Terça, 10 de janeiro de 2012
Agência Brasil
Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Pesquisa Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que 47% dos dependentes de crack
que frequentavam a cracolândia – região de intenso tráfico e consumo de
drogas no centro de São Paulo – disseram que se submeteriam a um
tratamento. A maior parte deles, 62,3%, expressaram o desejo de parar de
usar drogas.
“O dado é muito relevante, pois aponta que existe uma vontade do
usuário de interromper o uso”, disse o psiquiatra Marcelo Ribeiro, um
dos coordenadores da pesquisa e diretor de Ensino da Unidade de
Pesquisas em Álcool e Drogas da Unifesp.
Uma parte menor dos entrevistados (18,8%) declarou que gostaria de se
submeter a um tratamento que permitisse apenas diminuir o consumo, e
18,9% não desejam interromper ou diminuir o consumo da droga. A
pesquisa, divulgada hoje (10), ouviu 170 dependentes de drogas em
dezembro de 2011. Foram 102 homens e 68 mulheres - 10% delas estavam
grávidas.
De acordo com o levantamento, 51% dos usuários disseram acreditar que conseguiriam parar de consumir crack sem
internação, enquanto 34% manifestaram que aceitariam que o tratamento
da dependência da droga envolvesse, ocasionalmente, uma internação
involuntária.
“Isso mostra que, em parte, o usuário reconhece que fica refém da
doença a ponto de só conseguir se curar se houver uma intervenção mais
incisiva, mesmo que à revelia. Apesar de a maioria dos usuários não
concordar com a internação compulsória”, apontou o psiquiatra.
A pesquisa mostra também que a maioria dos usuários (61%) já se
submeteu a algum tratamento contra a droga. Entre as organizações que
ofereceram tratamento estão a igreja (53%), organizações não
governamentais (22%), projetos sociais do Poder Público (10%), família
ou amigos (5%), casas de recuperação (2%) e 8% não informaram quem
ofereceu.
“Ou a participação do Poder Público foi pequena ou foi pouco enxergada
por eles. Há ações da prefeitura e do estado ali, mas não são vistas
pelos usuários como alternativas. Para a imensa maioria deles, o Poder
Público nunca lhes ofereceu nada”, disse o médico.
Em relação aos recursos para comprar o crack, 59% declararam
ter dinheiro próprio para obter a droga, 13% reconheceram que roubam,
13% disseram que recorrem à troca de objetos pessoais, 12% obtêm os
recursos de esmolas, 9% de furtos, 9% de dinheiro obtido da venda de
objetos de família, 11% trocam droga por sexo e 13% obtêm recursos da
prestação de serviços ao traficante.
O levantamento mostra ainda que cerca de 30% dos dependentes sofreram
algum tipo de violência na cracolândia. Seis mulheres disseram ter sido
vítimas de abusos sexuais de outros usuários. Mais da metade dos
dependentes (54%) já foram detidos ou presos. Entre eles, 46% informaram
que o motivo da detenção foram relacionados ao consumo de crack.