Sexta, 25 de março de 2011
Da Agência Brasil
Flávia Villela - Repórter
Rio de Janeiro – Representantes de movimentos sociais voltados para
os direitos humanos criticaram hoje (25) pontos da pesquisa censitária
sobre jovens e crianças de 3 a 17 anos em situação de rua publicada
nesta semana pelo Conselho Nacional da Criança e do Adolescente
(Conanda). Eles criticaram sobretudo a metodologia da pesquisa e a falta
de participação de educadores e profissionais que trabalham com
crianças de rua na capital fluminense para contribuir no estudo.
Ao participar de reunião na sede do Movimento Nacional de Direitos
Humanos do Estado do Rio de Janeiro, a pedagoga Mônica Alckmin, da
organização Se Essa Rua Fosse Minha, criticou o fato de ninguém da área
governamental e acadêmica do Rio que trabalhe com crianças e jovens em
situação de rua ter sido contatado pelo instituto responsável pela
pesquisa.
“Nós nos reunimos com educadores e instituições do Rio Criança para
saber quem, de alguma forma, estava participando da pesquisa: nenhuma
instituição sabia da pesquisa, nem a DCA [Delegacia da Criança e do
Adolescente]." Segundo Mônica, os meninos que estavam na rua disseram
não ter sido contatados pelos pesquisadores. e as universidades também
não.
O conselheiro do Conanda no Rio, Carlos Nicodemos, destacou que a
pesquisa não considera as diferentes realidades de cada estado e
generaliza os resultados. “A colocação do Rio em primeiro lugar já é um
dado questionável, pois, nos nossos contatos institucionais, na prática,
sempre soubemos que São Paulo tem maior número de crianças de rua. Um
colega que trabalha com meninos de rua em São Paulo disse que os 4,751
mil meninos entrevistados lá devem ser apenas os da Praça da Sé.” Na
pesquisa, o Rio de Janeiro aparece com 5.091 crianças e jovens em
situação de rua.
Os representantes de movimentos sociais criticaram ainda a falta de
aprofundamento na questão das drogas na vida desse grupo, visto que,
segundo a pesquisa, apenas 2% dos meninos se disseram viciados em
drogas. “No Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia, por exemplo,
sabemos que as drogas têm papel fundamental na permanência dos meninos
na rua e nas relações econômicas deles. Daí, a importância de separar
por estados.”
Para Mônica Alckmin, outro motivo para a baixa porcentagem dos que
admitiram o uso de drogas pode ser o tipo de metodologia usado na
abordagem. “Quando é um educador que tem uma relação com esse menino,
ele fala até que droga usa, de quem consegue etc, mas, se for um
acadêmico com uma prancheta na mão, a tendência é que o menino negue”,
disse ela.
A falta de dados específicos sobre o Rio de Janeiro e de mais
detalhes sobre a metodologia da pesquisa fez o grupo marcar nova
reunião. “Solicitamos as tabelas com os dados do Rio e vamos marcar um
seminário, convidando a empresa (Meta) que realizou a pesquisa, que é de
Brasília, para aprofundarmos os dados. Só assim poderemos forçar os
passos seguintes e envolver os conselhos municipais para implementar
ações concretas para as crianças e adolescentes em situação de rua”,
disse Carlos Nicodemos.
Os dados da pesquisa foram coletados de 10 de maio a 30 de junho do
ano passado e o relatório final foi concluído em agosto. Os resultados
foram apresentados ao Conanda no dia 17 deste mês.