantão dos Grisões (Graubünden), de língua alemã, com menos de 15 mil habitantes, na Suíça, denominado Fórum Econômico Mundial (FEM). Do que trata? De divulgar o neoliberalismo, influenciar e/ou corromper pessoas, com algum tipo de poder, a adotá-lo em seu país ou em sua área de influência. Nada mais do que isso.
A usura, típica do neoliberalismo, e o egoísmo, que move seus agentes, conduziram boa parte do mundo, principalmente os que estão dominados pelo contexto do Atlântico Norte, nestas décadas do século XXI, à situação de penúria, perdas, guerras, miséria que o desenvolvimento tecnológico parecia ter afastado da civilização humana.
No entanto, o neoliberalismo está em crise e a farsa deste encontro de 2023 tem o título: "Cooperação em um mundo fragmentado". Curiosamente, há 30 anos, o FEM fazia reunir, em Davos, Frederik Willem de Klerk e Nelson Mandela, Yasser Arafat e Shimon Peres, levando a crer que era o local para solução de diferenças. E a globalização, seu discurso e meta, inaugurava um novo mundo de paz. Que farsantes!
Quantas crises, quantas guerras o mundo sofreu nestes 30 anos?!
Veja-se a Líbia, o país africano de maior índice de desenvolvimento humano (IDH), de acordo com as Nações Unidas (ONU), hoje regredindo para séculos, na condição de regiões disputadas por tribos e religiões de origem islâmicas, muito antes que o rei Idris declarasse a independência do país, em 24 de dezembro de 1951, com o nome de Reino Unido da Líbia. E Muamar Gadafi, filho de beduínos nômades, fundasse, em 1966, a União dos Oficiais Livres, tomasse o poder, criando, com 27 anos de idade, o governo exercido pelo Conselho do Comando Revolucionário, islâmico, nasserista e socialista, fechando bases militares estadunidenses e britânicas, e impondo severos controles a empresas transnacionais petrolíferas, instaladas na década de 1960. Era o novo período, nacionalista e desenvolvimentista, extinto em 2011, com a invasão neoliberal, coordenada pelos Estados Unidos da América (EUA) e seu mentor, o Reino Unido (UK), sob abrigo da ONU.
Um verdadeiro surto mental toma conta das pessoas, impondo a ignorância, a fraude, a hipocrisia, as falácias, pelos sistemas de educação, pelas comunicações de massa e, principalmente, pelas redes virtuais, controladas pelos neoliberais, pelas finanças apátridas, que viram, desde 1920, o poder da informação pela tecnologia que surgia com as máquinas de processamento de dados.
Hoje todo complexo de equipamentos, software e hardware de comunicação estão nas mãos do BlackRock, Vanguard, State Street, Fidelity, JP Morgan, Goldman Sachs, Allianz, BNY Mellon, Amundi e a suíça UBS, entre outros menores gestores de ativos.
E são eles que usam o FEM para dizer o que querem dos governos e empresas que se submetem, como pets amestrados, aos encontros anuais.
Ora, qual cooperação esperam do mundo que eles pretendiam globalizado mas geraram fragmentado?
De início é importante verificar o estado de saúde destes gestores de ativos, nomeados anteriormente como exemplo de detentores do sistema de comunicação digital, e os recursos dos tesouros nacionais e do próprio sistema financeiro internacional.
Os recursos advindos com as privatizações, por todo mundo submetido à ideologia neoliberal, logo se evaporaram por erros e especulações que apenas aceleraram a concentração de bens e rendas. A tal ponto que países europeus estão reestatizando serviços importantes para preservação das suas sociedades nacionais, como transporte, saneamento urbano, fornecimento de energia.
E mesmo usando de “crises” para receber dinheiro dos tesouros nacionais, de empresas públicas e até mesmo privadas nacionais, em especial das nações menos desenvolvidas, os neoliberais prosseguiram acumulando títulos sem lastro em suas especulações, chegando hoje, nesta década de 2020, ao montante de centenas de trilhões de dólares estadunidenses (USD), próximos, se ainda atingiram, ao quatrilhão de USD.
Daí a “cooperação” exigida, ou seja, “responsabilidade fiscal” e “energia limpa”, por todo planeta, em todos os países.
O que significa “proteção climática pelo uso da energia”, algo semelhante ao “emagrecimento humano pela exposição ao luar”?
As fontes primárias de energia não foram escolhidas pelo acaso, nem por inspiração divina. Elas representam aquelas de maior quantidade de energia e aplicabilidade industrial por valor investido, ou seja, a que dá maior retorno ao investimento. E estas são as de origem fóssil, em especial o petróleo, nas formas de líquido ou gasosa (óleo e gás).
A USD 200 o barril, o petróleo é ainda econômico em relação às aplicações de outras fontes primárias. Mas, e aqui está o pulo do gato, onde existe petróleo? Fundamentalmente em três polos: na Rússia, incluindo alguns países da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), hoje denominados Comunidade dos Estados Independentes (CEI), no Oriente Médio, se estendendo pelo norte da África, e na América Latina, especialmente na Venezuela (maior reserva de petróleo do mundo) e no Brasil, com o pré-sal.
Então se inventa esta falácia do petróleo e não das mudanças geológicas da Terra, para as alterações climáticas. Lembrem-se que o deserto do Saara já foi uma floresta, que o Amazonas parte oceânica, e a própria Suíça, onde se realiza o FEM, já foi mar. E sem qualquer poluição pelo uso do petróleo sofreram estas mudanças radicais. Mas quem se atrever a expor estas realidades será considerado louco ou imbecil. Enquanto a senhora Marina Silva pode impedir o desenvolvimento brasileiro, reproduzindo informações parciais e obstaculizando construção de usinas de energia hídrica, por causa de um estágio de evolução de determinado tipo de peixe, que ela é incapaz de determinar, mas tem, por trás de seus discursos, banqueiros que a homenageiam e patrocinam.
Qual é a realidade da energia? Por fonte de empresa, pertencente aos gestores de ativos, que edita, há mais de 70 anos, estatísticas de energia, temos que (dados de 2021) o petróleo é usado por 55,37% da população mundial, a soma das energias de origem fóssil (óleo, gás e carvão) por 82,25%, a nuclear 4,25%, as de fontes hídricas, que exigem rios com adequado volume de água, 6,80%, e as que classificam como renováveis (eólica, solar, das marés, de fontes da produção agrícola) 6,70%. Seriam as renováveis tão pouco usadas se garantissem a mesma quantidade de energia e de aplicações como as fontes fósseis, produzindo fertilizantes e petroquímicos?
A questão climática é um modo de manter estas regiões produtoras de petróleo sob alguma forma de controle e de subordinação. A guerra que a Organização do Atlântico Norte (OTAN), organização belicista, trava contra a Federação Russa, no território eslavo da Ucrânia, e com sanções de diversas naturezas por países de sua coligação, após a mudança do dirigente ucraniano, por golpe de estado, é a clara demonstração do que significa o petróleo, de importante supridor dos países europeus, para as finanças apátridas.
O golpe de 2016, no Brasil, visou principalmente ao controle da Petrobrás, quando a realidade do pré-sal, com mais de uma centena de bilhões de barris de petróleo de reservas, tornou-se indiscutível. As sanções à Venezuela, as constantes ameaças de revoluções coloridas no mundo árabe, aí encontram suas origens. Senhores membros de Estado Maior e de Comando das três forças voltem aos bancos e reestudem geopolítica, porque suas compreensões estão prejudicando seriamente o Brasil.
Porém não para aí, na questão climática, esta cooperação do mundo fragmentado. É preciso combater a República Popular da China (RPCh) e sua influência na construção do mundo multipolar, na real possibilidade de nações atingirem seus objetivos de soberania nacional. O colonialismo financeiro está em crise e já não pode corromper, como o fez nas décadas 1980 e 1990, lideranças e governos pelo mundo.
Depois de ter um Fernando Henrique Cardoso, que vendeu a Petrobrás na bolsa de Nova Iorque, teve que se contentar com um Jair Messias Bolsonaro, que trocou os pés pelas mãos, mais fez pelos seus colegas militares do que pelos dirigentes financeiros. Afinal o alcance de seu descortino é limitado. E Paulo Guedes não estava à altura de sua missão destruidora do Estado Brasileiro, embora tenha se esforçado bastante, só conseguiu o Banco Central dependente apenas das finanças apátridas, independente dos interesses nacionais brasileiros.
E há verdadeira crise prestes a explodir, como as greves no Reino Unido, as manifestações de rua na Alemanha e na França, os mais populosos, ricos e desenvolvidos países europeus demonstram claramente. Também não se pode esconder o desenvolvimento asiático e da CEI, integrantes da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) ou Nova Rota da Seda, que sob a liderança compartilhada da RPCh, e da ação da Organização para Cooperação de Xangai, que cresce em participação, pelos países interessados na cooperação para a segurança — contra terrorismo, separatismo e extremismo —, além dos temas econômicos e culturais, ameaçam a colonização financeira.
Portanto, mais uma vez, o FEM mostra ser a forma de colonização das finanças apátridas, que dominaram o ocidente com as desregulações dos anos 1980, e após os triunfos dos anos 1990, conhecem a derrocada no século XXI. O Brasil não precisa desse abraço de afogado.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, atual presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás – AEPET.