Sábado, 17 de
novembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho

Pelo menos dois foguetes lá considerados
de “longo alcance” caíram nos arredores de Tel Aviv e um ao sul de Jerusalém.
São alvos críticos. Tel Aviv, que não recebia ataque desde a Guerra do Golfo,
foi capital de Israel, continua sendo uma espécie de capital administrativa e é
a maior concentração urbana do país. Jerusalém é a capital de Israel e cidade
sagrada para israelitas, cristãos e muçulmanos.
Isso e outros incidentes de ataque e
contra-ataque levaram o Exército israelense a, segundo algumas notícias,
convocar 30 mil reservistas e pedir ao governo autorização para convocar mais
75 mil, enquanto outras notícias falam de 16 mil convocados e pedido de
autorização para mais 59 mil. De qualquer modo, não é pouca coisa. Essas
medidas foram acompanhadas pelo interdição de quatro estradas israelenses,
sugerindo que poderá haver, além dos borbardeios aéreos e pelo mar contra alvos
militares em Gaza (com os costumeiros efeitos
colaterais) uma invasão terrestre.
Enquanto isso, embora esteja ainda de pé
o acordo de paz entre Israel e Egito, a tomada do poder, no mais importante
país árabe, pela Irmandade Muçulmana – como desdobramento da complexa Primavera
Árabe – resultou no relaxamento total (nunca havia sido muito rigorosa) da
vigilância na fronteira entre o Egito e Gaza, facilitando o abastecimento dos
grupos Hamas e Jihad Islâmica com armas em maior quantidade e mais poderosas.
No entorno de Israel, ressalvada por
enquanto a Jordânia, a temperatura sobe. No Egito, com a substituição do regime
“confiável” de Hosni Mubarack pelo da, por enquanto moderadamente hostil,
Irmandade Muçulmana. Imprevisível para o futuro, distante ou próximo. Na Síria,
insuflado pela Primavera Árabe que tenta derrubar a terrível ditadura
hereditária e vitalícia de Bashar al-Assad, há um estado de guerra civil que
chega às fronteiras com Israel e ameaça seriamente desencadear um conflito
interno de proporções entre as facções que governam o outro vizinho de Israel,
o Líbano, mediante um pacto altamente instável entre elas.
Mais distante, o Irã, que proclama seu
objetivo maior de “varrer Israel do mapa”, trabalha com o objetivo (sempre
negado) de produzir armas nucleares. Israel não aceita isto. A posse de um
arsenal nuclear pelo Irã tornaria Israel militarmente indefensável por si
mesmo. A estratégia militar de Israel é ser o único país a ter a bomba na
região – esta arma, por sua enorme desvantagem geopolítica em relação ao
conjunto dos adversários, é sua garantia extrema e final.
Nas primeiras linhas, escrevi, no sentido
figurado, que há sinais típicos dos que precedem uma erupção vulcânica. Tenho
agora em mãos um livro, The Bible Code (O Código da Bíblia), best-seller ao ser
lançado. Do jornalista judeu-americano Michael Drosnin, foi editado em 1997. O
primeiro ministro de Israel era Benjamin Netanyahu, que, sucedendo a Shimon
Peres, esteve no cargo no período 1996 a 1998, perdendo em seguida as eleições
para Ehud Barak. O Código da Bíblia diz, junto ao nome dele: “Todo o seu povo
para a guerra”, em hebraico, claro. Mas, perdendo as eleições, Netanyahu
retirou-se da política, recolheu-se à vida privada. No ostracismo, parecia não
ter volta. Mas em 2002 começa a ressurgir, como ministro dos Negócios Estrangeiros,
da Fazenda, e em 2005 retoma a liderança do seu partido, o Likud, tornando-se,
em 2006, líder oficial da oposição no Knesset (parlamento) e presidente do
Likud. Finalmente, em 2009 retornou ao cargo de primeiro-ministro. É onde está,
no meio dessa crise, dando chance à previsão do Código da Bíblia se cumprir.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.