Segunda, 30 de outubro de 2017
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
As
mortes causadas por policiais em serviço e de folga subiram 25,8% em
2016 em relação ao ano anterior, segundo o Anuário Brasileiro da
Segurança Pública divulgado hoje (30). De acordo com o levantamento,
foram registrados 4,2 mil homicídios por policiais militares e civis no
ano passado. Entre 2009 e 2016, chega a 21,9 mil o número de pessoas que
perderam a vida por ação de agentes dessas corporações.
Quase a
totalidade dos mortos por policiais em 2016 eram homens (99,3%), sendo a
maioria negros (76,2%). A maior parte das vítimas (65,2%) tinha entre
18 e 29 anos. Os adolescentes, entre 12 e 17 anos, representam 16,6% dos
mortos por agentes civis ou militares.
Em números absolutos, o
Rio de Janeiro tem a maior quantidade de mortos por policiais, com 925
casos, 14,8% de todas as mortes violentas intencionais no estado (6,2
mil). Em São Paulo, foram registradas 856 vítimas de ações de policiais,
o que significa 17% de todos os casos em que houve intenção de matar no
estado (4,9 mil mortes violentas).
“Aqui em São Paulo a gente
conseguiu reduzir os homicídios de forma bastante expressiva desde o
início dos anos 2000, mas a letalidade da polícia permanece em uma
tendência de crescimento”, destacou a presidente executiva do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, responsável pelo estudo.
Violência naturalizada
De
2015 para 2016, o número total de mortes intencionais, que inclui
latrocínios, assassinatos e lesões seguidas de morte, caiu de 5,2 mil
para 4,9 mil em São Paulo. Por outro lado, as mortes causadas por
policiais tiveram alta de 2,1%.
O descompasso está ligado, na
avaliação de Samira, à forma como as mortes causadas por policiais são
encaradas no Brasil. “Quando a gente fala de letalidade da polícia, essa
é a grande questão: assumir isso enquanto um problema institucional.
Isso não tem acontecido no Brasil. A gente não tem políticas com foco no
controle do uso da força letal, porque isso não é encarado como um
problema”, ressaltou.
“A gente está naturalizando a letalidade
policial no Brasil”, acrescentou o professor da Fundação Getulio Vargas
(FGV) Rafael Alcadipani. “A sociedade está pedindo para matar e os
comandos das polícias estão aceitando esse pedido da sociedade”,
destacou.
A opinião é semelhante à do presidente da Associação
Nacional dos Praças, cabo Elisandro Lotin. “Para a sociedade hoje, qual é
a lógica? Bandido bom é bandido morto. O policial somatiza isso e acaba
externando. Na cabeça dele, ele está fazendo a coisa certa”, ressaltou.
Por
isso, ele também defende que o primeiro passo é reconhecer que a
letalidade policial está em um patamar preocupante. “Os comandos das
instituições policiais militares, os comandos da Polícia Civil têm de
reconhecer que nós temos um problema. E, a partir desse problema, buscar
solução.”
Policiais mortos
O número de
policiais assassinados também teve crescimento. De 2015 para 2016, o
número de agentes civis e militares vítimas de homicídio passou de 372
para 437, uma alta de 17,5%. A maior parte dos mortos eram negros (56%)
com idade entre 30 e 49 anos (63,6%).
O cabo Lotin acredita que
essas pessoas acabam sendo vítimas de uma política de segurança pública
com foco no combate entre os agentes da lei e os criminosos. “A
segurança pública se faz hoje na perspectiva do enfrentamento,
belicista”, ressaltou. Além disso, ele destacou a precarização das
condições de trabalho dos policiais, que são submetidos a “jornadas de
trabalho extenuantes”.