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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Governo fomenta desemprego desviando recursos da indústria naval

Terça, 30 de novembro de 2021

Verba do Fundo de Marinha Mercante foi usada para amortizar dívida pública.
30 De Novembro De 2021

Enquanto os trabalhadores buscam um emprego — são 13,5 milhões de desocupados e 30,7 milhões que trabalham menos do que poderiam — o Governo Bolsonaro eliminou R$ 23,9 bilhões do superávit acumulado do Fundo de Marinha Mercante (FMM) para amortização da dívida pública, recursos que poderiam ser utilizados para a retomada da indústria naval.

A falta de política industrial — muitos citam desprezo do governo pelo setor, que só tem olhos para o agronegócio — se reflete na queda dos desembolsos feitos pelo FMM. Os financiamentos caíram de R$ 4,87 bilhões (2015) para R$ 354,5 milhões (2020); em 2021, apenas R$ 97 milhões foram gastos até agora.

Não é por falta de recursos, que aumentaram de R$ 3,8 bilhões em 2012 e para R$ 8,5 bilhões em 2020 e R$ 6,6 bilhões em 2021.

Em 2011, foram desembolsados 81% dos recursos recebidos. No ano seguinte, o percentual passou para 108,8% e atingiu 114,8% em 2013. De lá para cá, a fatia foi minguando: 89,6% (2014), 95,3% (2015), 49,2% (2016), 49,7% (2017), 34,4% (2018), 26,7% (2019), 4,5% (2020) e 1,46% (2021). Entre 2011 e 2021, o FMM recebeu R$ 61,4 bilhões e desembolsou R$ 30,4 bilhões. Foram 783 projetos contratados no período, 762 (97,3%) concluídos.

A retomada da indústria naval e da cadeia de fornecedores depende de políticas governamentais, como ocorre em todos os países que têm presença importante no segmento. Foi assim que o Brasil superou os 80 mil empregos diretos e entregou centenas de embarcações e plataformas nos primeiros 15 anos do século.

O apoio foi substituído por uma política de importação que mira apenas o preço, mas ignora os ganhos — ou, no caso, perdas — para a economia nacional. Uma plataforma comprada na Ásia pode custar até 30% menos que uma produzida no Brasil. Porém com os ganhos econômicos — empregos diretos e indiretos, movimentação da economia, redução de despesas sociais — o equipamento feito aqui fica entre 10% e 12% mais vantajoso.

Com o BR do Mar — projeto enviado pelo governo e aprovado no Senado — a situação pode piorar, com permissão para importação de navios já descartados por países mais desenvolvidos, verdadeiras sucatas marítimas.

Diretor de Redação do Monitor Mercantil