Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Silêncio suspeito

Terça, 11 de maio de 2010
Não é novidade que jornais não gostam de explorar informações veiculadas por outros jornais. Mas é verdade que um assunto importante divulgado por um jornal, TV, rádio, site ou blog, faz com que toda a mídia passe a explorar tal assunto. Não é o que pode ser constatado nestes dois últimos dias com as informações divulgadas pelo site do jornalista Cláudio Humberto, informações que, se verdadeiras, deveriam ser exploradas e aprofundas por toda a mídia, especialmente pelos jornais.
O jornalista Cláudio Humberto publicou ontem (10/5) em seu site que o governo havia violado o sigilo de seis oficiais do Exército, dentre eles três generais da ativa que criticaram o governo Lula ou estavam para serem nomeados para cargos no governo.
Segundo o jornalista, a quebra do sigilo aconteceu por requerimento do GSI da Presidência (Gabinete de Segurança Institucional) à Receita Federal. Como resposta ao pedido, a Receita teria informado que “Nada consta” a respeito das supostas vítimas de quebra de sigilo.
Não importa saber se foram oficiais que criticaram o governo Lula, ou se foram simples cidadãos brasileiros. O grave, o inadmissível, é um fato como esse, de bisbilhotagem ilegal, sem decisão judicial, acontecer, se é que aconteceu.
Ontem (10/5) à noite o site de Cláudio Humberto publicou que o Exército diz que a GSI negou a quebra de sigilo. O jornalista, contudo, diz que o “site mantém a informação”.
Hoje (11/5), o jornalista continua a explorar o assunto que, ninguém pode negar, é da maior importância para um país que diz viver num estado democrático de direito.
Tentando desmontar os argumentos do desmentido da GSI, o jornalista publica na sua coluna de hoje que a ordem do GSI ao Ministério da Fazenda, segundo sua fonte, possuía a assinatura eletrônica do coronel Luiz Fernando Lima Santos, chefe de gabinete no GSI. O coronel é subordinado do general Jorge Félix, que é o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional do governo Lula.
Ontem (10/5) a coluna havia divulgado que a ordem do GSI havia chegado ao Ministério da Fazenda pelo sistema “Note”, que é um sistema de comunicação entre ministros. Horário que a ordem chegou à Fazenda: 15h37 de 18 de janeiro deste ano. A ordem depois foi repassada para a Receita Federal. Isso teria acontecido, segundo o jornalista, às 13h08 do dia 23 de janeiro.
Em 17 de março deste ano, às 9h11, a Receita teria informado ao Ministério da Fazenda o resultado da apuração. Já no dia 23 de março, às 18h56, o levantamento com “nada consta” teria sido encaminhado ao Gabinete de Segurança Institucional.
Não é a quebra de sigilo de alguns oficiais que está em jogo. Em jogo estão as instituições democráticas do país. A mídia bem que poderia explorar o assunto e esclarecer o que realmente se passou.