Terça, 3 de janeiro de 2012
Da Agência Brasil
Isabela Vieira, repórter
Rio de Janeiro - A doação ao Arquivo Nacional do acervo pessoal de Luiz
Carlos Prestes feita hoje (3) pode incentivar a entrega de outros
documentos que ajudem a Comissão da Verdade a rever o período da
ditadura militar (1964-1985). A avaliação é do diretor do arquivo, Jaime
Antunes, que lançará neste ano uma campanha para receber esses
documentos.
"Vamos fazer um chamamento, como fizemos em 2009, para que arquivos de
civis e militares sejam incorporados como fonte de informação do período
em que o Estado mostrou sua força ante movimentos de contestação",
disse o diretor. Segundo ele, é comum que pessoas que ocupam cargos
públicos misturem com seus artigos pessoais documentos de governo.
Antunes disse que a iniciativa da família de Prestes, que doou sete pastas de material,
dentre as quais uma lista com 233 nomes de torturadores - elaborada por
presos políticos de São Paulo e datada de 1976 - abre caminho para
reconstruir o período de exceção democrática, tarefa da Comissão da
Verdade, criada pelo Congresso Nacional.
Durante a cerimônia de doação dos documentos, produzidos ou acumuladas
entre as décadas de 1970 e 1990 por Prestes, a viúva do político
comunista, Maria Prestes, disse que espera ajudar na consolidação da
Justiça, contra os torturadores. "Por que a gente tem que só apanhar? Se
tem Justiça no Brasil, a Justiça deve apurar e deve punir".
Maria Prestes disse que a lista com os 233 nomes de torturadores foi
entregue a seu marido por "homens de confiança" do Partido Comunista.
"Nessa época, todo material de valor era levado para que Prestes tomasse
conhecimento. Ele guardou e eu estou doando", contou a viúva.
A relação chegou a ser publicada por um jornal, que sofreu na época
dois atentados e coincide com levantamento feito pelo Grupo Tortura
Nunca Mais, organização não governamental que busca esclarecimento pelas
mortes e desaparecimentos de militantes políticos no período.
Também constam do acervo de Prestes, cartas enviadas a líderes
políticos como Fidel Castro, relatos da repressão no Brasil e documentos
em favor da redemocratização, além de correspondências trocadas com os
noves filhos da união com Maria Prestes. "Há um vasto material de uma
atividade internacional e pessoal", disse um dos herdeiros, Luiz Carlos
Prestes Filho.
Membro do Partido Comunista Brasileiro, obrigado a viver na
clandestinidade em diversos períodos de sua vida, Prestes denunciou
internacionalmente atrocidades do regime militar, principalmente de
Moscou, onde viveu exilado por oito anos, desde 1971.
Antes disso, durante o Estado Novo, também brigou contra a ditadura de
Getúlio Vargas. Neste período, sua primeira mulher, a alemã Olga
Benário, que pertencia a Internacional Comunista, foi deportada grávida
para a Alemanha de Adolf Hitler. Lá, foi morta em uma câmara de gás. A
filha do casal, Anita Leocádia Benário Prestes foi criada pela avó
paterna.