Quarta, 12 de maio de 2010
Por Ivan de Carvalho

Eleito presidente, empossado, Collor governou, mas explodiu um grande escândalo de corrupção – para a época – em seu governo e foi instaurado, depois de uma CPI, um processo de impeachment. O presidente tinha uma base política muito frágil no Congresso Nacional e não conseguiu evitar ser acusado pela Câmara dos Deputados, o que levou à instalação de julgamento no Senado, como determinava a Constituição.
Uma grande parcela da opinião pública aderiu ao movimento chamado “fora Collor”, capitaneado pelo PT e PC do B e depois endossado por outras legendas, com os “caras pintadas” – que não pintaram as caras durante o bem maior escândalo do Mensalão, anos depois. A mídia entrou em peso na campanha contra o presidente e a sinergia criada pela aliança entre essas forças selou o destino de Collor.
Ele foi obrigado a renunciar ao mandato de presidente da República no momento em que o Senado Federal realizava a sessão de julgamento. A renúncia, ato unilateral de vontade, foi lida no plenário e punha fim ao processo, mas aí o Senado decidiu (deve-se dar às coisas os seus verdadeiros nomes) dar um golpe na Constituição e fez o que já não podia fazer, porque houvera a renúncia e Collor já não era presidente, mas um cidadão comum, e já não havia mais um processo de impeachment em curso – coisas que o então senador e jurista baiano Josaphat Marinho explicou ao plenário (que já sabia disso muito bem, não havia inocência ali) e à nação, em memorável discurso constitucionalista.
O Senado, obviamente com medo de uma milagrosa futura volta eleitoral de Collor (como ocorrera com Getúlio Vargas), suspendeu-lhe os direitos políticos por oito anos. Passado esse tempo, Collor começou a voltar. Por Alagoas, como senador. Agora, tentará chegar a governador. Collor está na base do governo comandado pelo PT que derrotou nas eleições presidenciais de 89 e que tanto fez para tirá-lo da presidência. E, como tem apoiado Lula no Senado, apoiará, como já disse, a candidatura de Dilma Rousseff, do PT, a presidente. Logo saberemos se ela subirá no palanque dele.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.