Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 13 de setembro de 2009

Cine Itapoã pode ser salvo


Foto antiga: Taciano

Mobilização é necessária para salvar o Cine Itapuã

No dia 7 de setembro comentamos aqui reportagem do mesmo dia do Correio Braziliense sobre o lamentável estado em que se encontra o Centro Cultural Itapoã, na cidade do Gama/DF. Completamente abandonado há mais de dois anos, o espaço que já foi ponto da cultura e de eventos importantes da cidade, continua a não merecer uma mínima atenção das autoridades do GDF.

Houve tempo em que filmes eram lançados primeiro no Cine Itapoã e só depois exibidos em salas do Plano Piloto. Era de fato vanguarda na área do cinema de Brasília. O espaço era também usado em eventos e solenidades como formaturas de escolas e palestras importantes. Hoje o Gama não conta com sala de cinema, pois as duas que havia no shopping da cidade também foram desativadas e o espaço terá outra finalidade.

Apesar desse drama real, o Gama poderia ter resgatado o Centro Cultural Itapoã já a partir de agosto do ano passado. É que projeto de lei daquele mês prevê que o Centro Cultural Itapoã, situado na Praça 01, do Setor Leste do Gama, seja declarado “Patrimônio arquitetônico, afetivo e cultural do Distrito Federal”. Acontece que o projeto não anda, está empacado na Câmara Legislativa do DF. Ainda não foi transformado em lei, o que resgataria coisa tão cara ao Gama e à cultura.

Autuado no dia 6 de agosto de 2009, o projeto de lei foi encaminhado à Comissão de Assuntos Sociais para exame e parecer e poderia receber emendas durante o prazo de 10 dias úteis. Nesse período nenhum deputado apresentou emenda. Em primeiro de setembro o deputado Milton Barbosa foi designado relator da matéria e devolveu o projeto em 31 de outubro com parecer favorável ao projeto de lei, estando pronto, por tanto, para ser votado na Comissão de Assuntos Sociais.

Acontece que no dia 5 de novembro de 2008, o deputado Wilson Lima pediu vista do projeto. Quando se pede vista de um projeto a intenção real deve ser uma melhor análise da matéria e, se achar conveniente, um voto em separado.  Quase dois meses depois, em 29 de dezembro de 2008, é que o deputado fez a devolução do pedido de vista. E, por estranho que pareça, sem voto em separado.  Já que teve alguns meses para analisar a matéria e não o fez, soa estranho, muito estranho, seu novo pedido de vista, coisa que veio acontecer só no mês de junho deste ano de 2009, portanto sete meses depois do primeiro pedido.

A comunidade do Gama em geral, e em especial a ligada ao movimento cultural da cidade, não sabem a que serve essa morosidade do deputado em analisar e, se quiser, propor algum voto em separado ao projeto. Enquanto o deputado senta no projeto, a comunidade continua sem o seu espaço cultural, que sofre deterioração a cada dia.

O projeto de lei número 923/2008 foi apresentado pelo deputado Cristiano Araújo no dia 7 de julho do ano passado. A comunidade do Gama espera e exige que o projeto tenha rápido prosseguimento, para que os prejuízos à cidade não se estendam por mais tempo.

O Cine Itapoã foi inaugurado em 28 de março de 1961 pela Empresa Cinematográfica Paulo Sá Pinto, um homem de vanguarda na área de cinema no Brasil. O espaço foi por décadas a melhor opção de lazer e entretenimento para a população do Gama. Em 1986 o governo do DF comprou o cinema, e abriu também uma linha de crédito subsidiado do Banco de Brasília para permitir que os comerciantes instalados nas lojas laterais ao prédio do cinema adquirissem as lojas que ocupavam.

O GDF comprou o cinema e financiou os lojistas em razão da pressão exercida pela comunidade do Gama, em especial a comunidade ligada à cultura, e mais especialmente o grupo integrado pelo Cineclube Porta Aberta, que não queriam perder o espaço para um mercado das Casas da Banha. Faltou pouco na época para o espaço ser vendido para esse grupo empresarial.

O Cinema Itapoã, que vinha apresentando sintomas de decadência, foi assim recuperado pela decisão do governador da época, José Aparecido de Oliveira, sendo reinaugurado em 1988, passando a ser administrado pelo Cineclube Porta Aberto. A partir daí houve uma retomada da programação cinematográfica, voltando a comunidade do Gama a ser brindada pela exibição de excelentes filmes. Filmes de artes passaram a ser exibidos e o cinema passou inclusive a ser co-produtor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Ao final da justificativa do Projeto de Lei nº 923/2008 o deputado Cristiano Araújo escreve:

“É urgente assegurar ao Cine Itapoã a declaração de patrimônio arquitetônico, afetivo e cultural do Distrito Federal, caso contrário teremos a sua completa destruição e antes que isso ocorra, socorremos então o nosso estimado cinema, concedendo-lhe a referida declaração, que, bem sabemos, representará uma nova etapa na sua história, visto que a presente propositura prevê que o GDF encaminhará as medidas necessárias a fim de preservar as características originais de sua arquitetura e fará constar na Lei Orçamentária Anual recursos destinados a sua preservação e manutenção.”

Abaixo os artigos do Projeto de Lei nº 923/2008:

Art. 1º Fica o prédio do Centro Cultural Itapoã, situado na Praça 01, Cine 01, do Setor Leste do Gama, Região Administrativa II, declarado patrimônio arquitetônico, afetivo e cultural do Distrito Federal.
Art. 2º Considera-se de excepcional valor artístico o prédio do Centro Cultural Itapoã e sua conservação de relevante interesse público.
Art. 3º O Poder Público encaminhará as medidas necessárias a fim preservar as características originais da arquitetura do prédio do Centro Cultural Itapoã, também conhecido popularmente pelo nome de Cine Itapoã.
Art. 4º Serão assegurados na Lei Orçamentária Anual os recursos destinados à preservação e manutenção do Centro Cultural Itapoã.
Art. 5º A presente Lei será regulamentada pelo Poder Executivo no prazo de 90 (noventa) dias, contados da data de sua publicação.
Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.