Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A mídia avestruz. Ou toupeira

Quarta, 12 de maio de 2010
Incompreensível o que acontece com a nossa mídia, em especial com os jornais. Tem hora que ela, a mídia, arregala os olhos, enxerga bem, explora o assunto corrupção, denuncia falcatruas, desenvolve um bom trabalho de investigação jornalística. Cumpre com a sua missão. Em outros momentos, contudo, tem a visão de uma toupeira ou a esperteza de uma raposa ou, ainda, segue o ditado popular que diz que macaco velho não mete a mão em cumbuca.

É o que parece acontecer no momento com dois assuntos importantes.

1-Um desses assuntos é a gravíssima denúncia feita esta semana por um site jornalístico de que o governo teria violado o sigilo fiscal de alguns generais que têm opinião —certa ou errada, não vem ao caso— contra posições do governo federal. Goste ou não das posições e opiniões desses servidores públicos, um governo não deve, não pode, sem a autorização da Justiça, bisbilhotar o sigilo fiscal deles. Nem deles e nem de qualquer cidadão.

Quanto ao sigilo fiscal que teria sido quebrado por ordem do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, o jornalista Cláudio Humberto, em seu site, vem, solitariamente, abordando o assunto nos último três dias, incluindo esta quarta-feira.

Houve desmentidos do governo de que os sigilos tenham sido violados. O jornalista, por seu lado, apresenta documentos que comprovariam o pedido feito pelo GSI da Presidência da República, bem como documentos da Receita Federal evidenciando o cumprimento da ordem emanada do Palácio.

E a grande imprensa, a grande mídia? Calada. Isso apesar da repercussão que as denúncias tiveram no Congresso Nacional. O que está em jogo no momento não é o sigilo fiscal de quatro ou cinco pessoas, mas sim a ordem jurídica do país, isto se os fatos relatados por Cláudio Humberto forem verdadeiros, o que, aparentemente são. Se os documentos reproduzidos no site forem cópias autênticas, não haveria dúvidas quanto à quebra ilegal do sigilo fiscal.

2-O segundo assunto que não foi tratado nem mesmo pela imprensa do DF, pelo menos até agora, é a nova denúncia do jornalista Edson Sombra, amigo e testemunha de Durval Barbosa. Durval foi quem denunciou a corrupção alvo da Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, e que, até o momento, resultou numa prisão temporária de Arruda.

Sombra publicou ontem à tarde (11/5) em seu blog um longo texto. Na postagem algumas figuras da política de Brasília são despidas, colocadas nuas, reveladas. Isso, claro, de acordo com o texto do jornalista.

Critica a postura de Chico Vigilante, ex-distrital, ex-deputado federal, ex-presidente do PT-DF, atual dirigente do partido. Faz carga também contra Agnelo Queiroz, ex-PC do B e que deverá ser o candidato a governador pelo Partido dos Trabalhadores. Sombra escreveu em seu blog: “Não posso esquecer e estarei pronto a revelar os conteúdos das conversas e tratativas com o senhor Agnelo sobre a campanha deste ano que, embora não envolvam dinheiro, revelam que para chegar ao poder, eles fazem acordo até com o diabo, desde que o diabo seja vice.”

O diabo, além de vestir Prada, parece que pelas bandas de Brasília veste outras roupas.

Em determinado trecho de sua postagem no blog ele foi arrasador contra Chico Vigilante que, segundo Durval Barbosa, teria saído uma vez chorando da casa de Sombra. Veja o que escreveu o jornalista:

“Concordo com Chico Vigilante quando ele afirma à imprensa que seria impossível ele ter saído da minha casa chorando, uma vez que corrupção não o comove.”

Outras denúncias contra atuais distritais do PT, e também contra ex-parlamentares, constam no texto de Sombra.

Acredita o Gama Livre que a grande imprensa deveria, com a estrutura que possui, se debruçar sobre as denúncias de Edson Sombra. Explorá-las, investigá-las, confirmá-las ou desmenti-las.

O jornalista Sombra esclarece em seu blog que encaminharia às “autoridades competentes” a íntegra do relato feito no texto.

Precisamos ter a certeza se a mídia está dando uma de avestruz, de toupeira ou de macaco velho. Seja qualquer uma das respostas, seria coisa imperdoável, prejudicial à democracia brasileira.