“Ninguém é igual ao
outro perante a lei. Haverá distinção de múltiplas naturezas, que não
garantirão aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade”.
Da Tribuna da Internet
Jorge Béja
Eu quero e todos querem que Michel Temer fique cem por cento curado.
Que volte ao exercício da Presidência. Que viva ainda muitos anos. No
mínimo mais uns 20 para que possa ver crescer seu pequeno filho, e, quem
sabe, engravidar sua esposa Marcela e de seu ventre fazer brotar e vir à
luz outro Michelzinho e muito mais. Que Temer esteja firme, inteiro,
com saúde perfeita, para enfrentar, também, as denúncias e responder
pelas práticas de crimes comuns que a procuradoria-geral da República
apresentou ao Supremo Tribunal Federal contra ele e Temer conseguiu
impedir, na Câmara dos Deputados, que as denúncias fossem examinadas
pela Suprema Corte, ao menos enquanto exercer a presidência. Temer
comprou os votos suficientes dos deputados calhordas e escapou pela
segunda vez.
O povo brasileiro é de boa índole. É sentimental. É solidário,
mormente na enfermidade, na dor. E ninguém deseja que o presidente
morra. Ou que fique inválido para o trabalho e deixe o cargo antes do
tempo. Ele precisa estar vivinho da silva para enfrentar o futuro,
próximo e remoto.
ATENDIMENTO – Agora, cá pra nós, o que passa na
cabeça de duzentos milhões de eleitores brasileiros quando aparece na
televisão o atendimento médico-hospitalar de primeiríssima qualidade
dado a co-eleito Temer? Sim, sabemos que é o presidente da República, e
que, a reboque de eleita Dilma, ascendeu à presidência por causa do
impeachment.
Sim, seja quem for, é o presidente, a mais alta autoridade nacional
que precisa de atendimento médico-hospitalar que lhe deve ser prestado
de imediato, com urgência, nos melhores e mais ricos hospitais, como é o
caso do Sirio-Libanês em São Paulo, antes, no Hospital do Exército, em
Brasília. Sabemos disso. Tudo bem. Tudo certo. O presidente precisa ser
socorrido e não pode morrer e ninguém deseja sua morte. Mas o que passa
na cabecinha de duzentos milhões de eleitores que não têm atendimento
médico, não têm hospitais, não têm plano de saúde, nem pronto-socorros,
bem ou mal equipados, não têm medicação, não têm dinheiro, comida,
trabalho condigno e bem remunerado?
O QUE SENTEM? – Que passa no pensamento dessa
imensidão de brasileiros “ferrados” de verde e amarelo que consegue
sobreviver nas “Rocinhas” que se multiplicam neste continente chamado
Brasil? Que pensam, que sentem eles, que pensamos, que sentimos nós
quando vemos o presidente ser atendido com urgência, qualidade, pompa,
reverência, boletins médicos diários, entrevistas coletivas da equipe
médica?
Ora bolas, é claro que nos sentimos órfãos, desamparados,
menosprezados, inferiorizados, abandonados. Não é sentimento de inveja,
mas de revolta, porque para nós, povão, tudo falta, nada existe e quando
existe é precário. No Instituto Nacional de Traumato Ortopedia (INTO)
—outrora dirigido pelo médico Sérgio Cortes, hoje atrás das grades — tem
pacientes que aguardam há 10 anos por uma cirurgia. E cirurgia não
complicada, que não mexe com a bexiga, com a próstata, nem com o
“pinto”!
ENFARTE DE FIGUEREIDO – Um fato concreto. Corria o
ano de 1983. O então presidente João Baptista Figueiredo (1918+1999)
teve um enfarto do miocárdio aqui no Rio. Levado para o Hospital dos
Servidores do Estado, próximo à praça Mauá, lá permaneceu por alguns
dias e depois viajou para Cleveland, onde recebeu uma ponte de safena e
outra mamária.
Enquanto isso minha tia, Maria Madalena Beja, então com 70 anos,
nascida em Quatis, de onde nunca saiu, Tia Maria agonizava no Hospital
da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que naquela época ainda
pertencia à União. Estava no CTI à espera de um marca-passo que o
hospital não tinha para trocar com o antigo e velho que estava quase
parando no seu peito.
Não, não cruzei os braços. Mandei, via fax e telex, para o hospital
de Cleveland e para o Palácio do Planalto um dramático pedido de socorro
ao presidente Figueiredo. Em seguida liguei para um repórter conhecido
(Carlos Magno) do Jornal do Brasil e perguntei se o meu gesto
interessava ao jornal. Interessou. Minutos depois da conversa ao
telefone o repórter foi até o meu escritório com um fotógrafo. E no dia
seguinte a matéria deu primeira página. Também no dia seguinte o palácio
do Planalto arranjou um marca passo novo. E neste mesmo dia seguinte a
pecinha foi trocada e o diretor do hospital da CSN me ligou pedindo que
eu fosse lá. Fui.
TUDO CERTO – Encontrei Tia Maria já no quarto
(individual). Tudo limpo. Roupa de cama branquinha branquinha. Ar
condicionado e três ou quatro médicos junto dela. Um mês depois, o
general-comandante da Academia Militar das Agulhas Negras, que fica em
Resende e próximo a Quatis, apareceu na humilde casa da minha tia, de
dois quartos pequenos, sala, cozinha, banheiro e fogão a lenha. E
entregou uma grande foto (um post, digamos) do presidente Figueiredo com
a seguinte dedicatória, do próprio punho do presidente: “À Maria
Madalena Beja, com respeito e carinho. Atenciosamente, João Batista de
Oliveira Figueiredo”.
É, o homem era sensível. E o sobrinho de Madalena criativo. Fez o que
sua criatividade ordenou. E conseguiu. E Madalena ainda viveu mais 21
anos. Hoje, a rua em que morava, tem o seu nome. Nasceu naquela casa e
naquela casinha morreu. Era farta e nobre. Era poetisa e repentista.
ARTIGO MENTIROSO – Para terminar. A Constituição
Federal tem um monte de artigos mentirosos. Logo o artigo 5º é a maior
tapeação do mundo quando diz que “todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Mentira. A redação verdadeira é para ser esta: “Ninguém é igual ao
outro perante a lei. Haverá distinção de múltiplas naturezas, que não
garantirão aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade”.