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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O palanque de Collor

Quarta, 12 de maio de 2010
Por Ivan de Carvalho
O senador Fernando Collor de Mello, hoje filiado ao PTB, confirmou sua candidatura ao governo de Alagoas. Foi assim que tudo começou, na década de 80 do século passado, quando ele chegou ao governo desse Estado e ainda nele espichou os olhares para o Palácio do Planalto, concorrendo à sucessão do enfraquecido José Sarney nas eleições presidências de 1989 e tendo como principal base de apoio político as Organizações Globo e principal instrumento de propaganda a Rede Globo de televisão. Ele fez ontem de manhã o anúncio formal numa emissora de rádio.
    Eleito presidente, empossado, Collor governou, mas explodiu um grande escândalo de corrupção – para a época – em seu governo e foi instaurado, depois de uma CPI, um processo de impeachment. O presidente tinha uma base política muito frágil no Congresso Nacional e não conseguiu evitar ser acusado pela Câmara dos Deputados, o que levou à instalação de julgamento no Senado, como determinava a Constituição.
Uma grande parcela da opinião pública aderiu ao movimento chamado “fora Collor”, capitaneado pelo PT e PC do B e depois endossado por outras legendas, com os “caras pintadas” – que não pintaram as caras durante o bem maior escândalo do Mensalão, anos depois. A mídia entrou em peso na campanha contra o presidente e a sinergia criada pela aliança entre essas forças selou o destino de Collor.
Ele foi obrigado a renunciar ao mandato de presidente da República no momento em que o Senado Federal realizava a sessão de julgamento. A renúncia, ato unilateral de vontade, foi lida no plenário e punha fim ao processo, mas aí o Senado decidiu (deve-se dar às coisas os seus verdadeiros nomes) dar um golpe na Constituição e fez o que já não podia fazer, porque houvera a renúncia e Collor já não era presidente, mas um cidadão comum, e já não havia mais um processo de impeachment em curso – coisas que o então senador e jurista baiano Josaphat Marinho explicou ao plenário (que já sabia disso muito bem, não havia inocência ali) e à nação, em memorável discurso constitucionalista.
O Senado, obviamente com medo de uma milagrosa futura volta eleitoral de Collor (como ocorrera com Getúlio Vargas), suspendeu-lhe os direitos políticos por oito anos. Passado esse tempo, Collor começou a voltar. Por Alagoas, como senador. Agora, tentará chegar a governador. Collor está na base do governo comandado pelo PT que derrotou nas eleições presidenciais de 89 e que tanto fez para tirá-lo da presidência. E, como tem apoiado Lula no Senado, apoiará, como já disse, a candidatura de Dilma Rousseff, do PT, a presidente. Logo saberemos se ela subirá no palanque dele.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.