Domingo, 23 de fevereiro de 2014
O vandalismo golpista na Venezuela é mostrado como santo, enquanto aqui criminalizam os protestos
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Vândalos fazem o diabo para minar o governo bolivariano, com ajuda dos EUA |
Do Blog do Pedro Porfírio
No manual da
mídia global há duas regras para reportar a violência: a dos indignados no
Brasil é apresentada como obra do demônio, criminalizada de cabo a rabo e
estigmatizada numa assepsia fulminante pelo uso de bodes expiatórios feitos
avisos prévios destinados a inibir qualquer demonstração de descontentamento,
sejam cândidas ou furiosas.
Vandalismo contra um governo popular foi aplaudido pela mídia global
Já a violência na
Venezuela, de conteúdo golpista, oriunda das irreversíveis posturas
conspiratórias da potência decadente é apresentada como obra do divino, exibam
ou não vândalos armados, bombas incendiárias, depredações de prédios públicos e
todo um arsenal de guerra de última geração.
Como essa mídia multinacional
galvaniza os receptáculos descuidados de cidadãos objetos, operando como ensandecidos
rolos compressores, não é difícil fazer crer que esses dois pesos e duas
medidas são sustentáveis por uma química segundo a qual cada caso é um caso: a
violência que blinda seus interesses é tolerável; a que ameaça, nem pensar.
O vandalismo na Venezuela só não foi mais brutal devido à firmeza de Maduro
O cidadão
brasileiro que ainda se posta diante de uma televisão arbitrária e com fortes
cargas de maquinações acaba virando um reprodutor fácil da falácia midiática hipócrita
e manipuladora.
Essa
possibilidade ostensiva é o verdadeiro crime contra a liberdade, pois introduz em cada mente acrítica
um coquetel virótico de alto poder corrosivo. Daí o papel sujo que esses
informadores jogam para dar cobertura às violações constantes da soberania
nacional e às tentativas de golpes contra o veredito democrático do povo venezuelano.
As informações
disseminadas por esses veículos comprometidos e sem escrúpulos se tornam,
assim, componentes do plano golpista, da tentativa de rendição de um país que trilha
o próprio caminho, direito e obrigação principalmente quando de trata de um
detentor de recursos energéticos de alta valia no mercado dos podres poderes.
O que está
acontecendo hoje na Venezuela é a aplicação pela enésima vez nesse país
petrolífero da mesma tentativa solerte de reapropriar-se de suas riquezas conforme insaciáveis interesses
da potência vizinha, isto é do complexo industrial-financeiro dos Estados
Unidos da América, cuja viciada política
de guerra e intervenção é condição sine
qua non de sua vida política e econômica.
Na cobertura facciosa
de manifestações fabricadas a mídia internacional não vê limites. Enquanto a
CNN norte-americana se planta dentro do país como palanque multiplicador dos
grupos golpistas, enquanto o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, ícone da
direita beligerante (que ganhou fortunas no confronto com a guerrilha),
coordena uma estrepitosa infiltração de imagens de televisões fronteiriças, agindo
sobre a própria população venezuelana, as
agências e os cúmplices locais se dedicam com esmero à imobilização da indignação
nas nações irmãs.
Nessa
orquestração burlesca, que aciona de forma profissional as redes sociais da
internet, o vale tudo é a regra. Servem-se dos estratagemas mais despudorados: ora
são fotos capturadas em outros países e publicadas como se de lá fosse, ora são
tinturas lânguidas que tentam justificar os atos de vandalismo praticados por
pessoas treinadas e contratadas para tais agressões.
No temático, o
noticiário de cobertura ao projeto golpista recorre a manipulações tacanhas.
Pinta como revoltas estudantis, por seu caráter emblemático, o que se forja
muito além das fronteiras universitárias. E chega ao cúmulo de dar verniz
político à condição de "miss", forçando o envolvimento nos
"protestos" de algumas ex-misses
qualquer coisa em troca de seu
reaparecimento fortuito na mídia, que já as havia arquivado.
O ensaio golpista reproduz
as mesmas fórmulas da época do presidente Hugo Chávez - com o desabastecimento,
a instabilidade econômica, a fabricação do descontentamento e as provocações
nas manifestações de rua - por que o
seus monitores imaginavam que a morte do grande líder bolivariano havia
quebrado o poder de resistência do povo venezuelano.
Achavam que
Nicolás Maduro, um ex-motorista de ônibus, não teria estatura para aguentar o
tranco. E subestimaram a organização popular, inspirada por Chávez, que tem o
dom de multiplicar a resistência, como se multidões incorporassem igualmente a
figura tenaz do líder legendário.
Nessa avaliação,
parece que vão se dar mal, apesar da alta carga de investimentos, com a
utilização até de novos títeres, cada
vez mais indóceis e ambiciosos. Está claro que manter o governo bolivariano
acuado e sob fogo cruzado é questão de honra para a sacra aliança entre as
elites de Caracas, a máfia de Miami, sua mídia escandalosamente mercantil e o
governo dos Estados Unidos, que lá vai muito além da bisbilhotagem da vida dos
governantes. Mais importante será para
esses incorrigíveis conspiradores derrubar o governo eleito e promover um
retrocesso com o fim do processo de mudanças iniciado pelo líder, cujo câncer
foi produzido em laboratório nos termos das tecnologias golpistas mais modernas.
É preciso ter em vista que
qualquer fenda que mine a República Bolivariana da Venezuela fere e constrange por
igual às nações irmãs, como o Brasil, que se até agora não foi fichado como
perigoso inimigo em Washington, ainda é uma grande incógnita para os insanos donos
do mudo.
Em minha
juventude, quando a mídia eletrônica não se instalara nos recônditos decisórios
do cérebro cidadão, quando as redes
sociais não existiam como válvulas de escape compensatório, milhares de
brasileiros já teriam ganho às ruas em solidariedade ao povo irmão da
Venezuela, como aconteceu nos anos românticos em que demonstramos com garra e
paixão nossa posição em defesa da soberania de Cuba.
Em minha
velhice, porém, sou forçado a aceitar que até mesmo os indignados espontâneos,
que vão às ruas em aguerridos cordões, perderam a noção do caráter global da
criminalidade política. Insurgem-se com garbo e coragem contra deslizes
locais, igualmente expostos pela mídia direcionada, mas parecem incapazes de
abrir a janela para o mundo, conforme o manual de constrangimentos e
imbecilização dessa mesma mídia que os anatemiza.
Nem mesmo os
partidos e partidários do chamado campo progressista têm usado suas tribunas e
seus palanques para alertar sobre os perigos de um golpe na Venezuela
bolivariana. Não obstante o óbvio, parecem contidos por uma agenda acordada, em
que evitam ir além do consentido.