Sexta, 28 de fevereiro de 2014
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil
Em reunião plenária, hoje (28), no Sindicato dos
Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), os
profissionais repudiaram o uso de colete de identificação, fornecido
pela Polícia Militar (PM), para a cobertura de manifestações. Segundo o
texto aprovado no encontro, a única forma de identificação aceita pela
categoria é a carteira profissional. Os coletes foram oferecidos pela
corporação, no protesto do último sábado (22).
“O jornalista não se sente tranquilo ao se identificar previamente
para autoridades. Ainda mais em uma manifestação em lugar público. Isso
não tem sentido. Mas se reserva o direito de utilizar o equipamento de
proteção em situações específicas”, ressaltou o presidente do sindicato,
José Augusto Camargo. A nota com as deliberações será enviada para as
autoridades. Camargo disse ainda que está marcando reuniões com a
direção de veículos de comunicação para discutir o fornecimento de
equipamentos de proteção individual (EPI), como máscaras e capacetes.
Saiba Mais
No
protesto contra a Copa, no último sábado, no centro da capital
paulista, 19 jornalistas foram detidos ou agredidos. O coronel da PM,
Celso Luiz Pinheiro, comandante do policiamento da região central da
cidade, disse que o uso de equipamentos de proteção, por parte dos
jornalistas, dificultou a distinção dos profissionais da imprensa, em relação aos black blocs. De acordo com o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, na ocasião, a PM disponibilizou 200 coletes de identificação para os repórteres, e pretende manter essa medida em futuras manifestações.
“Oficialmente, a única identificação aceitável é o registro
profissional (MTB), o que não se confunde com o direito de livre
expressão e de registrar individualmente os fatos, prerrogativa de todo
cidadão”, ressalta a nota do sindicato. Também participaram da reunião a
Associação dos Repórteres Fotográficos de São Paulo (Arfoc-SP) e o o
Sindicato dos Advogados de São Paulo.
Desde junho do ano passado, a Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo (Abraji) contabilizou 68 casos de agressões a jornalistas,
em coberturas de manifestações na capital paulista. Do total, 62 foram
praticadas por policiais, e entre elas, 36 casos, mesmo depois de os
profissionais terem se identificado como imprensa.
Para Camargo, a violência contra jornalistas muitas vezes parte de
policiais mal-intencionados, que agem acobertados pelo anonimato. “A
gente tem uma série de depoimentos em que policiais vão para o confronto
e retiram a identificação. Quer dizer, esse policial que tira a
identificação, quer agir no anonimato. Se o policial já está predisposto
a fazer isso, a agir no anonimato, com segundas ou terceiras intenções,
se ele é filmado ou fotografado, ele vai ter uma reação violenta”,
pontuou.
O presidente do sindicato dos jornalistas cobra punição para os casos
de abuso. Para ele, a a impunidade favorece a repetição do
comportamento indevido. “A própria corporação e o governo têm que
identificar e punir esses maus profissionais. Esses policiais, sob todo e
qualquer aspecto, depõem contra a instituição democrática do Estado
brasileiro”, disse.