Segunda, 28 de junho de 2010
Por Ivan de Carvalho
Em sua convenção estadual, realizada ontem com a presença da ex-ministra Dilma Rousseff, candidata do partido a presidente da República, o PT oficializou a candidatura do governador Jaques Wagner à reeleição. E este teve direito a “recado” de Lula transmitido por Rousseff, recomendando que o “galego” – modo pelo qual o presidente costuma chamar o governador e seu ex-ministro – continue lutando e se reeleja.
Tendo em conta que o governismo federal tem dois palanques na Bahia – o de Wagner e o do peemedebista Geddel Vieira Lima, também candidato a governador – esse recado é muito expressivo, cheio de significado. Provavelmente ele não existiria há dois meses atrás, quando a conjuntura política nacional não era igual à de hoje. Na verdade, esse recado, dado para ser divulgado, há dois meses seria impensável.
É que nesse período de dois meses a conjuntura político-eleitoral mudou muito. Há dois meses, a candidata governista a presidente, Dilma Rousseff, estava em posição desconfortável. O principal candidato da oposição, o tucano José Serra, aparecia em considerável vantagem em todas as pesquisas eleitorais. Forças políticas, a exemplo do PP, ensaiavam saltar do barco da aliança governista.
A poderosa máquina do governo funcionando a toda força, um presidente popular trabalhando em tempo integral pelo poste que escolheu para sucedê-lo, a consolidação do PMDB como aliado e um brilhante e até ousado (no que isto significou infringir a lei com propaganda eleitoral antecipada em programa de dez minutos em rede nacional) marketing político foram fatores que transformaram a conjuntura eleitoral. A transformação contou com o suporte fundamental de uma fase econômica aparentemente muito favorável – já que não dá para a grande maioria ver certos esqueletos que estão no armário, como é o caso da estonteante dívida pública.
Por tudo isso, Dilma Rousseff passou à frente de Serra na última pesquisa eleitoral do Ibope e este fato produz (já produziu alguns e produzirá outros) fatos favoráveis a ela, em diversos aspectos. Quanto a Serra, não conseguiu atrair Aécio Neves para vice em sua chapa, perdeu muitos votos para Dilma (o que leva a uma contagem em dobro), enrolou-se todo na escolha de um nome para candidato a vice-presidente e acabou criando uma crise, até ontem à noite não resolvida, com seu principal aliado, o DEM, que faz sua convenção nacional depois de amanhã.
Ora, ante este brevíssimo resumo da conjuntura eleitoral (que negligencia o que pode ser negligenciado) pode-se entender o recado de Lula transmitido a Wagner pela candidata petista Dilma Rousseff, apoiada pelo PMDB, que na Bahia tem Geddel Vieira Lima como candidato a governador. Dilma e Lula, este até mais do que ela, já estão podendo dar-se ao luxo de exteriorizar preferências que há dois meses guardariam para si mesmos.
Quanto mais a conjuntura eleitoral melhorar para Dilma, menos ela e Lula vão valorizar os aliados de fora do PT. Se, no entanto, houver uma (talvez improvável) inversão de tendência, favorecendo a oposição, aí veremos o presidente e sua candidata sofregamente revalorizando os aliados.
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Este artigo foi publicado originalmene na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Tendo em conta que o governismo federal tem dois palanques na Bahia – o de Wagner e o do peemedebista Geddel Vieira Lima, também candidato a governador – esse recado é muito expressivo, cheio de significado. Provavelmente ele não existiria há dois meses atrás, quando a conjuntura política nacional não era igual à de hoje. Na verdade, esse recado, dado para ser divulgado, há dois meses seria impensável.
É que nesse período de dois meses a conjuntura político-eleitoral mudou muito. Há dois meses, a candidata governista a presidente, Dilma Rousseff, estava em posição desconfortável. O principal candidato da oposição, o tucano José Serra, aparecia em considerável vantagem em todas as pesquisas eleitorais. Forças políticas, a exemplo do PP, ensaiavam saltar do barco da aliança governista.
A poderosa máquina do governo funcionando a toda força, um presidente popular trabalhando em tempo integral pelo poste que escolheu para sucedê-lo, a consolidação do PMDB como aliado e um brilhante e até ousado (no que isto significou infringir a lei com propaganda eleitoral antecipada em programa de dez minutos em rede nacional) marketing político foram fatores que transformaram a conjuntura eleitoral. A transformação contou com o suporte fundamental de uma fase econômica aparentemente muito favorável – já que não dá para a grande maioria ver certos esqueletos que estão no armário, como é o caso da estonteante dívida pública.
Por tudo isso, Dilma Rousseff passou à frente de Serra na última pesquisa eleitoral do Ibope e este fato produz (já produziu alguns e produzirá outros) fatos favoráveis a ela, em diversos aspectos. Quanto a Serra, não conseguiu atrair Aécio Neves para vice em sua chapa, perdeu muitos votos para Dilma (o que leva a uma contagem em dobro), enrolou-se todo na escolha de um nome para candidato a vice-presidente e acabou criando uma crise, até ontem à noite não resolvida, com seu principal aliado, o DEM, que faz sua convenção nacional depois de amanhã.
Ora, ante este brevíssimo resumo da conjuntura eleitoral (que negligencia o que pode ser negligenciado) pode-se entender o recado de Lula transmitido a Wagner pela candidata petista Dilma Rousseff, apoiada pelo PMDB, que na Bahia tem Geddel Vieira Lima como candidato a governador. Dilma e Lula, este até mais do que ela, já estão podendo dar-se ao luxo de exteriorizar preferências que há dois meses guardariam para si mesmos.
Quanto mais a conjuntura eleitoral melhorar para Dilma, menos ela e Lula vão valorizar os aliados de fora do PT. Se, no entanto, houver uma (talvez improvável) inversão de tendência, favorecendo a oposição, aí veremos o presidente e sua candidata sofregamente revalorizando os aliados.
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Este artigo foi publicado originalmene na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.