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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 21 de março de 2011

O bem nascido PSD

Segunda, 21 de março de 2011 
Por Ivan de Carvalho
    O lançamento, ontem, na Bahia, do novo partido, o PSD, foi um evento que atingiu plenamente seus objetivos políticos. Portanto, um êxito. O partido estará, na Bahia, sob a liderança do vice-governador Otto Alencar, que certamente participará, pela importância que a sessão baiana terá neste projeto político, do núcleo de comando nacional da nova legenda.

    Resolveram seus criadores adotar o nome de Partido Social Democrático e a sigla PSD (desistindo da denominação inicialmente imaginada, PDB, supostamente porque não soava bem). PSD pode soar bem e não deve ser feita confusão com PDS, a última mutação da Arena e último partido-base do regime autoritário iniciado em 1964.

    Mas sabe, quem tenha o tempo suficiente de estrada ou haja estudado a história dos partidos no Brasil a partir da democratização que se seguiu à deposição de Getúlio Vargas com o fim da ditadura do Estado Novo (acontecimento decorrente do fim da Segunda Guerra Mundial), que PSD e Partido Social Democrático não são uma sigla e uma denominação criativas.

    Copiou-se, na nomenclatura, o PSD, criado como um braço do getulismo pós-ditadura para atuar junto a parte da classe média urbana e da aristocracia e classe média rurais, bem como junto às elites industriais e comerciais. Pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) o getulismo alcançava os operários e o controle de grande parte dos sindicatos de empregados.

    Não seria muito exato sugerir, como já se tem feito, que o novo PSD diferia do antigo partido extinto pelo segundo Ato Institucional por ser, o novo, abrigo para políticos de diferentes origens ou inclinações políticas. Até porque os quadros do PSD de outrora tinham espectro muito amplo, incluindo desde comunistas até adeptos de ditaduras do tipo latino-americano, fascistas e um ou outro cripto-nazista (espécime muito raros, este último, inclusive porque Hitler perdera a guerra). O PSD foi até 1965 quase que o “partido-ônibus” que o MDB e principalmente, depois, o PMDB seria, na sua fase gloriosa, ainda sob o comando de Ulysses Guimarães.

   Se comparados os dois PSD, o extinto e o que está em criação, até que este último deverá ter uma composição política mais coerente ou, na pior das hipóteses, menos incoerente. Mas buscar coerência no quadro partidário brasileiro atualmente é quase tão difícil quanto procurar agulha em palheiro. Encontra-se, mas como exceção, principalmente em micropartidos e, talvez, no PC do B, que não é micro, mas é mínimo.
De qualquer modo, o líder principal do novo PSD na Bahia, Otto Alencar, no evento de ontem, que contou com a presença do prefeito paulistano Gilberto Kassab (este e Afif Domingos, vice-governador de São Paulo, estarão lançando o partido nacionalmente hoje, com evento na capital paulista), adiantou que “o nosso estatuto terá um parágrafo permitindo que deixe a legenda sem problemas todo filiado que se julgar desconfortável”. Naturalmente, está embutida aí a preocupação de dar segurança a políticos que queiram se filiar, mas ainda tenham dúvidas quanto à viabilidade do novo partido.

   Seja como for, a norma estatutária anunciada por Otto Alencar, quando concretizada, fará soprar um pouco de liberdade no sistema imposto recentemente, em que, em nome do fortalecimento dos partidos e da fidelidade partidária, estão sendo transformados, os filiados e principalmente os políticos com mandato, numa espécie de escravos de seus partidos. Há escravidão de vários tipos. Esta é a escravidão partidária.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.