Sexta, 13 de outubro de 2017
Helena Martins - Repórter da Agência Brasil
Hoje (13) é o Dia Mundial de Conscientização e Combate à
Trombose. A data foi instituída pela Sociedade Internacional de Trombose
e Hemostasia, com o objetivo de alertar sobre riscos e formas de
prevenção, bem como esclarecer a população sobre uma doença que, embora
recorrente, é cercada por dúvidas e até mitos.
Para Gutemberg
Gurgel, presidente do Congresso Brasileiro de Angiologia e Cirurgia
Vascular 2017, para evitar a doença ou atacá-la é preciso, em primeiro
lugar, diferenciar os dois tipos de trombose existentes: a arterial e a
venosa. Ambas resultam da coagulação imprevista do sangue. Quando isso
na artéria, ocorre a trombose arterial. Quando na veia, dá origem à
Trombose Venosa Profunda (TVP).
No primeiro caso, a existência de
um coágulo impede a passagem do sangue para os tecidos e,
consequentemente, causa inchaço e dor na região afetada. Mais difícil de
tratar, em geral é atacada por meio de cirurgia. Se não tratada, pode
levar à gangrena dos tecidos e até a amputação do membro. Idosos,
fumantes e diabéticos são os mais afetados.
A das veias, em 90%
dos casos, atinge vasos na perna, segundo a Sociedade Brasileira de
Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV). A organização alerta que ela
pode causar embolia pulmonar e até óbito, por isso exige muita atenção e
cuidado. Ela também pode ocorrer associadas a cirurgias de médio e
grande portes, traumatismo, gestação ou outras situações que obriguem a
uma imobilização prolongada.
Pessoas com idade avançada,
dificuldades de coagulação, insuficiência cardíaca, obesas, fumantes e
adeptas de usam anticoncepcionais ou tratamento hormonal são as que
correm maior risco de desenvolver a doença.
A Organização Mundial
de Saúde (OMS) aponta que as doenças cardiovasculares são a principal
causa de morte prevenível em todo mundo. Entre elas, têm destaque o
Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o Tromboembolismo (TEV). No Brasil,
em 2016, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 35.598 tratamentos
clínicos em decorrência da trombose. Entre janeiro e julho deste ano,
foram 16.923, segundo o Ministério da Saúde. O órgão registra 485.443
procedimentos de fisioterapia, sendo mais de 330 mil no ano passado e
155 mil neste ano.
Mitos e verdades
Cigarro e anticoncepcional causam trombose? Idosos não podem fazer viagens longas? São muitas as dúvidas que cercam a doença. A Agência Brasil questionou o médico Gutemberg Gurgel para esclarecer algumas delas.
Anticoncepcional e cigarro
Apontada
como grande fator de risco para a ocorrência de trombose entre as
mulheres, a combinação de cigarro e pílula, de fato, pode favorecer a
ocorrência da doença. Isso porque o cigarro é um vasodilatador, ao passo
que o hormônio provoca alterações nas paredes das veias, diminuindo a
velocidade da circulação. O resultado não é necessariamente o trombo,
mas pode ocorrer, especialmente, se associado a outros fatores de risco,
como obesidade, tendência familiar e vida sedentária. Por isso, o
médico alerta sobre o uso precoce de anticoncepcionais, que têm sido
indicados para tratamento de pele de adolescentes, por exemplo, e
recomenda evitar o tabagismo.
Gravidez
Mulheres
grávidas também devem ficar atentas. A maior quantidade de hormônios
femininos circulando no corpo pode desencadear aumento da coagulação.
Além disso, o médico explica que o aumento do útero promove a contração
dos vasos pélvicos, dificultando o retorno do sangue. Mais uma vez, os
casos são mais recorrentes em pacientes que possuem tendência à
coagulação.
Como forma de prevenir problemas, além do uso de
meias de compressão, Gurgel destaca a importância da prática de
atividades físicas especialmente no caso das mulheres grávidas e também
de pessoas que vão passar períodos longos com dificuldades de se
movimentar, o que ocorre, por exemplo, durante viagens. “É importante
usar as meias e buscar caminhar um pouco, pelo menos, a cada duas
horas”, explica. Contrair o músculo da panturrilha e colocar o pé no
chão também podem ajudar. Em todos os casos, destaca: é preciso tomar
água e evitar a desidratação, sobretudo em ambientes fechados e
refrigerados por ar-condicionado.
Cirurgias
Em
cirurgias e no pós-operatório, o médico explica que há protocolos sobre
o uso prévio ou posterior de medicação específica. A situação é
delicada, pois envolve risco de hemorragia. Mas, segundo ele, novos
medicamentos têm sido desenvolvidos para facilitar o uso, inclusive por
via oral, sem necessidade de injeção, o que garante maior segurança ao
diminuir o risco de sangramento.
Diagnóstico e tratamento
Gutemberg
Gurgel alerta que a TVP é, em geral, assintomática, o que dificulta o
diagnóstico. Para evitar surpresas, ele indica que pessoas afetadas
pelos fatores de risco busquem pesquisar a situação da circulação
sanguínea do corpo, pois a presença de alguma anormalidade genética pode
ser decisiva. Outra sugestão é atentar para o aparecimento de edemas,
sobretudo quando surgem sem serem precedidos por pancadas e acompanhados
por dor ao caminhar.
O jornalista Daniel Fonsêca, 34 anos,
sofreu trombose após passar alguns dias imobilizado em um hospital, em
decorrência de um trauma. Os primeiros sintomas foram dores fortes, que
foram inicialmente identificadas como resultado de alguma distensão
muscular. A permanência o levou a realizar o exame ecodoppler, que
permite a análise do sistema venoso. Foram constatadas, então, não
apenas a existência de trombo, mas até o risco iminente da perda das
duas pernas. Submetido à medicação anticoagulante logo após o
diagnóstico, escapou de ter sequelas graves, mas passou meses tomando
remédios e com dificuldades para dirigir ou até caminhar devido às
dores.
Superada a fase mais difícil, foi preciso mudar hábitos e
adotar medidas preventivas. Como o anticoagulante gera riscos de
hemorragias, após o trauma passou a ampliar o cuidado para evitar
acidentes, como andar de bicicleta ou utilizar instrumento cortantes.
Meia hora antes de viagens com pelo menos três horas de duração,
injetava medicação intravenosa no ambulatório do próprio aeroporto.
Além
disso, passou a utilizar meias elásticas de alta compressão. À época,
Daniel tinha 23 anos e não escapou do preconceito.“Muitas vezes eu
relativizei e negligenciei o uso das meias por causa da questão
estética. Passava dois, três meses sem usar por conta do preconceito que
existe, ainda mais quando se é jovem”, conta.
As meias são
fundamentais para tratar ou prevenir problemas circulatórios em geral,
mas a dificuldade para ampliar o uso delas não é só estética. O par,
segundo o jornalista, custa entre R$ 160 e R$ 200 e dura apenas seis
meses. “Isso é muito relevante, porque grande parte das pessoas que
sofrem trombose nos membros inferiores são da população pobre. Gente que
trabalha muito em pé ou sentado e não tem chance de prevenção”, como
motoristas de ônibus, lavadeiras ou vendedores, alerta.