Domingo, 7 de maio de 2017
Da Tribuna da Internet
Deu na IstoÉ
Diego Escosteguy
No fim da tarde de uma segunda-feira recente, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva subiu ao palco de um evento organizado pelo PT em
Brasília. Empunhou sua melhor arma: o microfone. Disse que há três anos
ouve acusações sem o direito de se defender, como se não tivesse
advogados. “Eu acho que está chegando a hora de parar com o falatório e
mostrar prova. Eu acho que está chegando a hora em que a prova tem de
aparecer em cima do papel”, disse, alterado.
Lula repetia, mais uma vez, sua tática diante dos casos em que é réu:
sempre negar e nunca se explicar. E prosseguiu: “Eu quero que eles
mostrem R$ 1 numa conta minha fora desse país ou indevida. Não precisa
falar que me deu 100 milhão, 500 milhão, 800 milhão… Prove um. Não estou
pedindo dois. Um desvio de conduta quando eu era presidente ou depois
da Presidência”. Encerrou o discurso aplaudido, aos gritos de “Brasil
urgente, Lula presidente!”.
CRIMES DIVERSOS – Há, sim, provas abundantes contra
Lula, espalhadas em investigações que correm em Brasília e em Curitiba.
Estão em processos no Supremo Tribunal Federal, em duas Varas da Justiça
Federal em Brasília e na 13ª Vara Federal em Curitiba, aos cuidados do
juiz Sergio Moro. Envolvem uma ampla e formidável gama de crimes:
corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, crime contra a
Administração Pública, fraude em licitações, cartel, tráfico de
influência e obstrução da Justiça.
O Ministério Público Federal, a Polícia Federal, além de órgãos como a
Receita e o Tribunal de Contas da União, com a ajuda prestimosa de
investigadores suíços e americanos, produziram, desde o começo da Lava
Jato, terabytes de evidências que implicam direta e indiretamente Lula
no cometimento de crimes graves.
DIANTE DE MORO – A estratégia de Lula é clara e
simples. Transformar processos jurídicos em campanhas políticas – e
transformar procuradores, policiais e juízes em atores políticos
desejosos de abater o maior líder popular do país. Lula não discute as
provas, os fatos ou as questões jurídicas dos crimes que lhe são
imputados. Discute narrativas e movimentos políticos.
Nesta quarta-feira, dia 10, quando estiver diante de Moro pela
primeira vez, depondo no processo em que é réu por corrupção e lavagem
de dinheiro, acusado de receber propina da OAS por meio do tríplex em
Guarujá, Lula tentará converter um ato processual (um depoimento) num
ato político (um comício).
Se não conseguir desviar a atenção, saindo pela tangente política,
Lula terá imensa dificuldade para lidar com as provas – sim, com elas.
PROVAS ABUNDANTES – Nesses processos e em algumas
investigações ainda iniciais, todos robustecidos pela recente delação da
Odebrecht, existem, por baixo, cerca de 3 mil evidências contra Lula.
Elas foram analisadas por Época. Algumas provas são fracas –
palavrórios, diria Lula. Mas a vasta maioria corrobora ou comprova os
crimes imputados ao petista pelos procuradores. Dito de outro modo:
existe “prova em cima de papel” à beça.
Há, como o leitor pode imaginar, toda sorte de evidência: extratos
bancários, documentos fiscais, comprovantes de pagamento no Brasil e no
exterior, contratos fajutos, notas fiscais frias, e-mails, trocas de
mensagens, planilhas, vídeos, fotos, registros de encontros
clandestinos, depoimentos incriminadores da maioria dos empresários que
pagavam Lula. E isso até o momento. As investigações prosseguem em
variadas direções.
MAIS DELAÇÕES – Aguardem-se, apesar de alguns
percalços, delações de homens próximos a Lula, como Antonio Palocci e
Léo Pinheiro, da OAS. Renato Duque, ex-executivo da Petrobras, deu um
depoimento na sexta-feira, dia 5, em que afirma que Lula demonstrava
conhecer profundamente os esquemas do petrolão. Existem outras
colaborações decisivas em estágio inicial de negociação. Envolvem crimes
no BNDES, na Sete Brasil e nos fundos de pensão. Haja prova em cima de
papel.
Coletivamente, organizadas em função do que pretendem provar, são
destruidoras; em alguns casos, aparentemente irrefutáveis. Nesses, podem
ser suficientes para afastar qualquer dúvida razoável e, portanto,
convencer juízes a condenar Lula por crimes cometidos, sempre se
respeitando o direito ao contraditório e à ampla defesa – e ao direito a
recorrer de possíveis condenações, como qualquer brasileiro. Não é
possível saber o desfecho de nenhum desses processos.
Ainda assim, os milhares de fatos presentes neles, na forma de provas
judiciais, revelam um Lula bem diferente daquele que encanta ao
microfone.