Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Foi
um fim de semana decisivo: as centenas de convencionais do PMDB e os
milhões de manifestantes contra o governo de Dilma Rousseff conseguiram
afastá-la do exercício efetivo da Presidência da República.
Com a exasperante lerdeza de raciocínio que a caracteriza, Dilma
finalmente se curvou à evidência dos fatos. Percebeu que o impeachment
ou a cassação do seu mandato pelo TSE seriam inevitáveis se tentasse
seguir adiante com as ruas esmagadoramente a rejeitando e o PMDB
retirando seu apoio.
Optou por uma saída que eu sempre disse ser possibilidade em aberto:
tornar-se uma presidente figurativa enquanto outros exercem a
Presidência de fato.
Suas recentes simpatias pelo neoliberalismo e por toda a racionália
econômica da direita me levaram a supor que Dilma se tornaria rainha da Inglaterra em proveito do PSDB e PMDB. Mas foi Lula quem ganhou a parada.
Como superministro que vai impor até a política econômica, será ele,
indiscutivelmente, o presidente de fato. O terceiro mandato de Lula vai
começar nos próximos dias.
Os inimigos apresentarão tal jogada como um mero subterfúgio para
driblar a possibilidade (muito concreta) de vir a ser preso pela
Operação Lava-Jato.
O voo, contudo, é mais alto. Um sujeito ladino como ele não entraria num
governo prestes a desabar em troca de uma proteção que logo lhe seria
retirada.
Ele está apostando que, com sua reconhecida aptidão para os
toma-lá-da-cá da politicalha imunda, consiga evitar a deserção do PMDB. E
que, sacrificando parte das reservas cambiais, consiga injetar ânimo
nos mercados, fazendo os agentes econômicos voltarem a investir.
Os economistas de direita torcem seus narizes, lançando augúrios
apocalípticos. Mas, a mágica pode mesmo resultar --pelo menos durante
algum tempo. A recessão já durou demais e a prioridade dos empresários,
como dizia o guru deles, Eugênio Gudin, é o L-U-C-R-O, não a derrubada de presidentes.
"Eu sou você amanhã" |
Mas, com o governo continuando a gastar mais do que arrecada, seria uma
retomada econômica de fôlego curto, talvez não durasse sequer até a
eleição de 2018.
A menos que o Lula tenha mesmo a sorte que lhe atribuem e alguma grande
novidade injete recursos maciços na economia brasileira. Talvez, p. ex.,
ele entregue o melhor anel para não perder outro dedo, escancarando o
pré-sal para os investidores estrangeiros. Quem sabe?
O certo é que, com Lula como superministro e Dilma impossibilitada de
fazer mais lambanças, o quadro político mudará por completo. Convém
observá-lo atentamente antes de tirarmos conclusões apressadas.
PS: embora considerasse a alternância no poder com Marina Silva uma hipótese melhor, várias vezes, durante a última campanha presidencial, defendi a substituição de cabeça-de-chapa do PT. Alertei que Dilma Rousseff não tinha, nem de longe, competência para governar o Brasil nas circunstâncias dramáticas que se anteviam para o período 2015/18, enquanto o pragmático Lula, pelo menos, não ficaria perplexo e aparvalhado durante as crises. Os acontecimentos confirmaram minha avaliação.
PS: embora considerasse a alternância no poder com Marina Silva uma hipótese melhor, várias vezes, durante a última campanha presidencial, defendi a substituição de cabeça-de-chapa do PT. Alertei que Dilma Rousseff não tinha, nem de longe, competência para governar o Brasil nas circunstâncias dramáticas que se anteviam para o período 2015/18, enquanto o pragmático Lula, pelo menos, não ficaria perplexo e aparvalhado durante as crises. Os acontecimentos confirmaram minha avaliação.