Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 3 de julho de 2010

A batalha das pesquisas

Sábado, 3 de junho de 2010 
Por Ivan de Carvalho

    O feriado baiano do 2 de Julho acabou sendo bastante movimentado no Brasil, o que não significa que haja sido feliz. A dose forte de infelicidade e tristeza veio, naturalmente, com a eliminação de nossa seleção de futebol da Copa do Mundo, em um jogo em que a mãe do juiz oriental deve ter pago pelos muitos pecados que não cometeu. Mas não sou comentarista esportivo. Portanto, deixo a jabulani e suas adjacências para outros mais habilitados.
    Fico com o outro fato de impacto, que se restringe a um público menor, pois não inclui pessoas com menos de 16 anos de idade e pode excluir, a depender delas, as que já têm mais de 70 anos. Entre os 16 e os 70 anos ficam os cidadãos e cidadãs que compõem o corpo eleitoral do Brasil e são os responsáveis, em última análise, pelo exercício do regime democrático no país.
    O fato de impacto diz respeito a pesquisas eleitorais. Existem no Brasil quatro institutos considerados de maior credibilidade e de maior fama quando se trata desse tipo de sondagem de opinião pública. Pela ordem de fama são o Ibope, o Datafolha, o Vox Populi e o Sensus. Pela ordem de credibilidade no meio político e nos meios midiáticos, são o Datafolha, o Ibope e o Vox Populi no mesmo patamar, e finalmente o Instituto Sensus. (Não estou incluindo institutos menores e menos conhecidos, mas importantes, nessa avaliação) A credibilidade maior atribuída ao Datafolha não é propriamente técnica, mas devida ao fato de que não aceita trabalhar para partidos, para campanhas de políticos nem para governos interessados em conhecer situações eleitorais.
    Mas o que me levou a essas classificações, que, evidentemente, podem ser contestadas ou rejeitadas legitimamente por qualquer cidadão? Bem, é que muito recentemente o Ibope indicou, em sua última pesquisa eleitoral, uma, digamos, espetacular virada, invertendo as duas primeiras posições em suas pesquisas – o tucano (oposicionista) José Serra, que estava sempre na frente, passou para segundo lugar com 35 por cento das intenções de voto e a petista (governista) Dilma Rousseff atingiu pela primeira vez no Ibope a liderança, com 40 por cento. Aí vem o Vox Populi e confirma o Ibope com absoluta precisão – Dilma, 40 e Serra, 35.
    E então vem o Datafolha e faz de conta que não leu nem ouviu os resultados obtidos pelo Ibope e Vox Populi. Com todos os candidatos a presidente já oficializados pelas convenções, o Datafolha sai à coleta de dados e encontra os seguintes resultados: O oposicionista José Serra lidera com 39 por cento das intenções de voto, a governista Dilma Rousseff pisa nos calcanhares dele, com 38 por cento (o que é chamado de “empate técnico”, mas é bem diferente dos cinco pontos de vantagem que ela ganhou do Ibope e do Vox Populi). Marina Silva, do PV, ultrapassa no Datafolha a barreira dos oito e nove pontos e atinge os dez por cento das intenções de voto.
     Apesar disso, quando o eleitor é questionado sobre a expectativa de vitória, 43 por cento acham que Dilma vencerá e 33 por cento acreditam na vitória de Serra. Seria capaz de apostar que essa impressão dos entrevistados decorre de resultados das pesquisas Ibope, Vox Populi e, um pouco mais atrás, do Sensus. As pesquisas eleitorais são um fator de imensa importância na definição das eleições no Brasil há muito tempo, apesar de alguns episódios surpreendentes, como na eleição do governador Jaques Wagner em 2006.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.