Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

PIB cresce, mas quem ganha são os rentistas

Quarta, 9 de junho de 2010
Ontem (8/6) no site Auditoria Cidadã da Dívida

Os jornais de hoje difundem o crescimento de 9% do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre de 2010, em comparação ao mesmo período de 2009, o que poderia sugerir uma grande melhoria na condição de vida da população. Ou seja, a atual política econômica estaria correta, mesmo destinando a maior parcela do orçamento para o pagamento da dívida.

Porém, quando analisamos a renda média recebida pelos trabalhadores , vemos que ela subiu somente 2,3% no primeiro trimestre, também em comparação ao mesmo trimestre de 2009. Em comparação a março de 2002 (primeiro ano da série histórica da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE), a renda média do trabalho está praticamente estagnada, tendo subido apenas 5,7% nestes 8 anos.

Ou seja: nunca é demais lembrar que a renda nacional se subdivide entre a renda dos trabalhadores e a renda dos proprietários, ou seja, empresários e rentistas. Em 2009, o percentual detido pelos trabalhadores, de 43,6% ainda era bem menor que os 50% de 1980 (Fonte: Comunicado nº 47 do IPEA, pág 4).

Portanto, não é o mero aumento do PIB que fará os trabalhadores aumentarem sua renda, mas sim, a distribuição da riqueza nacional, atualmente concentrada na mão de poucos, especialmente os rentistas. 

Além do mais, o crescimento do PIB é constantemente citado pelo Banco Central, bancos e grande imprensa como argumento para o aumento das taxas de juros, sob a justificativa de que a economia estaria superaquecida, e podendo gerar inflação. Também nunca é demais lembrar que aumentos nos juros contribuem para transferir mais dinheiro dos trabalhadores para os rentistas.

O crescimento do PIB e da arrecadação tributária também tem sido utilizado pela equipe econômica para justificar um aumento do superávit primário e o estabelecimento de um limite para as “despesas correntes primárias”, ou seja, gastos sociais. O jornal Correio Braziliense noticia que a “Equipe econômica quer elevar superavit no orçamento para convencer mercado de que a candidata petista é responsável. (...) Se tudo correr como planejado, essas medidas serão anunciadas até setembro, às vésperas da eleição, como forma de implodir qualquer resquício de preocupação do mercado financeiro em relação ao compromisso petista com o ajuste fiscal.”

Em suma: o PIB cresce, mas quem se beneficia são os rentistas.

A Alemanha também anunciou cortes de gastos para comprar a confiança dos mercados, conforme mostra o Valor Econômico. Serão cortados 15 mil empregos públicos e criados novos tributos. A única medida positiva - a criação de uma taxa sobre transações financeiras para toda a Europa, para financiar o custo de crises econômicas - é improvável de ser aprovada pela União Européia. A proposta alemã inclui taxar até mesmo transações informatizadas com ações e derivativos, o que é altamente positivo, porém, é muito difícil de ser aprovada.

Os pacotes de corte de gastos e de retirada de direitos trabalhistas na Europa tem sido estimulados pelo FMI, conforme mostra outra notícia do Valor Econômico. Diz o Fundo: "O atraso em abordar a consolidação fiscal pode deteriorar ainda mais a confiança dos mercados na sustentabilidade fiscal de alguns Estados-membros e provocar uma depreciação ainda maior do euro". O FMI ainda recomenda aumentar “a flexibilização dos salários”.

Ou seja: depois de permitir que os governos se endividassem até o pescoço para salvar o setor financeiro, o FMI ainda tem coragem de recomendar o corte de gastos sociais para o pagamento desta dívida ilegítima.