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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Problemas no governismo

Quinta, 1 de abril de 2010 
Por Ivan de Carvalho
A chapa governista para as eleições majoritárias já está praticamente pronta. É a primeira. O vocábulo praticamente é cabível, como se verá.  Declarações feitas ontem pelo governador Jaques Wagner confirmam o que todo mundo já sabia e sinalizam fortemente para o único ponto sobre o qual ainda pairavam leves dúvidas – a participação, nela, do senador César Borges, candidato à reeleição.
À reeleição concorre também o governador. A escolha do candidato a vice já está oficializada: trata-se do ex-governador Otto Alencar. Para companheira de chapa de Wagner está formalmente confirmada Lídice da Mata, faltando até ontem apenas uma espécie de oficialização. No caso, do formal para o oficial a diferença é irrelevante.
A palavra “praticamente” foi usada por causa do senador César Borges. É que as declarações do governador passam a idéia de que a participação de Borges em sua chapa é coisa consumada, mas nos bastidores consta que existem alguns “detalhes” a acertar. Entre estes, a candidatura de Waldir Pires ao Senado e a resistência dele e de um grupo do PT ao ingresso de César Borges na chapa.
E o importantíssimo detalhe das coligações para as eleições proporcionais de deputados federais e estaduais, estas mais ainda que aquelas. As bancadas do PR querem entrar numa coligação em que esteja o PT e amplos setores do PT não querem o PR nas coligações proporcionais em que estejam os petistas. Fazem cálculos eleitorais e concluem que seriam garfados.
Terá sido por esta razão que um site noticiou que nas negociações para a chapa majoritária as coligações proporcionais foram deixadas para definição em negociações “pelos partidos da base do governo”. Sem os pulsos fortes do governador e do senador César Borges, de tal “arrumação” poder-se-ia esperar o caos. Terá sido também por esta razão que o deputado federal José Rocha, do PR, declarou a outro site que a decisão do PR quanto a quem vai se aliar foi adiada para “o dia cinco ou seis de abril”, após, portanto, o ministro Alfredo Nascimento deixar o cargo e voltar ao exercício da presidência nacional do PR. E explicitou que, por exemplo, “o governador ainda não falou” sobre as coligações proporcionais.
A verdade é que o PT acha que será fortemente prejudicado se fizer coligações proporcionais (principalmente a estadual) com o PR e este faz questão dessas coligações e, digamos, de “garfar” o PT, num jogo de compensações que é a essência da política que vem sendo feita na Bahia. Você dá, mas você toma. Perdão, para que não hajam mal entendidos – as ajudas têm que ser amplamente recíprocas.
Especialmente porque toda a estratégia do governador aponta para um esforço de ganhar as eleições em turno único, evitando o segundo turno, no qual, neste momento, só Deus e seus mais íntimos anjos e santos seriam capazes de prever o que aconteceria. Dilma pode ganhar e então seria uma coisa ou outra. Serra pode ganhar e então seria uma coisa, sem outra. E o tempo no rádio e TV seria igual para as duas partes.
Já que abordamos a questão do segundo turno, um atilado e experiente analista político supõe que Luiz Bassuma, candidato do PV ao governo, terá de oito a dez por cento dos votos, e isto seria a garantia de que haverá segundo turno, enquanto Marina, candidata a presidente do mesmo partido, chegará aos 15 por cento. À observação sobre a pequena estrutura do PV e o tempo quase inexpressivo que terá na tevê e no rádio, ele replica: “É, mas Marina e o PV vão explorar ao máximo a Internet. Você vai ver”.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.