Sexta, 28 de fevereiro de 2014
Paulo Metri - conselheiro
do Clube de Engenharia e
colunista do Correio da Cidadania
É
interessante e triste ver como a mídia do capital, esta que ainda tem razoável
poder de influenciar a sociedade na compreensão dos fatos, noticiou o balanço
de 2013 da Petrobras. Para os principiantes no tema da influência na
compreensão dos fatos, a mídia citada patrocina uma compreensão distorcida,
onde versões inexistentes da realidade são disseminadas.
Em
primeiro lugar, ela precisa enxovalhar a Petrobras a qualquer custo, não
importando o êxito que a empresa tenha. O lucro da Petrobras em 2013, 11% maior
que o lucro de 2012, não pode ser transmitido sem crítica. Para contrabalançar
o êxito, foi colocado em seguida na notícia: “No quarto trimestre, porém, o
lucro caiu 18% na comparação com o mesmo período do ano anterior”.
Esta
mídia crucificou a Petrobras por ter sido chamada para contribuir em uma
política pública, a da contenção da inflação. Queriam, obviamente, atingir o
governo Dilma, pois precisavam que a inflação não ficasse dentro da meta
programada, o que daria excelentes manchetes, bem ao gosto.
A
Petrobras, como empresa pública, pode e deve participar de políticas públicas.
Ninguém contesta, por exemplo, a participação dela na maximização das compras
locais, que é uma política pública. A experiência de compras de plataformas em
Singapura, na era FHC, por serem um pouco mais baratas, acarretou o
desmantelamento da indústria naval.
No
entanto, a crítica válida no caso é o subsídio à gasolina. Não porque ajudou a
conter a inflação, mas porque incentiva o transporte individual, que aumenta o
consumo total de energia, os engarrafamentos nas grandes cidades e o lançamento
de gases do efeito estufa na atmosfera.
Representantes
da direita indagavam a mim, suposto defensor radical da Petrobras, a razão para
eu estar calado sem denunciar o uso de um patrimônio público para ajudar a
contenção da inflação, em benefício do governo do PT. Notar que, graças à
perspectiva de perda nas ações da Petrobras, eles viraram nacionalistas. Quando
eu respondia que ela estava cumprindo seu papel de empresa pública e, ao ajudar
a conter a inflação, ela beneficiava a todos e não só aos petistas, a ira deles
aumentava. Dizia, também, que ela iria honrar o compromisso de pagamento de
dividendos aos portadores de suas ações, o que fazia a ira deles aumentar mais
ainda. Em resumo, eles queriam superlucros, quando as ações teriam grande
valorização, e eles conseguiriam grande rentabilidade com elas.
Mais uma
vez, fica comprovada a altíssima rentabilidade do investimento em petróleo. A
presidente Dilma precisa estar muito alerta, se vier a ganhar a próxima eleição
presidencial, porque as mesmas forças, que a obrigaram a privatizar Libra, vão
fazer pressão para ela privatizar a Petrobras, esta enorme geradora de riqueza.
Além disso, sem esta empresa pública, diminui muito a possibilidade de execução
de políticas de governo, inclusive a contenção da inflação.
Como a
mídia fala mal sobre o alto grau de endividamento atual da Petrobras! É verdade
que, hoje, ele é superior ao do passado. Contudo, não encontrei afirmações
sobre a não capacidade de honrar estas dívidas com sua geração de caixa, que é
o que importa. Entretanto, ninguém fala sobre as verdadeiras causas desse
endividamento. Ele ocorre graças às frequentes rodadas de leilões de áreas
colocadas nos governos de FHC, Lula e Dilma, com atratividade para o povo
duvidosa.
Por
exemplo, a Petrobras já garantia o abastecimento do país por mais de 40 anos e,
ainda assim, colocaram Libra em leilão. Estes três presidentes colocaram mais
áreas nas rodadas do que a capacidade da empresa de arrematá-las e, depois, de
investir nelas. Os três concordaram com a entrega de território nacional,
inclusive do Pré-Sal, para empresas estrangeiras, devido à pressão destas
empresas e de governos estrangeiros.
Na mídia,
é transmitido que o grau de endividamento foi melhorado, dentre outras razões,
graças à venda de ativos da Petrobras, promovida pela presidente Graças Foster.
Supondo que os ativos dispensados eram os menos atrativos para a empresa, ainda
assim há crítica sobre este desinvestimento. Da forma como foi noticiado, ele
pode permitir desvios, por haver chance de ocorrência de acordos secretos. Não
é um leilão, um procedimento mais transparente e, ainda assim, acordos de não
competição podem ser celebrados. No entanto, friso que não estou sabendo de
nenhum desvio.
A
Petrobras, sendo uma empresa gigantesca, tem suas falhas também, mas realiza
várias conquistas para o nosso povo. Por exemplo, ela prova que o brasileiro
pode desenvolver tecnologia, apesar das carpideiras pagas pelo capital
internacional, entre lamúrias, dizerem: “mas a Petrobras ainda não venceu os
obstáculos do Pré-Sal” ou “quem tem a tecnologia são as empresas estrangeiras
que trabalham para a ela”.
Em
respeito aos leitores, explico que os desafios têm se apresentado para a
Petrobras durante seus 60 anos de existência e ela tem sempre cumprido seu
papel. É verdade que ela usa muito as tecnologias de seus fornecedores, mas tem
capacidade de encomendar tais desenvolvimentos, acompanhá-los e, por fim,
utilizá-los.
Enfim, só
os que querem que o brasileiro se sinta inferior é que usam estes argumentos,
provavelmente para, na condição de um ser inferior, os brasileiros aceitarem a
entrada dos entes superiores, os estrangeiros. Agora, além dos inúmeros
benefícios para a sociedade acarretados por se ter uma empresa estatal no setor
de petróleo, confesso que a existência dela me satisfaz muito, por ver uma
empresa da sociedade dando certo. E os neoliberais querem criar uma CPI sobre
ela.