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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Temer: "O Natal de 2017, será melhor do que o de 2016". Com ele ou sem ele?

Terça, 27 de dezembro de 2016
Da Tribuna da Internet Sindical
Por Helio Fernandes

Em 3 minutos, falando em cadeia (!) de radio e televisão, usou e abusou da mistificação. Vejamos as principais. 1- Cumprirei até 2018, a missão que me foi dada. 2- Acabaremos com a recessão, os empresários voltarão a investir. 3- Recuperaremos os empregos. 4- Os juros continuarão a cair. 5- Como já havia dito há 3 dias, repetiu, rindo: "Não tenho pensado em renunciar".

Apesar da falta de credibilidade, e a impopularidade crescente, pesquisada e constatada por Institutos, não percebe que além de indireto, é um presidente incerto e sem rumo. Mas jornalisticamente, examinemos as afirmações, mesmo com a impossibilidade de acreditar no mínimo que seja.


1- NÃO EXISTE MISSÃO DADA

As características de Michel Temer, sempre demonstraram uma divergência eleitoral entre ele e o povo. Jamais disputou uma eleição direta em toda a carreira. A não ser as inúmeras vezes em que se candidatou a deputado federal, quase sempre ficando como primeiro ou segundo suplente. Nunca imaginou ascender na carreira política se candidatando a senador ou governador. Como sua base habitacional e conseqüentemente eleitoral era São Paulo, sendo governador ficaria pertíssimo de se candidatar a presidente da república.

Como suplente de deputado foi presidente da câmara num dos raros momentos em que ele e Renan Calheiros não se hostilizaram. Também foi presidente do PMDB, não era uma eleição e sim a escolha do grupelho do qual fazia parte. Numa das eleições para a câmara federal, o PMDB elegeu 28 deputados e ele foi o numero 29, mas como sempre, logo assumiu o mandato efetivo. 

O que ele chama "missão dada", é um exagero do seu irrecuperável exibicionismo. Ninguém dá missão de presidir o país, a ninguém. Só o povo delega poderes através do voto. Fora disso, digam o que disserem, não passa de usurpação. Apesar de se dizer um vice "decorativo", teve forças e condições para se transformar em presidente provisório e agora em presidente indireto incerto e indevido. 

Para isso, sua credibilidade pessoal e sua moral desencaminhada, não se sentiram atingidas pelo fato de ter obtido essas condições através de um parceiro aventureiro e corrupto, como foi e continua sendo, o ex-presidente da câmara Eduardo Cunha. Só que Michel Temer tem sido tão feliz em todas as mobilizações, que o amigo que o beneficiou está preso provavelmente para o resto da vida. E ele, presidente indireto, que de forma inédita, utiliza simultaneamente 3 palácios. 

Considera que essa "missão cumprida" irá até 2018. Correligionários, adversários, analistas dependentes ou independentes, economistas, não se arriscam a uma análise a respeito da duração de 2017, o ano que não quer começar. Mas ele, sem constrangimento e até estouvadamente, considera que em 2018 terminará até tranquilamente, "a missão que lhe foi dada". 

2- RECESSÃO E INVESTIMENTO

Embora o presidente indireto não tenha a menor credibilidade, a frase poderia ter algum sentido desde que fosse colocada de maneira inversa, pois a recessão só terminará depois do investimento. E, apesar do presidente indireto, do ministro da fazenda e do presidente do Banco Central, ficarem espalhando que os empresários estão cada vez mais confiantes, isso não se transforma em realidade agora, e muito menos num futuro, que ninguém sabe até onde irá.

3- O DESEMPREGO CRUEL

Desde o dia 7 de maio até agora, quase 8 meses, o país perdeu 400 mil empregos. Quando ele assumiu, eram 12 milhões de desempregados, agora estamos quase chegando aos 13 milhões. Ninguém sabe definir o limite positivo do que ele chama de reduzir essa multidão de sem trabalho. Se pudermos transformar o seu discurso em realidade e admitirmos que no fim de 2017 os sem trabalho serão ainda 10 milhões, a redução de quase 3 milhões, terá sido indiscutivelmente, um avanço, mas os 10 milhões restantes, constituirão o retrocesso mais assustador, mesmo reconhecendo a incompetência e a imprudência do presidente indireto. 

4- JUROS VERGONHOSOS E CALAMITOSOS

O presidente indireto, junto com o presidente do Banco Central, não perdem a oportunidade de retumbar na televisão: "Com cautela, mas com eficiência, reduziremos os juros". Há dois anos, ainda no tempo da D. Dilma, quase implorei que os juros fossem reduzidos para 10%. Um mês depois da posse do indireto, voltei a insistir nesses números, agora referendado por economistas renomados e respeitados.

Nos quase 8 meses do governo ou desgoverno Temer, só duas reduções de 0,25% cada uma. O país estava, então, com os juros em 14,25%. Com as duas reduções, passou para 13,75%, uma tragédia econômica, financeira e política, que não leva e nem levará ao desenvolvimento, ao crescimento, e naturalmente a quase normalização do país. 

Se o "cauteloso" presidente do Banco Central, reduzir a taxa Selic em 0,25% mensalmente, no final de 2017 terá cortado os juros em 3%. O país ficará então com a taxa Selic em 10,75%. Para arredondar, e não querendo hostilizar os que tomaram o poder, admitamos que a taxa fique em 10%. O país, então, terá atingido o patamar de 10% com atraso de 3 anos.

Contrariando não apenas a minha análise, mas divergindo crassamente dos maiores economistas brasileiros, Fernando Henrique Cardoso levou e elevou os juros a 40%, "crime de lesa-pátria" que já deveria ter sido punido há muito tempo. O mesmo que terá obrigatoriamente que acontecer com Temer e sua equipe ao mesmo tempo, imprudente e incompetente. Isso se chegarem a 10%. 

5- "NÃO RENUNCIAREI"

Na primeira entrevista coletiva que concedeu num suculento café da manhã, respondendo a uma pergunta, ele fez essa afirmação. Mas como ele muda muito de opinião, mas não de convicção, pois não tem nenhuma, ainda tem 4 dias até o dia 31 de Dezembro para deixar o cargo e provocar uma eleição direta. 

Quanto à permanência no poder, fora da renúncia, não cabe a ele decidir. As acusações surgem dos mais variados lados. Citado várias vezes na Lava Jato, dificilmente escapará da delação colossal e monumental da Odebrecht. 

Não evitará de jeito algum a incriminação pelo TSE. Há 9 meses, venho acompanhando quase que diariamente a tramitação do recurso movido por Aécio Neves, candidato derrotado em 2014. Foi salvo primeiro, pelo Ministro Dias Toffoli. Em maio, quando Gilmar Mendes assumiu a presidência do TSE, a proteção aumentou.

Quando surgiram as primeiras acusações a respeito da cassação da chapa, Temer contratou advogados que disseram: "A campanha do vice não tem nada a ver com a campanha do presidente". Temer começou a repetir a mesma coisa. Agora, diante da evidência e da relevância das descobertas feitas pelo TSE, o presidente indireto mudou de pronunciamento e repete sem constrangimento: "Se eu for cassado pelo TSE, entrarei com todos os possíveis e necessário recursos". Como constitucionalista, título que apregoa com insistência, deveria saber, que só cabe um recurso, para o Supremo Tribunal Federal
Renan, apavorado com o ostracismo

O presidente indireto costuma repetir, sem perceber o tamanho da bobagem ou da tolice: "Minha fortaleza é o tamanho e a fidelidade da base partidária que me acompanha no Legislativo". O cidadão entre atento e estarrecido, segue de longe as negociações. Antes e depois de cada votação. Só não pode interferir, apesar de todos dependerem do seu voto.

Apesar de só ter mandado para o Legislativo apenas projetos que favorecem os ricos e prejudicam os pobres, Temer tem recolhido dissabores e derrotas. Ou então, é obrigado a aumentar o chamado "troca-troca". E aumentar a recompensa antecipadamente combinada. Agora, deputados e senadores sentem seus interesses e poderes pessoais ameaçados. Temer não sabe o que fazer, joga tudo para depois de fevereiro quando se renova (?) o comando da Câmara e do Senado.

RENAN TUMULTUA A ELEIÇÃO NO SENADO

Excluído o candidato a presidente, que articula e negocia sua própria eleição, são mais 10 cargos na Mesa da Câmara e do Senado. Todos importantes, sem qualquer intervenção do Planalto. Vice-presidente, Primeiro Secretario, disputadíssimo, é tido e havido como o "prefeito" da Casa.  4 secretários e mais 4 suplentes. Muitos candidatos. Alguns inarredáveis.

Até á véspera do Natal, um candidato certo e acertado: Eunício Oliveira. Acontece que Renan Calheiros na ânsia desesperada de ficar sem cargos e sem protagonismo, lançou a candidatura de Romero Jucá, para enfrentar o amigo Eunício Oliveira. A declaração de Eunício, "não serei presidente de confronto", agradou Jucá. 

Que imediatamente afirmou: "Não sou candidato, apoiarei Eunício". Renan ficou aturdido, tenta um cargo menor. Depois de ter procurado Temer, e ouvido a resposta: "Não intervirei na eleição do Senado ou da Câmara". A afirmação é apenas metade verdadeira.

Curiosidade exclusiva em relação ao Senado. No jogo de expectativas surgiu mais um nome, de Eduardo Braga, ex-governador, ex-ministro, senador. Aceita ser vice ou Primeiro Secretario, sem nenhuma chance. Como o presidente será do PMDB, nenhum outro peemedebista terá cargo.

Espantoso, assombroso e estarrecedor: nessa divisão, são negociados cargos na Mesa, para Primeiro de Fevereiro de 2019. Renan quer voltar á presidência, Jucá, que já foi tudo, menos presidente, pretende o cargo. Acontece que os mandatos de Renan, Eunício, Braga e Jucá, terminam em 2018. Precisam se reeleger. Renan foi expulso da presidência em 2007, reeleito em 2010, novamente presidente em 2015. O Senado não tem memória.

NA CÂMARA, A QUESTÃO É DIFERENTE

Antes da Lava-Jato, senador era mais importante ou prestigiado do que deputado. Agora todos são iguais, depende do numero de indicações, ou até que seja RÉU, como Renan. O presidente da Câmara tem o Poder de pedir o impeachment do Presidente da Republica, como aconteceu com Dona Dilma, favorecendo Michel Temer.

Agora, o presidente da Câmara, tem uma nova sedução tentação: substitui o presidente da Republica, nos seus impedimentos circunstanciais, ou viagens ocasionais. Teoricamente, essa substituição vale até 2018. Mas existem pelo menos três hipóteses, em que a substituição acaba muito antes.

Rodrigo Maia, numa emergência surpreendente, foi eleito. O cargo é tão suntuoso e pródigo, em matéria de futuro, que Maia quer a reeleição. Três juristas, dizem que "não ha reeleição". Outros três defendem o contrário. Rogerio Rosso, derrotado em setembro, é novamente candidato, atacando frontalmente Maia. E garante: "Se eu perder, a eleição será JUDICIALIZADA". O que significa que contestará o mandato de Maia, "até o fim". Ou abrevie "esse fim", trocando, a briga por um ministério. Nada surpreendente.