Segunda, 27 de dezembro de 2010
Por Ivan de Carvalho
O segundo mandato do presidente Lula termina às 24 horas do dia 31 (embora ele permaneça decorativamente no cargo até passar a faixa à sucessora no dia seguinte) e um dos que saem com ele, ao contrário dos vários que ficam, é o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. Em seu lugar será nomeada a jornalista Helena Chagas.
O ministro sai atirando – mais uma vez, na imprensa. Esta tem sido uma de suas três principais ações durante os quatro anos no cargo. Quanto às outras duas, foi bem sucedido em uma e, por enquanto, um fracasso na outra.
O sucesso aconteceu na tarefa de comandar a propaganda do governo. Realmente o governo termina muito bem avaliado pela grande maioria da população e uma parte disso certamente se deve ao direcionamento e utilização eficaz do pesado investimento feito na publicidade oficial.
A ação que até agora pode ser considerada um fracasso é a da implantação de uma rede de TV estatal. É verdade que o fracasso não é total. Martins atingiu o objetivo de criar a tevê estatal e, dado este primeiro passo, fica difícil prever o futuro dessa iniciativa, uma vez que o governo que assumirá em 1º de janeiro é de continuidade e poderá dar curso e ampliar o que foi iniciado nesse setor da televisão estatal. A questão é que, por enquanto, a audiência da tevê insiste em situar-se próxima de zero.
É claro que isso pode mudar, mas para ter audiência a TV Brasil, com seu nome tão patriótico, teria de adotar uma programação interessante, atraente e criativa e ao mesmo tempo capaz de – e não terá sentido nem justificativa se for diferente – contribuir para melhorar os níveis cultural e de instrução da população. Condições que está muito longe de atender.
Mais nos importa a outra preocupação do ministro Franklin Martins, a de atirar na imprensa na qual por longo tempo trabalhou com bastante destaque. Mas, no governo, entendeu de criar um perigoso “marco regulatório” para os veículos de comunicação social, uma regulação da mídia.
E o que surgiu dessa disposição, partilhada pelo presidente Lula, por palavras e atos (atos como a convocação de uma Confecom em dezembro de 2009 para sugerir, entre outras coisas, a criação de Conselhos estaduais e um conselho federal de comunicação), foram idéias que, se implementadas, têm o potencial de cercear seriamente a liberdade de expressão, sem a qual nenhuma outra se mantém.
Na hora da saída, o ministro Martins, em entrevista ao site Congresso em Foco, acusou a imprensa brasileira de ser “partidária”, de ter “má vontade” com o governo e de fazer “dobradinha” com a oposição. E disse que os grandes jornais, que chama de “jornalões”, vivem atualmente um “seríssimo problema de credibilidade”.
Acusou os jornais de distorcerem números favoráveis ao governo, disse que vão chegar ao fim do governo Lula “vendendo menos do que vendiam antes” e acrescentou que se o seu projeto de regulação da mídia, que vai encaminhar à presidente eleita Dilma Rousseff, não sair do papel, a sociedade vai ser a “mais prejudicada”. Então, tá.
Realmente houve uma diminuição na venda de muitos jornais nos últimos anos, mas esse é um fenômeno mundial, que certamente tem a ver com o surgimento e expansão da Internet e outros fenômenos gerais e não com suposto descrédito pelo tratamento dado ao governo Lula. Em todo caso, como Lula é uma personalidade mundial, quem sabe, pode ser...
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.