Sexta, 29 de abril de 2011
Por Ivan de Carvalho

Agora,
esse debate tornou-se notícia insistente. Ontem, o governador paulista Geraldo
Alckmin – já no seu segundo mandato de chefe do Executivo paulista, mas
carregando também uma derrota em disputa da Presidência da República e outra,
dois anos depois, ao disputar o cargo de prefeito de São Paulo – declarou-se
favorável ao debate sobre uma fusão de três partidos oposicionistas, o PSDB, o
DEM e o PPS.
Ora,
para o PSDB isso é muito bom, pois na conjuntura oposicionista atual, tal fusão
pouco mais seria do que uma simples absorção do Democratas e do PPS pelo PSDB,
notoriamente um partido muito mais importante e detentor de muito mais poder
que os outros dois juntos.
Enquanto
os tucanos ou uma grande parte deles deseja a fusão, no DEM existem pessimistas
que a admitem, quando olham em volta e não conseguem ver alternativa
interessante. Mas, pelo menos por enquanto, é majoritária no DEM a idéia de que
o partido deve buscar a renovação, fazendo um grande esforço para o
recrutamento de novos quadros, e ir à luta.
Esta
é a posição, por exemplo, do líder da bancada democrata na Câmara dos
Deputados, o baiano ACM Neto. Fusão com o PSDB, nem pensar. Devem sim, estes
dois partidos, além do PPS e ainda outras legendas que disponham-se a fazer
oposição, formular uma estratégia comum, dentro da qual cada legenda terá
função própria e adequada a suas características. O objetivo será comum, a estratégia
será unificada e as ações políticas serão convergentes, mas não necessariamente
iguais. Cada partido tem as faixas da sociedade e do eleitorado com as quais
pode se identificar mais naturalmente.
Em
linhas gerais, parece ser isso o que pensa o deputado ACM Neto – bem como o
presidente estadual do Democratas, José Carlos Aleluia – ao rejeitarem
liminarmente a idéia de fusão, perdão, absorção pelo PSDB. Aliança é uma coisa,
renúncia à identidade própria é outra.
E afinal tudo
indica que o PSDB não é capaz de cobrir todos os segmentos sociais e todas as
tendências de opinião pública que a oposição pode eventualmente atrair. Nem o
PPS tem tal capacidade. Nem o DEM. Mas elas conseguirão cobrir um espectro
político maior se mantiverem identidades próprias e – com a licença do deputado
Marcos Medrado – unirem forças. Unirem forças no combate político ao governo e
na estratégia de atraírem eleitores para o seu lado, o da oposição.
Um inesperado
estímulo as oposições, que o líder ACM Neto estima que poderão ter apenas 100
deputados na Câmara federal, acaba de ser dado pelo ex-presidente Lula. Este
advertiu o PT para que fique alerta e tenha cuidado, pois “oposição cresce como
carrapicho, não precisa nem plantar”. Lembrou que “toda a vida” – exagerou um
pouco, nos últimos oito anos e quatro meses ele foi governo e governista – foi
oposição e sabe que esta cresce espontaneamente
Pois é.
Cresce mesmo, nos regimes democráticos, sempre que está menor do que deveria.
Aliás, a presidente Dilma disse na quarta-feira que o governo analisa
“diuturnamente e noturnamente” as pressões inflacionárias. E o resultado delas,
obviamente.
Ora, em um
cenário em que o governo, mal começou, já está insone por causa da inflação, a
oposição pode crescer até mais do que carrapicho.
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de
Carvalho é jornalista baiano.