Quinta, 19 de janeiro de 2012
Da Agência Brasil
Daniel Mello, repórter da Agência Brasil
Na avaliação da Defensoria Pública de São Paulo,
diminuiu a truculência policial na operação que é feita desde início do
mês na cracolândia, perto da Estação da Luz, no centro da cidade. Na
primeira semana de atuação ostensiva da Polícia Militar (PM) e Guarda
Civil Metropolitana (GCM), o órgão chegou a coletar 32 denúncias de
abuso.
A situação, no entanto, mudou, segundo defensor Pedro Giberti, que
visitou hoje (19) o local onde pessoas consumiam e traficavam o crack.
“As abordagens passaram a ser feitas de outro jeito, os conflitos
diminuíram drasticamente e nós não recebemos mais as denúncias que
recebíamos no começo da nossa presença aqui”, disse à Agência Brasil.
Giberti atribui a mudança de comportamento à pressão exercida pela
defensoria e outras entidades contra a violência policial. “A percepção
de que essas pessoas não estão mais desprotegidas, desassistidas, que
nós estamos aqui, está servindo, se não de estímulo, mas pelo menos de
alerta para que elas passem a ser respeitadas nos seus direitos”,
declarou.
De acordo com a prefeitura, desde o começo da operação, 140 pessoas
foram presas, capturados 43 condenados pela Justiça, 99 dependentes
químicos internados e 3,6 quilos de crack apreendidos. Também foram
retiradas 128 toneladas de lixo e 2,1 mil toneladas de entulho,
resultado da demolição de seis imóveis.
A reportagem da Agência Brasil acompanhou o trabalho dos 250
funcionários que limpavam a área onde os imóveis foram derrubados.
Segundo a prefeitura, as edificações estavam com a estrutura
comprometida. Durante a tarde, enquanto era feito esse trabalho de
demolição e limpeza, não foi visto no local qualquer traficante ou
pessoa fazendo uso da droga, apenas alguns usuários que dormiam nas
calçadas.
Perto posto móvel da Defensoria Pública, uma missão religiosa, chamada
de Cristolândia, oferece diariamente refeições, banho e corte de cabelo
para cerca de 150 pessoas, entre moradores de rua e dependentes
químicos. A missionária Elaine Machado disse que, com a operação
policial, aumentou o número de dependentes que procura ajuda.
“Depois dessa operação o nosso trabalho aumentou, porque as pessoas
começaram a ver a Cristolândia como um refúgio”, disse. “Somos
totalmente contra qualquer tipo de agressão física, moral ou verbal,
mas, por meio desse trabalho, pudemos ajudar um número muito maior de
pessoas”, completou.
Entre as atendidas pela missão, está Sara Nunes. Grávida de cinco
meses, ela é usuária de crack há 16 anos e reside e mora na cracolândia
há seis meses. Sara Nunes declarou que sofreu com a forma como os
policiais agiram para combater o tráfico e o consumo de drogas na
região.
“No primeiro dia fui acordada com um chute na barriga”, diz a moça que admitiu ter fumado crack
pela última vez na noite anterior à operação. Na opinião dela, o único
objetivo da operação policial é expulsar os usuários de drogas do
centro. “Sabe quando a dona de casa limpa a casa? É isso, estão limpando
a casa, e nós somos o lixo”, ressaltou.