Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A oposição em colapso

Segunda, 25 de abril de 2011 
Por Ivan de Carvalho
A oposição brasileira parece, melhor será dizer que está mesmo, totalmente desnorteada. E quase em ruínas. O que, diga-se de passagem, pois é assunto para outras ocasiões, é muito ruim para a democracia e o exercício do regime democrático.
 
   O principal partido que compõe a oposição, o PSDB, que conseguiu nas urnas de outubro passado os governos de oito Estados, dentre eles os dos dois maiores colégios eleitorais do país – São Paulo e Minas Gerais – está um saco de gatos.
 
   Os tucanos que estão dentro dele, no que menos pensam é em traçar estratégias e táticas para arranhar o governo e o seu partido base, o PT. Preferem usar as unhas uns contra os outros, numa batalha fratricida pela candidatura a presidente da República em 2014 e, secundariamente, pela disputa de espaço político em São Paulo.
 
    A única tentativa até agora feita de prospectar uma estratégia foi o longo artigo sócio-político do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas logo ficou claro que sua proposta não faz em seu partido, de modo que cada um se dispõe a continuar empurrando ou puxando a legenda para sua sardinha e pronto.
 
   José Serra, ex-governador de São Paulo atualmente sem mandato, não está satisfeito em ter sido candidato a presidente da República duas vezes. Quer mais. O senador Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais, que deixou a Serra a chance passada, mas não suou a camisa para ajudá-lo, quer para si mesmo a próxima chance. Vai lutar. Ele, mas o partido, Deus é que sabe.
 
   O presidente nacional da legenda, Sérgio Guerra, foi, de mala e cuia, para o lado de Aécio. Está um horror para os tucanos conseguirem um espaço político para o inconformado José Serra – um espaço, entenda-se, com o qual Serra se conforme.
 
   Desde há muito o segundo mais importante partido da oposição, o Democratas (antes, PFL) está em colapso. Os eleitores não lhe deram refresco, mas o pior foi o “day after”, pois logo após as eleições o principal quadro do DEM, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vendo que pelo DEM não teria como disputar com chances o governo paulista em 2014, resolveu criar novo partido, que seria formado em grande parte com políticos insatisfeitos no DEM ou ansiosos, outros, por uma via de aproximação com o governo federal.
 
   Isto fez murchar o DEM, inclusive porque o grupo minoritário, mas expressivo, do ex-senador catarinense e ex-presidente da legenda, Jorge Bornhausen, aderiu ao projeto do PSD de Kassab, onde já estava também o vice-governador de São Paulo, Afif Domingos, o outro mais importante político do Democratas em São Paulo.
   
   Ora, apesar de com origem principalmente em políticos de oposição (nem todos), o PSD parece não estar aí para fazer oposição. Kassab começou dando-lhe publicamente uma conotação de legenda governista, “à disposição da presidente Dilma Roussef”, mas não demorou a recuar para a posição de partido “independente”, devido à reação de Afif Domingos, historicamente um liberal tanto política quanto economicamente, e mais alguns. Também o senador Bornhausen, que está conseguindo a adesão do governador democrata Raimundo Colombo, de Santa Catarina, ao PSD, é da linha liberal. E esta não é – declaradamente não é – a linha do governo.
 
   Para onde vai, então, o PSD? Talvez para nenhum lugar, já que, pelo menos até agora, não sabe para onde quer ir. Nem é certo que fique “independente”, uma coisa que existe, em política, mas somente em caráter provisório, enquanto se aguardam os fatos e se analisam os interesses que devem levar a uma opção. O problema do PSD é que uma opção (governista ou oposicionista) pode fracionar o partido, devido à sua composição.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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                     Pra direita ou mais pra direita, eis a questão.