Tribuna da Imprensa
Helio Fernandes
Sem qualquer dúvida,
de Dona Dilma. Não pelo fato dela ser presidente, tudo acaba sendo de sua
autoria. No caso da Petrobras usou seu famoso e nunca desmentido poder de
mistificação. Começou quando tentou elevar ou transformar em realidade seus
níveis universitários, foi insistindo, depois de 21 anos no PDT sem intimidade
política com Brizola, convenceu Lula, "sempre fui petista".
E conseguiu chegar a
dois ministérios importantes e depois mais dois como presidente da República.
Levando Dona Suplicy ao desespero acreditava que depois do Lula, mulher para
sucedê-lo seria ela.
Mas no episódio da
substituição de Dona Graça bateu seus próprios recordes de mistificação, levando
até mesmo um razoável jornalista a chamá-la de "guerrilheira que enfrentou
a ditadura". Desinformação, análise completamente equivocada e até mesmo
desprezo e desapreço pela própria reputação jornalística.
Desde o inicio, Dilma
tinha o objetivo: escolher alguém que tivesse as credenciais e as
características, (falta de) um personagem como Bendine. Não precisava
obrigatoriamente ser ele, tem à disposição muitos iguais, servos, submissos,
subservientes.
Jogou matreiramente
(a palavra não é elogiosa) com diversas situações. Organizou lista com vários
nomes, Bendine não aparecia em nenhuma, ninguém, percebeu pois sua indicação
era tão estapafúrdia, extravagante e troglodita, que seria logo queimado.
Tentando passar a
impressão de que não encontrava um nome para essa verdadeira missão, foi
estimulando versões e dispersões. Quando Mercadante mercadejava o nome do
presidente da Vale, estimulou-o.
Como o Chefe da Casa
Civil é um apaixonado por si mesmo, acreditou, não deixou Murilo Ferreira sair
de Brasília, informou: “Você será o presidente da Petrobras. Já falei com a
presidentA”. Não era um bom candidato, não foi presidente, jamais cogitado.
Na sua lembrança,
sempre o Ministro Levy. Obrigada a nomeá-lo, não sendo da intimidade e até
mesmo representando ideias “que considera diferentes”, não esquece dele.
Chamou-o ao Planalto, ”Delegou” poderes para que encontrasse “um nome para a
Petrobras”. Mas não se afastou um milímetro do seu plano, e da certeza de que
ninguém descobriria o que estava tentando concretizar.
Quando chamou Dona
Graça ao Planalto na terça-feira (3) e “combinou” que ela ficaria até o fim do
mês, exultou. Teria quase 30 dias para burilar, (não confundir com o
respeitadíssimo blindar) o nome.
Aí já colocara
Bendine na frente, mas não como prioridade absoluta. Raciocinou, exercício que
não pratica com assiduidade: “Tenho um mês, posso analisar muitos nomes”.
Mas na manhã da
quarta-feira (4) quando Dona Graça praticou a “traição da renúncia”, (é assim
que identifica o ato da ex-amiga) teve pressa, apenas 48 horas para colocar
Bendine na rua (e nas manchetes e holofotes), mesmo com as descredenciais dele,
que conhecia da vida toda.
Revelado o nome,
vibrou. Vitória completa, nem Lula sabia de nada, afinal ela e ele sempre
retumbaram desde o mensalão, querem repetir no Petrolão: “Não sabia de nada”. O
segundo Joaquim que “procurava um nome no mercado”, quando soube, caiu
“prostituído” no chão (O talento de misturar e decifrar as palavras
“prostituído” e “prostrado” é do Millor, mas serve inequivocamente para o
episódio).
Levy devia pedir
demissão imediatamente, como poderia ter acontecido com Nelson Barbosa 48 horas
depois de SAIR do governo. Mas ambos adoram muito a posição que ocupam. E se
pedissem, demissão a e a presidentA aceitasse?
Esses são os fatos,
rigorosamente verdadeiros. As conclusões, só dentro de algum tempo. Não se pode
“bondinizar” uma empresa como a Petrobras, esperando ou admitindo que isso
acabara pelo menos com nove anos de omissão ou cumplicidade.
Lava-jato
assusta Executivo e Legislativo
Provoca também pânico
e imobilismo. Dona Dilma tem que nomear ministros provisórios ou temporários.
Os permanentes podem estar indicados e por tanto teriam que ser desalojados. Os
citados chegam a uma centena, ser ou não ser, nada a ver com Shakespeare e sim
com a profundidade da investigação. Conclusão: esperar. Mas até quando?
O legislativo com o
mesmo "sofrimento". Sem falar que a Lava-jato colocou em suspenso a
eleição do presidente da Câmara e do Senado, surgiu essa nova CPI da Petrobras.
Essa CPI não atingirá ninguém, referendará a impunidade geral. Corruptos e
corruptores vibraram com a formação da CPI, era tudo que pediam a Deus,
corruptos e corruptores são sempre muito católicos.
Mas dois pontos ou
fatos elevaram a angustia e ansiedade de Brasília. 1- Precisam nomear 27
deputados para que a CPI possa funcionar. Mas como "descobrir" 27
"colegas" que estejam limpos e imunes? 2- O Procurador Geral da
Republica, ha 48 horas em Washington e Nova Iorque, está cumprindo agenda
relevante com órgãos especializados em culpabilizar corruptos. E quer descobrir
em bancos os mais diversos, (incluídos os da Suíça) depósitos provenientes do
roubo da Petrobras.
Conclusão de membros
do Executivo e Legislativo: ele não aparecerá ao Supremo, parecer meramente
formal.
Delfin
neto, o inepto
Declaração dele,
ontem, sobre o novo presidente da Petrobras: "Bendine é bem capaz de sanar
as contas da Petrobras". SANAR? Que verbo é esse que o senhor suficiente
para recuperar prejuízos de no mínimo 88 BILHÕES? Sem contar o que representa o
desperdício da empresa, a falta de investimento, o volume macro de corrupção,
irrecuperável?
Delfin não é um
iniciante, disse o que disse para ficar sempre a favor. Em 1972, poderoso
Ministro da Fazenda da ditadura, amicíssimo do também Ministro Andreazza, que
construía a Ponte Rio-Niterói Arranjou dinheiro para ele a juros de 14 por
cento, quando o mercado oferecia facilidades a 2 ou 3 por cento. Nossa Senhora.
A propósito: o
comportamento das ações da Petrobras, ontem, rigorosamente normal e aceitável.
Até 12 horas, queda de 1% cravado. Parando para o almoço às 13, zero a zero.
Alguma oscilação ligeira, fechou assim: ordinárias mais 1,88, preferenciais
mais 1,75. Movimentaram 1 bilhão 200 milhões, um quinto de todos os negócios.
Compreensível e aceitável.
TeleviSAmento
e não televiSIOnamento
Mestre em direito
pela Universidade de Harvard, notável. Doutor em educação pela Universidade de
Genebra, parabéns. Professor da Fundação Getúlio Vargas, elogios. Mas
escrevendo em português, decepção. Falo do mestre Joaquim Falcão, que em artigo
na Folha pediu o televiSIOnamento (como está no título) das sessões do Supremo.
Não foi por acaso ou
distração que o mestre renomado e respeitado abandonou a origem da palavra para
afirmar e confirmar a sua consequência. Joaquim Falcão queria pedir que todas
as sessões do Supremo fossem transmitidas pela televisão, como aconteceu com o
mensalão.
Nenhuma duvida pela
palavra usada, se ele estivesse pedindo que as sessões fossem transmitidas pela
TELEVISION. Mas como o órgão utilizado para informar a coletividade se chama
TELEVISÃO, nenhuma duvida.
É preciso conceder as
palavras o mesmo respeito que o mestre merece nas suas especialidades. E ele
cita TELEVISIONAMENTO, no artigo, oito vezes, além da abertura, no título.
Em 1974, a Argentina
já escolhida como sede da Copa do Mundo de 1978, a FIFA descobriu que a
televisão de lá era unicamente em preto e branco. Mandou um oficio em espanhol,
exigindo “que pelo menos para o exterior houvesse TELEVISiON (sic) a cores”.