Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pinheiro e eleições de 2014

Sexta, 30 de julho de 2010 
Por Ivan de Carvalho

    Era só o que faltava, ou talvez nem faltasse, apenas agora se apresentou o fenômeno de forma mais pública e ostensiva. Já temos pelo menos um candidato – ou, vá lá, aspirante – a prefeito de Salvador em 2012 e a governador em 2014. O que der – ou as duas coisas, se der.
    Vale aqui uma brevíssima memória. O governador Jaques Wagner foi fundamental para que o deputado e candidato a senador Walter Pinheiro conseguisse vencer dentro do PT o deputado Nelson Pelegrino e se firmasse como candidato a prefeito de Salvador em 2008.
Pinheiro tem recebido do governador um tratamento político e partidário privilegiadíssimo, pelo menos desde a escolha do candidato petista a prefeito da capital no ano citado. Derrotado pelo peemedebista João Henrique nas eleições de 2008, Pinheiro, embora mantivesse seu mandato de deputado federal, foi nomeado secretário estadual do Planejamento.
Logo se levantou a hipótese de que isto significaria uma preparação para que Pinheiro integrasse a chapa majoritária liderada por Wagner neste ano de 2010. Como um dos candidatos a senador. Mas o governador, na ocasião, fez pouco caso da hipótese, pois tinha a idéia de que compor uma base partidário-eleitoral de uma maneira em que o único petista na chapa de candidatos às eleições majoritárias seria ele próprio, Jaques Wagner, buscando a reeleição.
E, para completar, Wagner comentou ter a impressão – ou coisa semelhante – de que “o projeto” de Walter Pinheiro passaria “por 2012”, vale dizer, por uma nova candidatura a prefeito da capital. Isto nunca foi desdito pelo governador nem descartado pelo deputado Walter Pinheiro. Mas este já deixou claro que pretende mais. Admitiu, há poucos dias, ser candidato à eleição de governador em 2014. De preferência, claro, se for eleito senador, pois, se perder agora, a candidatura ao governo não se torna impossível, mas será bem difícil, já que seriam duas derrotas seguidas a superar politicamente – uma para a prefeitura, em 2008 e outra para o Senado, em 2010.
Ao admitir que poderá ser candidato a governador em 2014, Pinheiro certamente está sendo sincero quanto ao seu desejo, mas não só isto. Ao proclamar a possibilidade, ganha peso político na campanha para o Senado, atraindo gente que aposta no futuro. Nesta linha, estará reforçando agora sua candidatura a senador com o, por enquanto, digamos, factóide, da candidatura a governador. O que é factóide hoje pode até ser fato amanhã, vale ressalvar.
No entanto, quando lança a hipótese da candidatura às eleições de 2014 para governador, Pinheiro também atrai um ônus para sua atual campanha. Todos os que têm pretensões a conquistar o governo em 2014 passam a considerá-lo um adversário desde já e isso pode acarretar influência negativa na campanha para senador.
Ademais, cria uma situação algo incômoda para o governador Wagner. Outros aspirantes na sua área de influência – a governista – podem não se sentir motivados a “vestir a camisa” do concorrente interno, na atual campanha. E ciumeiras também podem surgir. Creio ter sido levando em conta essas coisas que Wagner apressou-se a dizer que sua agenda atual não inclui 2012 nem 2014, mas apenas as eleições de 2010.
Mas terá Walter Pinheiro avançado tanto o sinal por conta própria? Pode ser. Mas nada impede que ele e o governador estejam executando uma manobra política conjunta, da qual fariam parte as declarações de ambos. Cada um no seu papel.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.