Quarta, 27 de junho de 2018
Por
Hélio Fernandes*
Matéria publicada originalmente em
janeiro de 2015
As descobertas que tem feito as
confissões surpreendentes, ultrajantes e repelentes, vieram pelo menos com 29
anos de atraso. A partir de 1985, a
transição operada pelos próprios generais, depois de terem perdido a
“prorrogação criminosa e cruel, do 1º de Maio de 1981”.
Embora aparições satisfatórias mas
revoltantes estejam surgindo todos os dias ou oportunidades, ressuscitam apenas
coadjuvantes. Os todos poderosos
generais que chegaram a “presidentes”, se a investigação tivesse começado na
hora certa, teriam morrido numa cela estreita, apesar de não sofrerem tortura.
Com esse tempo desperdiçado, os
quase todos coronéis, que estão depondo, jogam a culpa nesses generais
“presidentes”, com a justificativa falsa e mentirosa: “Cumpríamos ordens”.
Durante essas verdadeiras décadas de “chumbo”, milhares de oficiais
sacrificaram as carreiras, foram para a reserva, por não concordarem com golpes
e torturas.
Dois Exércitos diferentes
Este titulo é rigorosamente
verdadeiro. Quando o governador Carlos
Lacerda aderiu à Frente Ampla (que começou na minha casa) e recusou não o prêmio
mas a tentativa de afastá-lo enviando-o como Embaixador na ONU (cargo para qual
estava totalmente capacitado) resolveram eliminá-lo.
Deram ordens ao então coronel
Boaventura Cavalcanti para promover o seu assassinato quando ia inaugurar obras
no Hospital Miguel Couto. Grande figura, falando vários idiomas, ex-Adido
Militar na ONU, comandante do Batalhão de paraquedistas, recusou.
O general Alfredo Pinheiro, que o
procurou, replicou: “Isto é uma ordem”. E Boaventura: “O senhor não pode
utilizar a hierarquia para determinar assassinato”. Sua carreira acabou, foi
passado para a reserva junto com outros brilhantes oficiais não golpistas.
A prisão dos 11 do Pasquim
Em 1970, no mesmo ano em que
torturaram e assassinaram Rubens Paiva, decidiram prender a cúpula do Pasquim. Era
impossível resistir ou conviver com aquela critica inacreditável e
avassaladora. Mas não sabiam o que fazer. Sabiam que qualquer repressão teria
enorme repercussão.
Decidiram então prendê-los e
enviá-los para a Vila Militar, já era outro Exército, 11 foram mandados para
lá, ficaram 60 dias. Geralmente as vezes por semana o comandante ficava no
quartel, fazia um rodízio de convidados para jantar.
Era 12, só 11 foram presos
No seu estilo habitual, Millor que
foi o idealizador do Pasquim, uma espécie de continuação da sua revista
“Pif-Paf”, que só circulou 8 números antes de ser fechada, afirmou: “eu não vou
preso, sou apenas jornalista”. Se me prenderem, terão que me soltar algum dia.
Ai então, irei para o exterior, e farei a maior campanha contra esse regime
ditatorial”.
Como eram covardes, assassinos e
insensatos, deixaram o Millor em liberdade. Ele não saiu do país, ficou
trabalhando como sempre. Estas comparações mostram que o golpe que a princípio
tentaram impor como Revolução, dividiu o Exército. Só que a parte assassina,
armada e convencida de que só manteria o Poder, assassinando depois da tortura,
dominou o tempo inteiro.
A Comissão da verdade em 1979 ou mesmo 1985
Todos os maiores assassinos que
maculara a farda e a reputação do Exército, teriam sido responsabilizados.
Então o fato mais visível e que seria reconhecido pela História, seria a
comparação entre o comportamento dos civis torturados e os assassinos e os
mandantes desses crimes cruéis.
Golbery, Castelo Branco, Costa e
Silva, Médici, Ernesto Geisel, Figueiredo e Otávio Medeiros que chegaram ou
chegariam a “presidentes”, iriam delatar os companheiros e implorara, com a
confissão: “Fui obrigado a tudo isso”. E essas humilhações, com as lágrimas dos
canalhas.
*Do Blog
Oficial do Jornal da Tribuna da Imprensa.
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