Sábado, 18 de dezembro de 2010
Por Ivan de Carvalho

A
diferença é que o PMDB, desde o início, sempre foi maior que o PFL/DEM, e que
nos últimos oito anos o PMDB ou pelo menos parte dele esteve participando de
forma expressiva do governo federal, razões pelas quais o processo de
desidratação foi retardado. Mesmo assim já vai se tornando notório. Também
conta a maior capilaridade que o PMDB sempre teve no país, se comparado ao
PFL/DEM.
Para
entender melhor o que atualmente assombra mentes peemedebistas capazes de
desviar a vista das árvores para observar a floresta, vale um exame conjunto
com o que aconteceu ao DEM, novo nome do extinto PFL.
O
PMDB conquistou o poder com Tancredo Neves e governou com José Sarney, tudo com
preciosa ajuda do PFL. O governo Sarney, no entanto, terminou com forte
impopularidade. E então começou o desastre.
O
PFL apresentou candidato à presidência da República em 1989. Foi Aureliano
Chaves, mas os pefelistas massivamente abondonaram seu candidato e apoiaram a
candidatura de Fernando Collor, que foi eleito. Na mesma ocasião, o PMDB
apresentou candidato a presidente, Ulysses Guimarães, mas este, apesar de sua
enorme relevância na história política do país durante o regime militar e nos
anos subsequentes, não tinha carisma eleitoral. Ulysses não foi abandonado por
seu partido tanto quanto Aureliano foi pelo dele, mas os eleitores abandonaram
ambos. Entre outros motivos, por causa da grande impopularidade do governo
Sarney.
Collor
renunciou no dia em que ia ser declarado seu impedimento pelo Senado, assumiu o
vice Itamar Franco e o PSDB plantou o Plano Real e colheu a eleição de Fernando
Henrique Cardoso para presidente.
O PFL /DEM,
sem lançar candidato próprio a presidente, apoiou, como força auxiliar do PSDB,
as candidaturas e governos do tucano FHC durante oito anos. Nos oito anos
seguintes, após tentar em 2002
a candidatura abortada de Roseana Sarney a presidente,
dividiu-se entre os candidatos Ciro Gomes e José Serra. Apoiou Geraldo Alckmin
em 2006 e José Serra este ano.
E então o
PFL/DEM havia quase que desaparecido – elegeu agora somente dois governadores,
seis senadores e 43 deputados federais.
O PMDB seguiu
uma estrada mais ou menos paralela. Depois de 1989, não disputou com candidato
próprio eleições presidenciais. Deixou que o PSDB e o PT disputassem o poder
maior. Dividiu-se no apoio a um e outro desses partidos, até que este ano
praticamente uniu-se no apoio à candidatura apresentada pelo PT.
Enquanto
o PFL/DEM e, mais lentamente, o PMDB, murchavam, emergia cada vez com mais
força o PT e abria-se também espaço para o crescimento de partidos médios. Em
1986, o PMDB elegeu a maior bancada na Câmara, com 89 deputados, contra 83 do
PT, a segunda bancada. Este ano, o PT passou a primeira bancada, com 88 e o PMDB
caiu para 79. Só elegeu um governador de estado importante, o Rio de Janeiro.
No Senado, manteve a maior bancada, 20 senadores. O processo de desidratação
está no início, mas já é sensível.
O
PMDB, até uns anos atrás, era a legenda mais popular do país, a preferida dos
eleitores, segundo as pesquisas. Atualmente, a popularidade desta legenda não
chega aos calcanhares da popularidade da legenda PT. Sem designar candidaturas
a presidente, o 15 é pouco presente na propaganda eleitoral.
- - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente
na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.